18 de dezembro de 2011

Outra coisa - I

Tem noites que o meu coracao faz uma pequena fogueira e me esquenta. Especialmente naquelas noites extremamente glaciais no mundo exterior. Tem dias, meu caro, que eu fecho os olhos e deixo ele queimar. Usar como combustivel tudo que eu nao quero precisar mais. Ficar perto do fogo doi, queimar coisas que me sao ainda ligadas tambem doi. Mas eu deixo acontecer. Como aquelas coisas irremediavelmente predestinadas a se concretizar.
Sou um misto entre real e imaginario, doce e salgado, mistico e cetico. Nunca soube escolher apenas um lado. Pego as melhores coisas de tudo que me e oferecido. Nao me venham culpar por isso. Entao nao, nao acredito em destino, ou predestinacao completamente, mas tambem nao desacredito. Apenas acho que algumas coisas acontecem quando seu tempo chega, mas a minha vida sera sempre a minha vida ate que eu mesma decida o contrario.
E a fogueira seguiu queimando noite a dentro, como tinha que acontecer, mas porque eu deixei que assim fosse.
E pegada com o sono que vinha chegando, estiquei meu corpo cansado perto do fogo, e esperei os olhos fecharem olhando as lembrancas queimarem.
E de dentro, mais uma vez, vem aquela vozinha mansinha, calma, persistente: Eu quero outra coisa. E eu pergunto: mas o que? E ela apenas continua: outra coisa, outra coisa...
E mantive os olhos delicadamente presos nas chamas da fogueira e me meti a pensar que outra coisa  ela queria.
O que ela ainda nao tinha? O que lhe faltava? Eu, como criador perante a criatura, era obrigada a lhe prover todo o sustento necessario. Entao a inquietude por nao ve-la satisfeita, por ve-la incompleta comecou a me aflingir.
Outra coisa... outra coisa...
O espirito solto, ausente de regras, tudo isso eu ja tinha lhe dado. Liberdade para tocar as pessoas, para senti-las, le-las, absorve-las...
E fiquei e gastei a noite toda a matutar, enquanto a vozinha repetia um milhao e quinhentas e tantas mil vezes:  Outra coisa... outra coisa... Eu quero...

O amor e punk...


Eu hoje ia escrever, e ja estava com a ideia certinha, bem bonitinha na cabeca. Mas ai, nas minhas andancas virtuais, achei esse texto, li, vi o video e conclui: Putz, ela ja falou bem o que eu ia dizer. Vou deixar o meu pra outro dia entao, pra nao correr o risco de parecer adulteracao, ou simbiose.
Por hoje, o que ela disse ta dito, e eu concordo: O amor eh punk.

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star. Uma coisa meio Dave Grohl. Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo foda. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é diferente). Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez. Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas. Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, caramba! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido. Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrão. Amor é reconstrução.É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios. Demorei anos pra concordar com meu querido  Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio! Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.

11 de dezembro de 2011

Quando

Quando a poesia for o chao dos homens,
o amor for livre, e puder vagar pelo mundo,
e as fadas, os deuses e os unicornios andarem entre nos,
sem o risco de serem cacados, testados, tentados, maculados,
quando formos todos uma raca soh,
todos os mesmos, sem distincao, sem discriminacao,
quando o amor nao for apenas sexo, nem soh procriacao,
quando nao for apenas traducao de uma relacao
quando o amor for o que se olha, o que se sente,
for a alca do vestido displecente,
que cai sorrateira pelo ombro distraido
e que voce, atento, coloca no lugar, como a pedir que eu,
por mim mesma,
a faca cair, pra voce, por mim, por nos.

Quando tudo que tivermos for o silencio
apos horas de cansaco, e a companhia dos olhos
que se visitam, como para assegurar que o amor esta la,
aquilo que voce sabe onde procurar.
Aquilo que ganhamos sem pedir, sem esperar.
A confianca da mao que segura a cintura devagar,
a seguranca para se entregar
ao que nao se conhece,
ao que se confia,
sem porque, pra que.

Apenas se sabe que eh amor, e pronto. Se ama.


30 de novembro de 2011

Sozinha

Eu lembro que por muito tempo carreguei um medo indescritivel de ficar sozinha. A primeira recordacao vem quando me via aos prantos no pre-escolar se minha mae atrasasse miseros cinco minutos para vir me buscar. Eram os cinco minutos na conta da eternidade. Era como se o mundo fosse acabar. Porque eu estava sozinha. E assim, apos crescer e criar mais vinculos fora do circulo familiar, foi acontecendo a transferencia dessa necessidade para todas as outras relacoes. A cada colegio novo, tinha medo de nao ter amigos, a cada nova casa, medo de nao conhecer nenhum vizinho, e a cada novo namorado medo de ser abandonada. Era como seguir um padrao. A falta de auto-confianca que carreguei por tanto tempo (nao posso dizer que me livrei dela totalmente, mas enfim... outra historia, outro dia...) ia matando minha liberdade e a liberdade das minhas relacoes. Eu sempre precisei me sentir tao querida e amada, e implorei tanto por isso, que muitas vezes ganhei falsas e forcadas demonstracoes de afeto. Lembro que acabava um namoro e ficava pensando imediatamente que nunca mais ia conseguir ser amada (preste atencao,  nao pensava em amar de novo, pensava em alguem me amar de novo...) e talvez por isso me segurava a relacoes ja mortas com tanta forca que cheguei a machucar as maos nos espinhos de rosas secas mais vezes que me lembro contar.
O que pude observar depois - depois de anos passados, depois de licoes aprendidas, de mais e mais licoes praticas de relacoes humanas - foi o quanto isso eh mais comum do que se imagina.
Inumeras pessoas passam pela mesma situacao, pela necessidade de afeto expositivo, pelo por favor nao me deixe sozinha... e nisso abdicam de inumeras coisas que fazem parte da sua essencia, para preservar relacoes muitas vezes tao falsas, exatamente por serem alicercadas nessas mentiras de personalidade.
Eu menti para mim mesma tantas vezes... E nesse texto cheio de reticencias representando meus pensamentos que nao se encaixam num modelo padrozinado de comeco meio e fim, venho expressar minha alegria por me ver hoje tao mais independente de outros para auto-felicidade. Acho que deixei de querer tanto os outros quando descobri tudo que ha em mim. Ficar sozinha nao eh um deserto, nao eh solidao, eh como um oasis, uma redescoberta, um renascimento.
Quando comecei a me amar mais, passei a aproveitar o tempo comigo mesma como uma pequena dadiva. A aproveitar minhas melhores qualidades, a remodelar meus grandes defeitos, a sentir e entender cada curva do meu corpo, cada curva da minha mente.
Ficar sozinha nao eh ficar so, eh ficar comigo mesma. E, por hora, eu estou feliz assim.

21 de novembro de 2011

Madrugadas

Ora, ora. Por que gosto dele? Explica voce. pra mim nao faz mesmo sentido, e faz todo o sentido do mundo... Entao nao vou gastar saliva tentando explicar.
Sei apenas que ele chega e tudo mais perde brilho poque so tenho olhos pra barba mal feita e risos pras piadas infames.
Meus pensamentos sao dele porque ele eh, como dizem por ai, meio ogrodoce. E cada dia eh o mesmo tormento de esperar que ele seja menos ogro, mais doce. E vice-versa. Porque assim cada dia eh mais um dia. Um novo dia.
Percebi que gosto dele quando me vi dormindo com o celular embaixo do travesseiro para atender chamada de madrugada. -Ah, nao to fazendo nada muito importante agora nao. Se voce pode vir aqui? Claro, filme entao? Entao, de chinelo, short, cara lavada e camiseta folgada, pipoca de microondas, me preparo pra uma daquelas noites incriveis. Coisa idiota? Coisa de adolescente? Talvez.

Chamo de coisa de gente apaixonada.
Agora faz o favor de nao demorar muito a perceber... Juro que qualquer dia sou eu mesma capaz de te dizer.

(ouvindo musica legal e inventando uma historinha de fds. Se esse livro sai um dia? Diz ai vc se vale a pena.)

16 de novembro de 2011

Decisoes

Nao sou hipocrita. Me arrependo de muita coisa que fiz. Muita coisa que ninguem nem sabe que fiz. De muita decisao errada que tomei. De muita gente miseravel que apoiei. De muita noite mal dormida por consciencia pesada. Por erros de passado, que assombram o presente e atrapalham a visao clara do futuro.
Sinceramente n sei porque mantenho esse blog. Nao queria que ninguem lesse o que escrevo, nunca quis. Nao quero que ninguem descubra nada de mim, ou pior ainda, que pense que sabe alguma coisa sobre mim.
Nao quero ser julgada pelas cartas ja viradas do baralho. Mas va la que nao vou querer roubar do ser humano sua melhor habilidade, entao julguem como quiserem. Ja faz tempo que deixei de me importar.
As escolhas que faco nao sao minhas inumeras vezes. Nao voluntariamente minhas. Ou impassiveis de influencia do meio externo.
Tudo que eu queria era nao estar fazendo o que vou fazer agora.
Mas pra certas coisas nao ha remedio, e eu espero por essa noite conseguir dormir...
Isso se eu achar o caminho de casa. Seja la onde for minha casa, agora.

14 de novembro de 2011

Lei it be...

Hoje acordei inteira. Com todos os pedacos colados montando meu bonito vitral que insisto em consertar toda vez que um idiota quebra. Faz parte da vida... Eterna reconstrucao, descobrimento, vir a ser.

A minha satisfacao por nunca me achar completa me deixa feliz pela enorme gama de possibilidades que posso escolher, por tudo que posso ainda me tornar. Pelo tanto que a vida pode ainda me surpreender.
Por isso hoje resolvi deixar de me fechar as mudancas, e de tentar renegar o tempo, os gestos, a vida. Prestar atencao na fotografia. Na velha, preta e branca, e na nova, digital. Tentar colar os dois mundos. Como sempre tentei fazer. Juntar as coisas, conciliar. Como se eu realmente tivesse uma necessidade urgente por isso.

Importante foi parar de enxotar os amores. Aceitar as parcialidades, as imperfeicoes, arestas, origens, pensamentos... Ficar no meio termo entre a descrenca em toda e qualquer forma de amor e a crenca no principe encantado. Ficar no lugar mais adequado, sentada na beira da vida, com os pes se molhando de realidade, mas com os olhos mirando o horizonte, a lua, o sol, o ceu. O infinito de possibilidades mais uma vez...

Nego-me a acreditar em um amor da minha vida, e passo a conceber a ideia de amores para a minha vida... Nao um, mas varios, inumeraveis, catastroficas, catatonicos, pulsantes, irracionais... Imensuraveis.
Amor de mae, de pai, de irmao, de amigos, de amigas, de vizinho, de cachorro, de papagaio, de companheiro...
Porque hoje descobri que nao posso - nem vou - me apaixonar uma vez so, e perdidamente por ninguem. Porque descobri hoje que sou muito mais do tipo que ama o mundo, que quer abracar a vida e beber a taca cheia todo dia. Cheia de coisa viva, cheia de sentimento, cheia da minha insanidade meticulosamente controlada.
Ficar encarando a vida, vendo os caminhos que ela me da... Hoje estou com esse sentimento bom de dever bem cumprido... De que se tem uma coisa que estou fazendo direito, hoje, eh viver. Com toda a bonita definicao que essa palavra pode ter.

E foi por me ver tao feliz, que a vida sorriu de volta pra mim.



[...] para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor [...]

1 de novembro de 2011

Simples assim

Tô cansada de correr. Você me avisa se um dia sentir saudade de mim, e então eu te falo se ainda estou pensando em você.

Insônias

Noites de insônia são ótimas. Nessas horas você realmente acredita que você passa sua vida quase inteira dormindo. Madrugadas podem ser sempre dolorosamente prorrogadas, e cada segundo entre as duas e três da manhã pode conter sua própria eternidade.
Quando todos já foram dormir, sem mais ruídos, sem mais cochichos, só você e o barulho de você mesmo.
Tempo pra pensar no que você fez, no que não fez, e muito tempo pra não pensar em coisa nenhuma.
Ócio.
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer. Hoje sei tão pouco de quase todas as coisas, apesar do muito mais que aprendi de ontem pra hoje. Isso só prova o quanto pouco eu sabia ao pensar que sabia mesmo de alguma coisa. Há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender.
O som rouco e afinado da guitarra de Gessinger embala o que deveria ser minha canção de ninar. Nada como um guitarra elétrica... Nada como não ter hora para acordar pra não ter que ter hora pra dormir. Como se isso [entre tantas outras coisas] pudesse ser opcional.

Dia de caça

Soprei as areias do tempo que eu segurava na minha mão. Havia por fim desistido de te segurar e entreguei os pontos vagarosamente, soprando as areais da ampulheta que quebrei há pouco.
Destino, sem tino, sem remorso, sem culpa... Para onde me levas? O que me sobra? Se és tu que tudo governas, se és tu que já sabes o que vem depois do próximo suspiro, se és tu que vês o que acontece enquanto pisco os olhos, te peço melhor sorte, ou me entrego a tua soturna vontade?
Adiantaria aqui implorar para que o que quero esteja ao meu lado amanhã ao acordar?
Se eu hoje suplicar para que me dês o mais impossível dos favores, haveria a mínima possibilidade de você me escutar?
Estamos todos por fim fadados a assistir as voltas que a vida dá, enquanto você se ri das nossas desilusões, dos nossos destemperos, das nossas febres e preocupações vãs?
Destino, não é solitária essa vida de apenas nos ordenar? Vou tornar mais divertido para você.
Soprei os últimos grãos que levava na mão. Vou deixar você jogar como sabe, caçador, entreguei suas armas. No entanto, um recado final: Não é nem um pouco verdade que vou deixar você jogar sozinho. A vida precisa de dois jogadores. Dê as suas cartas então. A sorte pode virar cedo ou tarde. E não sou eu quem vai desistir agora. Amanhã pode ser dia da caça.

Pára!!!

Pára. Pára de me torturar com essa canção de amor que só me enche de saudade.

Alguém mais tá ouvindo meu coração cantar ou estou mesmo ficando louca?

Complicadores da realidade!!!

Eu não sei amar.
Enquadro-me na classe de pessoas mais difíceis de lidar: sou um clássico complicador da realidade. É, esse é o termo. Complicador. E não só para a vida amorosa, complico tudo na vida mesmo. É minha maior habilidade: deixar tudo parecendo mais difícil, e perder noites de sono e dias de trabalho com isso. Realmente, sou muito muito boa.
Mas é no amor que ganho todos os prêmios de melhor atuação. Consigo afungentar todos os possíveis amores da minha vida. Porque parece que o cupido é sempre meio lerdinho comigo, e as pessoas gostam sempre primeiro de mim, e não dá tempo pra eu me adaptar, me apaixonar, tem já alguém me oferecendo aquele amor puro e bonito antes mesmo de me dizer oi. Que fique bem claro: amor a primeira vista pode até existir MAS NUNCA ACONTECEU COMIGO!!!!
Mas é injusto você me apontar o dedo e me condenar a solteirice eterna, ou a bancar de tia sem ouvir minha história. Não é porque sou um alter-ego suprimido do universo que você considera realidade que não tenho sentimentos. Tenho-os e em grande cota, então vamos lá, ouça minha história.
Já amei, mas isso foi há muito tempo. E até mais de uma vez.. Quando eu acreditava em muita coisa que hoje não acredito mais. Ou finjo que não acredito e escondo de mim mesmo, num lugar bem escondido no fundo do coração machucado. Porém, digamos, para não citar nomes nem acusar pessoas pelas suas decisões - não julgo ninguém por escolher o melhor pra si, embora isso possa categoricamente f. com sua vida - que não foi de uma vez que morreram os sonhos e certa maneira de sentir as coisas. De uma vez só não, sejamos sinceros e assumamos que dor de amor dura muito tempo, e eu sei muito bem como prolongar sofrimento. Mas enfim, águas passadas.
Hoje ando esperando o tal amor, mas é uma espécie de busca descompromissada, onde a gente quem sabe vai se esbarrar algum dia, mas ninguém procura por ninguém. Deixa a vida levar o tempo que ela quer levar, se é que ela se importa mesmo com isso. As outras histórias, meias histórias, ou histórias inteiras, terá sido amor também? Não sei. Pergunta de novo daqui a uns tempos, quando for só lembrança e não doer mais o tantinho que ainda me dói.
De verdade, me pego às vezes pensando que não vou conseguir amar ninguém, vou ficar indo de um relacionamento a outro e sempre pulando fora quando o negócio ameaçar ficar sério. Caso clássico de complicadr da realidade que ainda tem medo de se meter em sofrimento.
Aprende, gata, que sem sofrer um pouquinho, você vai perder toda a parte divertida da vida. Não tem como separar, tá tudo misturado mesmo. Não dá pra escolher um lado só.

Se cuida, e vai ser feliz, vai.

"Será que alguém já te fez chorar
Mesmo sem ter proferido uma palavra?
E o que você fez? tentou lutar?
Ou compôs uma canção indo pra casa?"




Onda T

Odeio o amor.
O teu amor
Ou o erro de todos os amores.

Odeio as ausências em todas as partes
se fazendo presente em cada estúpido desvaneio.

Odeio o quanto eu me assusto
com a dor, com o medo do medo, com o medo da dor.

Não é o fim, mas também não é o começo.
Fico entre o não e o sim.
Escolho não decidir
Escolho me eximir da culpa de errar de novo
de amar de novo
de sofrer de novo

porque eu não sei te amar,
ou amar qualquer um.
Não sei confiar em amor nenhum
acreditar em sonho bom.

Meu coracao nao sabe descansar, confiar
estabilizar.

Vivo de arritmia,
de cansaço,
de angústia,
de desesperança
de desespero.

Ondas T de saudade de quando eu não pensava tanto
no porque de cada coisa ao redor de mim.

19 de outubro de 2011

The wheel breaks the butterfly...

CANSEI!!!!

Cansei de tentar bancar personagens para agradar mais a voce, que nem se importa direito comigo, que nem sabe quem sou eu e me cobra por coisas que nem entende, que apregoa e nem vive.
Vamos voltar ao comeco. De novo e pela milesima vez. Sem vergonha por assumir que peguei o caminho errado - de novo.
Cansei de ser a boazinha, a estudiosa, a dedicada, organizada. Cansei de assumir e tentar cumprir os rotulos que voces me deram.
Quero ser eu mesma, e nao por um dia, por uma vida. Quero poder me despentear, correr na chuva, gritar porque meu time fez gol, beber minha cerveja porque to estressada e preciso relaxar, e ler meus livros que nao te fazem nenhum sentido, e ouvir minhas musicas que voce nao entende, nao gosta e recrimina, assumir que tenho medo de caminhar no escuro e que nao gosto de ficar sozinha de noite porque comeco a pensar um monte de besteira.
Assumir que amo quando amo, que nao gosto quando nao me agrada. Ter coragem de dizer que voce me machucou e perder esse medo bobo de nunca falar nada do que sinto para nao machucar voce.
Quero comecar a pensar em mim. Quero ser egoista, quero mesmo. Quero pensar na minha alegria, em provocar minha felicidade. Quero parar de deixar que as pessoas facam comigo o que bem entendem.
Que me deem conceitos bobos de vida para seguir. E conselhos hipocritas. E regras inuteis.
Quero a vida na sua essencia e ate a ultima gota e quero do meu jeito, meio boemio meio intelectual. Meio anti-social por uns dias, meio nerd em outros, meio miss popularity em alguns raros eventos.
Quero ser exatamente a mistura de todas as coisas que sou.
Quero usar as palavras que sei mas nunca usei. Porque nunca me deixaram usar. Porque eu me deixei reprimir, suprimir ate o maximo possivel que antecede a uma explosao nuclear.
Quero dizer que te gosto, ou que te odeio, ou seja la o que eu sinta por voce.
Quero pedir desculpas todas as vezes que machucar. Assim naturalmente. Como quem sabe que faz merda vez ou outra. E explodir de sentimento como faco por dentro tambem do lado de fora. E sorrir mesmo, e gargalhar muito. Sem vergonha.
Perder a obrigacao de estar bonita o tempo todo. Quero que me sintam bonita. Que bonita em mim seja um estado de espirito. Nao dependente de roupas, brincos, batom, lapis, blush e tudo mais. Que eu exale beleza pelos poros. Beleza de vida. Beleza de sentimento. De desejo de ser feliz. Que alguem se encante por mim por causa do cheiro da minha beleza.
Quero ter direito aos meus paradoxos existenciais, metaforas filosoficas e piadas bioquimicas sem graca nenhuma. Quero ter direito ao meu proprio curso de pensamento. Sem interferencias das sintonias estranhas da humanidade.
Quero nao me sentir tao mal quando meus planos nao derem certo para um dia. Quero esperar pelo outro dia. E pelo dia depois dele. Sem pressa para me estressar. Sem prazos para me desesperar.
Quero a vida no compasso que ela deve ter. Sem a frenetica necessidade de vencer. Vencer a quemVencer o que?
Quero sentar na varanda de casa com um livro e meu pedaco de goiabada com creme de leite. 
E meus discos de MPB. Quero dirigir numa highway com vento no cabelo ate ele dar tanto no que vou passar mais de uma feliz hora tentando desembaracar depois. Ouvindo blues americano no maior volume possivel.
Quero amigos de sorrisos faceis no final da sexta feira depois do trabalho... Quero encontrar todo mundo que trago no coracao numa mesa cheia de comida e bebida ate a manha do sabado. Com muitos risos pra distribuir e historias para contar e para ouvir.
Quero um domingo com meu pai assistindo jogo do santa... E gritando apos cada gol, apos cada finalizacao frustrada... Quero ir cozinhar pra minha mae e esperar ela vir na cozinha a cada dez minutos pra me dizer pra cortar o tomate mais fininho ou que nao e´ desse jeito que se cozinha aquele tipo de carne. Quero ir as compras com minha irma e ve-la gastando horas tentando me fazer gostar de uma bolsa.
Quero as coisas que me fazem bem. E quero tudo, quero agora. E para sempre. Do jeito que eu quiser. E pedir demais eu sei... Mas nao custa sonhar.


Saudade da parte de mim que ficou la.





When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
And bullets catch in her teeth
Life goes on
It gets so heavy
The wheel breaks the butterfly
Every tear, a waterfall
In the night, the stormy night
She closed her eyes
In the night
The stormy night
Away she flied
I dream of para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
She dreamed of para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
La-la-la-la-la


A vida como ela e'

Maturidade...
Nao acho que seja uma coisa que possamos auto-classificar. Nao sou ingenua o suficiente para nao reconhecer o quanto ja apanhei da vida e o quanto mudei/adaptei/iniciei ou parei com certas atitudes em beneficio de uma melhor qualidade de vida. Em beneficio da vida puramente. Nem precisa ser boa ou ruim. As vezes estamos tao mal que nem podemos chamar aquilo de vida.
Noites e noites chorando sozinha na cama ate resolver que nao da mais. Por coisas que hoje olho e nao dou a mesma importancia. Ou nao dou nenhuma importancia. Dias e dias de brigas com namorado ate perceber que se podia ir mais alem. Que se queria um pouco mais da vida. Que se valia um pouco mais. Semanas esperando por coisas que nunca chegaram ate resolver parar de esperar. Meses esperando por palavras que nunca eram ditas ate eu mesma resolver perguntar por elas. Anos esperando por oportunidades, por milagres, por amores perfeitos, por menos dor, por menos lagrimas.

A coragem de dizer o que sente mesmo diante da possibilidade de completa frustracao e' uma habilidade desenvolvida apos anos de luta contra orgulho e baixa-estima. A capacidade de olhar-se no espelho e aceitar as coisas como elas sao. Aceitar-se como um todo, psicologica e fisicamente. Nao de uma forma estatica, mas de uma maneira passivel de evolucao. A habilidade de parar de esperar por pais, por amores, por amigos ou qualquer um. De fazer seu momento. De viver o momento ao inves de perder tempo chorando o que nao se tem. De nao se importar com o falam de ti - ahh, e como falam. De chorar, mas nao por mais que algumas poucas horas. Depois reerguer a cabeca e ir em frente. Em busca da proxima alegria e pronta para encontrar a proxima frustracao.

C'est la vie.

Aprender a ser feliz no meio de tanta confusao e' onde esta' o segredo do sucesso ;-)

29 de setembro de 2011

O que eu sei de mim

Recomeçar não é uma coisa fácil. Novos lugares, novas pessoas, novos amores. Todas as novidades causam em mim uma certa hesitação. Normalmente não me deixo envolver pelo calor da descoberta. Sou minuciosa e detalhista, e sempre vou analisar antes de sentir. Sinto intensamente, por outro lado. É um tanto louco, até para mim mesma.
Sou um tipo de racionalista emocional. Sei exatamente em que tipo de coisa coloco o meu desespero e a minha paixão. E todas elas depois de frias análises de graus de valoração. O tempo me ensinou a não sofrer pelo que não me vale a pena. E a quase enlouquecer pelo que me move. Extremos. Não acho que seja uma opção salutar. Mas desde quando sabemos como escolher sabiamente nosso jeito de viver?
Engraçado aprendermos tão tarde como gastar nosso tempo. Como olhar a vida. Concordo com a ideia de que se nós começássemos ao contrário, com a mentalidade e a velocidade da velhice, talvez gozássemos mais. Não sei ao certo. Outra coisa sobre mim é que gasto tempo demais com teorias.
Não me arrependo de nenhuma das coisas que me fizeram ou fazem sofrer, por outro lado, dependo do seguinte: Não me arrependo de sofrer contanto que tenha sido uma opção consciente de mostrar quem eu sou. Se minha exposição nua e crua me trouxe dor, é um preço a se pagar. O preço que eu escolhi pagar. Não acho que tristeza equivalha a falta de felicidade. Tristeza é apenas ausência momentânea de sorrisos. Mas não sou infeliz, embora tenha lágrimas nos olhos. Sou quase exatamente o que escolhi ser, depois de olhar meu lado bom e meus muitos lados ruins. Sinto muito se não te satisfaz, mas não abro mão de ser eu mesma por nada nem ninguém, nunca mais. É uma promessa feita a mim mesma, e acredite, não pretendo fazer o menor movimento para quebrá-la, pelo menos não por agora. A questão é quem consigo - ou quem consegue - ficar por perto dessa pequeno dispositivo sujeito a explosões ;-)

Ócio

Não espero que ninguém me entenda no fim das contas. E não, antes que comecem as críticas ao meu ego super-inflado, não é uma demonstração do meu egocentrismo. Não espero porque estou numa fase de acreditar que as pessoas não podem se entender, no fim das contas.
As palavras vão além do que se ouve, e bem além do que se fala. Relação envolve interpretações. E aí sinceramente é onde lasca tudo, com licença da palavra. Não estou muito polida hoje, nem muito preocupada com minha imagem de garotinha perfeitinha. Então, acho que a solidão acompanhada é meu prognóstico. Infeliz, talvez. Eu bem queira alguém pra entender "o que eu também não entendo". Tentativas tivemos algumas, das boas. Mas eu sou difícil. Me odeio por isso, mas Deus, como eu sou difícil.
Quero alguém que mantenha minha independência, alguém que respeite meus espaços, minha necessidade de ausência, mas que seja sensível o suficiente pra me fazer sentir a princesinha de algum hipócrita conto de fadas. Como posso juntar as duas coisas? Alguém que me deixe e me proteja na medida certa de todas as coisas? Alguém com uma conversa interessante, inteligente, que me faça rir (e como é difícil me fazer rir - por dentro e por fora). Alguém que entenda e me ajude a escolher entre ter ou não uma família, quando e onde. Onde? Exatamente... Onde? Em que parte do mundo vou fazer minha vida. Como ficar com alguém desse jeito? Alguém que não tenha problemas com meus livros, e que me dê alguns até. Alguém que goste de aniversário, que me dê um presente diferente seis dias depois para o dia dos namorados. Não é relação mercantilista. Pode ser um cartão, mas quero comemorar as duas datas como todo mundo... Acho justo. Alguém que aguente a mulher estonteante e a moleca de bermuda e chinela de dedo. Que não ligue pra minha celulite. Que goste de vinho e beba cerveja. Mas que não ande bêbado por aí. E não fume. E goste de dançar. Ou que se lasque tudo isso. Alguém que faça meu coração parar por alguns segundos, alguém em quem eu pense pra contar minhas coisas. Alguém que me dê um colo mesmo quando minhas crises forem sem sentido. E que seja capaz de me olhar nos olhos e falar que estou errada.
Não é crise de solteira. Passei da fase de chorar por estar sozinha. Também não sou tão hipócrita para mentir que sou feliz e completa e ando por aí pegando todo mundo porque ando muito bem resolvida comigo mesma. Não sou. Mas me viro até bem com minha solidão, obrigada.
Venho odiando a frieza das pessoas, ultimamente. Quero sentir o sentimento dos outros, bons ou ruins. Isso me faz bem. Sentir que existe em você algo tão vivo quanto em mim... As pessoas parecem que tem medo de dizer o que sentem, como se fosse algo degradante ou humilhante dizer que se interessou por alguém. Sociedade mutilante, obrigada por acabar com nossa liberdade de dizer o que se sente.
Venho me sentindo um tanto mais madura também, se é que podemos analisar isso em nós mesmos. E isso sinceramente me assusta ao ponto que com isso me vejo mais independente. De certos sentimentos. Da necessidade de alguém. As desilusões já não machucam como antes. Machucam mas não me deixam na depressão sentimental à qual eu era costumada. Sinto-me mais fria, sinceramente. Não queria ser assim. Não queria ser tão dura pra me apaixonar. Queria saber viver paixões de um dia, de uma estação, sem pensar nos "posteriore". Mas não sei fazer isso. Nunca soube, e agora mais que nunca, não consigo.
Não sei se ainda espero que um dia alguém destrua esse monstro tortuoso no qual me tornei ou simplesmente deixei de crer que isso possa acontecer. Ou só não penso mais nessas coisas.
Por falar nisso... Porque estou pensando nessas coisas? Será que não tenho algum artigo para ler???

2 de setembro de 2011

About me

Eu?
Sujeito ou predicado?


Se sujeito...
Composto, com certeza. nada simples. Derivado. Talvez comum de dois gêneros. Talvez solitário.
Com certeza indeterminado.
Sujeito a intempéries. Sujeito a insinuações. Susceptível, claro. Mas não destrutível. Não inicialmente.

Se predicado...
Um bocado difícil de explicar.
Formador de orações nada conclusivas. Tipo as assindéticas, que nada dizem dizendo tudo. Ou as coordenadas sindéticas adversativas, sempre ao contrário do que seria o caminho mais fácil.
Subordinadas, às vezes, Mas é raro. Por favor tente não se aproveitar disso, de qualquer forma.



Eu fiquei aqui, na beira de mim, a olhar para dentro como a procurar por você. Hoje você não está aqui, não há nada aqui. Tudo no mundo passa tão veloz, e eu aqui, sentada. Me deixo ficar, espero você voltar. Ou a vida me levar. Simples assim. Como se fosse simples ser feliz (e não é?)

20 de agosto de 2011

Me, mim, comigo

Eu sou muitos. Querem culpar a astrologia por pelo menos uma dezena de pessoas habitarem em mim, mas não sei se a culpa é realmente dela. Não sei se eu permitiria jogarem a culpa da minha vida em uma coisa além dos meus domínios. Nunca gostei de não ser responsável por mim mesma. Embora por grande parte da vida assim tenha sido, involuntariamente, inconscientemente, subjulgado.
Eu quieto quase sempre. A vida quase toda em um silêncio cadavérico. Sepulcral. Mas sou em calado, afinal? Ou me mato para ser o que me acostumei a ser, e que vocês não querem ver diferente? Faria alguma diferença mostrar o que ninguém quer ver? E se você não me quisesse? Recém nascidos rejeitados jogados em latas de lixo num beco perdido do Recife Antigo. Um trauma que nem todo mundo consegue superar. Por vezes tento ser outra parte de mim, que vejo claramente aqui dentro, que quase implora pra tomar ar, mas simplesmente não consigo. Tem certas linhas que não consigo cruzar. Medos que não sei enfrentar. Assumo vergonhosamente que certas coisas me botam a tremer embaixo da cama, até o dia amanhecer, e eu não precisar encarar. Coisas que eu não sei, não vou ou não tento encarar.
Quero ser minhas mil vidas! Como faço para libertar tudo que há em mim? Para não ter medo de ser, viver, respirar?

Dilemas emocionais são difíceis de tragar a seco.

Não, não sou um bêbado. Nem sou errante, nem eremita. Nem um vadio psicótico, vadio e pedinte, como ouvi você dizer. Não sou apenas frustração, mas há muito de frustração em mim. Não todas as horas do dia, talvez uma ou outra vez, mas não todo dia.

Seja lá o que eu for, espero que eu não leve muito tempo para descobrir.

18 de agosto de 2011

Overdoses necessárias

Gaste a sua vida.
Não economize, não fique juntando emoções para viver mas tarde. Esse tipo de avareza definitivamente não enriquece. Aproveite bem o que te tira o fôlego, o que te tira o sono de um jeito bom. Não tenha medo da vida. Você acaba perdendo o que te faz feliz. Arriscar-se? É preciso, fato. As melhores coisas estão um tanto mais além do terreno seguro. Conformar-se? Só se você preferir sentar e esperar a morte chegar. Eu escolho ter histórias para contar. As histórias mais insignificantes, de coisas até desinteressantes, mas que me fizeram rir, me fizeram ser feliz, ou aprender como ser. Daqui a muitos anos, você vai olhar pra trás e serão esses momentos ridículos que conterão suas melhores lembranças. Comumente as melhores pessoas também farão parte dos momentos ridículos, e você vai lembrar delas também.
Medo de amar? Eu também já tive, e vez ou outra tenho ainda. Mas não vale a pena, sério. Todo mundo vai se estrepar no amor uma hora ou outra. Ninguém é perfeito, nem você. Seria injusto eu reclamar de quantas vezes fui machucada se eu mesma não conto as vezes que machuquei. A vida é mão dupla, ir e vir, sempre. O importante é viver até o fim. e descobrir todos os caminhos, todos os atalhos interessantes, não no intuito de ganhar tempo, mas de viver mais.
Eu quero viver tudo, até o fim, a última gota.
E se eu morrer de overdose de vida, juro que não vou me arrepender nem um pouquinho.

13 de agosto de 2011

Nota

A gente aprende a viver todo dia. Ninguém nasce sabendo aonde ir, o que fazer, como ser feliz. É um processo empírico mesmo, em que de nada adianta copiar e colar do trabalho do colega ao lado. A vida é de cada um, e ninguém vai viver por você, fazer as escolhas certas por você, ser feliz ou triste por você.
Então tem que arriscar. Sem medo. Ou com medo mas com coragem. Se não a vida permanece como está, estagnada. A gente acaba se perdendo, na pressa, nos sentimentos, nas dores, na agonia de uma vida sem freios, só com trabalhos, pressões, paixões. Esquecemos da calma, da solicitude dos dias bem vividos, saboreados, sem análises, sem prejulgamentos, preconceitos, pré-nada. Deixamos de nos render a vicissitude  das estações. Paramos, estagnamos, morremos de congelamento emocional. Patognomônico de quem anda se perguntando como a vida poderia ficar ainda pior.
Perde-se a disposição de reagir.
Caiu? Levanta. Doeu? Cresça com isso. Fique mais forte. Você aprende a suportar mais, a se assumir mais, a ser mais você pura e simplesmente, na definição e forma de aparição mais clara possível. Ficaram marcas? Use-as como guia para os caminhos futuros. Só não pare, nunca pare. Não se deixe abater. Quem destrói você é você mesmo. Ninguém tem esse poder sobre você. No máximo, tem o poder que você coloca em suas mãos.


A única coisa tão inevitavel quanto a morte é a vida.
Charles Chaplin

Quando aprendemos o quanto temos valor perante a vida é que paramos de nos maltratar com pensamentos vãos e colocamos em prática a dádiva de nos entregar ao mundo, de completar o ciclo, de devolver em dádivas as dádivas que recebemos. Aprendemos a dar o nosso melhor para nós mesmos, para os outros e para a vida. "Gentileza gera gentileza." A gente percebe que não existem erros imperdoáveis, nem situações e pessoas insuportáveis. Apenas cada um, a sua forma, segue seu compasso. As vezes os ritmos andam desencontrados, a música destoa. Ninguém merece a culpa por ser diferente. Apenas é preciso grandeza pra seguir em frente, sem mágoas por não ter sido, não ter feito, não ter entendido ou se feito entender. A vida se encarrega de ajeitar as coisas.
Minha vida mudou quando consegui voltar a enxergar a beleza dos dias, dos pequenos prazeres da vida. Quando eu descobri que as coisas realmente mais importantes vinham de dentro pra fora, e não o contrário. Foi quando soltar o cabelo ao sabor do vento voltou a ser o pequeno prazer de cada dia. Quando fazer o caminho mais comprido era necessário e opcional para cruzar com as borboletas.
Foi quando voltei a ser menina, quando re-encontrei os grandes prazeres das pequenas coisas, que meus grandes problemas se tornaram menores e manipuláveis.
Hoje sei que única certeza imutável e indestrutível da vida está na quantidade de lágrimas que me fizeram crescer e de sorrisos que eu dei de graça, apenas pelo prazer indizível de estar viva.

* Em homenagem a minha amiga Jana Sandes, por ter me ajudado a reencontrar o lado doce da vida. Como eu falei antes, mesmo sem saber, você mudou muita coisa em mim. Obrigada não paga!!!!

10 de agosto de 2011

Não sei se ele ou eu, ou os dois

Baseado em frases "entre-aspas" de Caio Fernando Abreu.


"Podia ser só amizade, paixão, carinho, admiração, respeito, ternura, tesão. Com tantos sentimentos arrumados cuidadosamente na prateleira de cima, tinha de ser justo amor, meu Deus?"


De repente a gente se vê num outro planeta, numa galáxia qualquer, perdido mesmo. A droga do amor é uma droga mesmo. Como pode uma coisa ser tão confusa, tão estúpida, tão incompreensível, e ainda assim ser a melhor coisa do mundo?
Eu tinha tanta coisa pra dizer, aquelas coisas tão importantes de se dizer que a atitude mais sensata é calar a boca, deixar caladas. Porque para uma coisa tão importante, nunca se sabe como essas coisas serão ditas, muito menos como serão ouvidas.

"Nunca, jamais diga o que sente. Por mais que doa, por mais que te faça feliz. Quando sentir algo muito forte, peça um drink."

Mas eu e minhas urgências sentimentais acabamos juntos despejando tudo em cima de você. Exatamente como estou fazendo agora, de novo.
Noutros tempos eu diria que fiquei com raiva. Mas não é raiva, dessa vez não é raiva. É mágoa, é dor, insegurança, medo, sei não. Talvez um pouco de tudo isso. Quem sabe nada.
Penso que, quando estivermos todos prontos, eu, você, o mundo, nos encontraríamos sentados num bar, ocasionalmente. Ou numa fila de banco. Você riria da minha cara agora, e diria que não acreditaria. Diria que eu sou infantil. Que essas coisas não existem. Você sempre foi tão cético...

"Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão-escudo"

Eles me pegaram, me vendaram, me cegaram, me rotularam, modularam, jogaram mil complexos em cima de mim, um milhão e meio de paranóias, e só eu sei o trabalho de limpar todo esse excesso. Hoje sou excesso. Mas sei que na verdade não passo de arestas. Arestas bem pequenas, aparadas. Mas nem por ser aresta sou simples. Sou aresta agrupada em caleidoscópio, e caledoscópios não são coisas simples. Mas são coisasfascinantes, se olhadas com atenção. Acontece que tem muita coisa no meio do caminho e é muito fácil se perder. Entre o momento de "ainda não estamos prontos" e "nossa hora chegou" são necessários cruzar muitos caminhos perigosos, e se perder é bem mais fácil que se achar.

Aceitei tanto desgosto na vida, sempre de pé, sempre aqui. Nunca fugi. Quase nunca, na verdade, mas quando fugi, sempre voltei. Nunca me esquivei do que chamei de amor, de onde eu quis colocar meu coração. E assumo as consequências das minhas decisões. Como estou e como sou é muito culpa minha,  só minha, pelas decisões que tomei. Pelas vezes que fiquei. Pelas vezes que fui. Eu só juro que não vi que isso tudo matava. E morri, no fim. E o pior é que ando zumbi na rua e ninguém percebe que estou morto, mortinho. É duro manter essa aparência. porque no fim não passa de mais de uma de minhas máscaras de como ser the perfect girl.

"Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar."

Cansada disso. Mas não consigo me desprender. A pior dependência está longe de ser a química. Coitados dos viciados emocionais. Pra eles ninguem dá a menor atenção, acusa de fresco, de piegas.
A questão é que estar morto não é tão ruim, afinal. "Desde que ganhei meu PhD em desilusão amorosa, tenho me divertido como nunca". Parei de me cobrar pela necessidade de que dê certo, pela idealização de futuros perfeitos desenhados em guardanapos de mesa de restaurante.

Acho que felicidade hoje, por enquanto, é mais que suficiente para mim.

último comentário: Caio Fernando Abreu, pare de viver minha vida!!!


7 de agosto de 2011

Solidão


solidão (so-li-dão)

s. f.
Estado de quem está só, retirado do mundo; isolamento: os encantos da solidão.
Ermo, lugar despovoado e não freqüentado pelas pessoas: retirar-se na solidão.
Isolamento moral, interiorização: a solidão do espírito.

Solidão é falta de abraço. É quando você está em abstinência de abraçar, se ligar, relacionar. É quando a dor ou a alegria ou a surpresa, ou qualquer emoção, mesmo tola, mesmo incipiente, furtiva ou gigante, reside no peito e você não tem pra quem contar. É ver o mundo e não ter pra quem falar.
Solidão é chorar só na cama, pela primeira vez (e enfim) por querer alguém com quem conversar, descansar, ver o sol se pôr vermelho, ver a chuva na janela respingar, alguém com quem dividir o tudo, o nada, pra comer a pizza congelada da geladeira.

Solidão vira saudade quando você sabe o nome, o rosto e o endereço exato de com quem você queria conversar.

Ir

Por hora, nada mais que uma ótima oportunidade

de testar minha esquizofrenia.

Talvez um pouco de exagero, talvez melancolia.

Acho que vou deixar tudo sumir fugir escapar

pra ver o que vai voltar

descobrir a realidade enfim

estou disposto

onde é o fim?

é onde eu quero estar

é preciso se perder

pra no fim se achar.

a companhia de um cd
pode tornar uma madrugada bem relaxante
entendiante
compressiva
produtiva
sei lá, tanto faz.

Vou encontrar um destino

e e ir em frente

não vou voltar atrás

pra trás não dá mais.

A voz da madrugada me ensinou
que "se você ficar sozinho
pega a solidão e dança"

rimas a toa

Agora é SÒ
sair e ver o sol
o sal na boca
que eu trouxe ao mergulhar
ou foi de tanto chorar?
eu vim só pra ver o mar
mas eu não sei nadar
e só não sei ficar
sem ter alguém pra conversar
una história pra contar
posso até me acostumar
mas hoje não,
hoje não dá.

*alguém vai realmente entender isso?

31 de julho de 2011

Para Melani

Eu jurei que ia te achar, Melani. Jurei que chegaria tarde, quando você já estivesse dormindo, mas chegaria. Ia entrar de mansinho, pra não te assustar, e ia deitar do teu lado, quetinho, e beijar  teu corpo, e te acordar com carinho.
A cor da tua pele eu ia adivinhar ali mesmo, no escuro. Não preciso de luz pra te ler, pra te ter. Ler a poesia escrita em você. Que eu escrevi em você. A cor do teu olho parecendo farol na escuridão. Farol azul, farol de oito, nove, dez mares que antes eu nunca vi. O que vi pelo mundo, o mundo que já vi, nada se compara à delícia de estar aqui.
Você acordando devagarinho, com o cabelo desgrenhado, desavisada, linda, surpreendida, surpreendente...




Meu coração,
pé no chão,
que nunca voou,
jamais se apaixonou
hoje está aqui,
rastejando após ti.
Acho que te amo, Melani.

aspirações e frustrações

Queria ser poeta, e sabia disso desde pequeno. Mas desde pequeno também que o pai lhe esbravejava que poesia não era coisa de homem. Homem que é homem tem que ter cabelo no peito, falar palavrão, bater pelada no domingo de manhã e xingar juiz de futebol de tarde, depois de umas louras geladas - entenda como quiser.
E cada vez que ele falava na poesia, lá vinha o pai com um murro na mesa lhe colocando para correr. E começou a morar no quarto, onde cultivava a poesia escondido. O pai nunca ia no quarto, e ali ele começou com versos discretos na parte de trás do caderno de desenho. E daí passou a um caderno inteirinho de versos, e depois passou a escrivaninha, cama, cadeira, e por fim chegou às paredes, todas poetizadas de alto a baixo. Por fim fez a poesia no corpo, como tatuagem.


Mas nunca conseguiu tirar a poesia de dentro do quarto. Nunca a levou para passear para tomar um ar fresquinho lá fora ou umas gotas de chuva. E isso teria feito tão bem a ela... A poesia dele, toda inocente, toda criança, nada sabia do mundo, nada sabia de cor, era preta e branca coitada... Era bem triste, a pobrezinha, miúda, minguada.
E virou homem, e saiu de casa, e levou a poesia embora, a poesia que o pai não quis. E continuou a escondê-la embaixo da roupa, no quarto, com a porta trancada.
Um dia o coitado morreu de overdose. Qual foi a droga? A droga foi ele ter vivido a vida sem conseguir dizer nada que sentia (também entenda o que quiser).

Citando

"Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um graveto já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?"
( Marley & Eu – John Grogan )

30 de julho de 2011

perdão

Vim aqui me perdoar.

Não posso mais conviver com isso tudo, com essa culpa, essa dor, essa revolta por não ter vindo, vivido e ouvido melhor. Por ter me rendido, ter me entregado numa batalha que desde o começo já estava perdida. Mas a culpa doía, dói, vai doer ainda um pouco mais. A culpa por ter me deixado dominar, subjulgar, como uma velha colônia portuguesa de exploração.
Me perdoar por não te perdoar. Não hoje, não agora. Talvez mais tarde, talvez um dia. quando todas as mágoas forem lembranças, e todas as tristezas nada mais que fotos apagadas de um velho cartão postal. Talvez isso resolva a dor, resolva o medo e a insegurança. Talvez quando eu já for outra pessoa e ninguém mais me reconheça. Mas eu já sou outra pessoa que supostamente nem minha mãe reconhece, e muita coisa mudou, mas muita coisa permanece bem onde você deixou.

Olho para o chão, as estrelas todas mortas, apagadas pelo tempo, jogadas ao vento, sós. Eu também estou só. Ninguém que olha realmente vê, parecem todos cegos a atirar palavras vãs em tentativas coersivas de me acertar, e me derrubar como uma daquelas estrelas.

Mas, inusitada e inesperadamente, até mesmo para mim, de certa forma eu me mantenho de pé. O que me traz aqui mais uma vez, o que me mantém respirando, mesmo depois de todas as idas e vindas, mesmo depois que o nome dela volta a luminescer como um novo acréscimo àquilo que me foi negado, na verdade até raptado, roubado e destituido por você, eu não sei, e pouco importa agora.

Não há tempo que volte, amor. Eu me perdoo por tudo. E não espero compreensão por voltar dez anos no tempo para encontrar comigo mesma, com todas as letras e predicados.

É que, como tudo andava, e ainda hoje até, eu me sinto tão fraco...

25 de julho de 2011

tocaia

Não é justo que, até aqui, venham me roubar o direito de ser e dizer. Aqui, que sempre foi meu refúgio, meu paraíso e meu inferno, onde todas as histórias e contos e sonhos e pesadelos se desenhavam, criavam vida, pululavam no meu colo e na minha mente e daí para o papel e de volta para a garganta para fins de ruminação mais intensa e exaustiva; aqui que era o meu pilar de sustentação e de equilíbrio... Agora aqui não passa de um campo de concentração nazista vigiado 24h, onde supostamente eu acreditava ter o livre direito de dizer e pensar, mas a que preço?
Ao preço de me ver descoberta, lida, esquadrinhada, dessecada como um sapo.
Me peguei apagando escritos com medo de quem os poderia ler.

O pior é descobrir que não me roubaram nada, eu que entreguei tudo que tinha.

24 de julho de 2011

propriocepção

Por vezes sinto que quereria experimentar algo como a ausência de mim mesmo.

Um olhar superficial, sem dores e impressões, algo imaculado, intocado, e por isso mesmo impenetrável e imutável. Queria poder circular entre as paredes de concreto dessa vida etérea, como fumaça ou como sombra, sem que eu mesma notasse que estava ali, que era e fazia parte do cenário, da vida, da luta, da morte.

Se eu não sentisse a mim mesmo, pouco me importariam as marcas que carrego estampadas na cara, como cicatrizes. Pouco me importaria também o medo do abismo. Acho que seria mesmo capaz de me atirar, só dessa vez, por saber que eu não poderia nada sentir, já que nem lá eu poderia estar.

Quero o sabor indizível de, só por hoje, nada sentir, nem dor nem alegria, nada além do nada que nunca senti.

16 de julho de 2011

O fim

Pedro estava triste demais pra continuar ali. Paris era linda demais e apaixonanete demais e depressiva demais para um homem abandonado. Todos os dias ele gastava horas a fio no processo de sofrimento e auto-piedade. E por isso ele resolveu mudar de cidade, mudar de vida mesmo, para conseguir esquecer Suzana. Ele não mais dormia, não mais comia, muito menos trabalhava direito por ter que ficar lembrando dela todo o tempo.
-Esse lugar está cheio de recordações... Vou dar o fora daqui e recomeçar a viver.
E assim foi.
Pedro vendeu a casa que ela ajudara a escolher, vendeu o carro que ele comprou por causa do gosto dela, vendeu os móveis que ela decorou na casa dele, deu pra caridade as roupas que ela escolhera e que ele sempre odiara, jogou fora os dvd's, cd's, quadros, postais e fotografias, e pegou a estrada.
A nova cidade era bem diferente de Paris, e ele achou que era longe o suficiente e feia o suficiente,e nada romântica, e serviria bem como retiro de isolamento e desintoxicação psicológica.
Então desceu na rodoviária e deu uma boa olhada ao redor: -É tudo tão calmo aqui, tão diferente das luzes que nunca se apagam de Paris. Sou capaz de apostar que Suzana jamais viveria aqui comigo.

E foi a primeira vez que pensou nela.

Então ele foi procurar um hotel na cidadezinha, algo pra os dois meses necessários para esquecer Suzana. E ele alugou um quarto num pequeno hotel no centro da cidade, não depois de se certificar que o lugar era adequadamente detetizado, conforme o toc que adquiriu com Suzana. Afinal esse tipo de coisa se leva de um relacionamento para a vida.
Tomou o cuidado de escolher um quarto com janela para o poente, para não correr o risco de querer acordar para ver o sol nascer, como foi acostumado a fazer durante todos os anos de casamento. E todas as tardes ele fazia uma caminhada na praia, só para irritar a imagem de Suzana, porque ela odiava caminhar. Então era uma vingançazinha particular. -Estou fazendo isso só para você odiar um pouquinho, querida. E sustentava um risinho de satisfação enquanto andava a beira mar.
Comprou novas roupas, tomando o delicado cuidado de jamais escolher nada que ela pudesse gostar. E comprou novos livros que sabia que ela jamais leria, e viu filmes que com ela jamais conseguiria assistir. Estava realmente empenhado na sua missão de mudar sua vida completamente; o único problema é que, para isso ele estava se referenciando em tudo que ele fora, e para saber o que ele não podia ser tinha que rememorar Suzana para saber exatamente o que não ser, não ter e não fazer. Isso era um problema, pois de toda a forma ele ficava lembrando dela a toda hora. Não estava funcionando. Ele largara toda a vida para esquecer essa mulher e até agora só conseguira vê-la por toda parte.
Era preciso ser mais enérgico. Então Pedro gastou grande parte do dinheiro da venda da casa e do carro e dos móveis - na verdade, talvez ele tenha que ter vendido umas calças também - para comprar uma adega de vinhos na perfireria de Paris. Ele pensou, satisfeito: pelo menos a respeito de vinhos Suzana não tinha gostos favoráveis ou reprovatórios, então deve funcionar. Não vou ter que pensar nela, afinal. E se mudou para a fazendinha.
Foi tudo bem legal, no começo. Havia terraços de uvas para arar a terra, ervas daninhas para arrancar, e uma casa velha para reparar. Mas com o tempo e a solidão chegou o tédio, e o tedio trouxe Suzana com ele. Então daí a acabar com todo o estoque de vinhos da adega em bebedeiras memoráveis foi um pulo. E bêbado ele ainda via Suzana, e com outras mulheres da pequena cidade ele via Suzana, e a noite ele pensava em Suzana e quando dormia sonhava com ela.

"And love
Is not the easy thing
The only baggage
That you can bring
Not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"


A essa altura, Suzana já estava casada, com dois filhos de 5 e 3 anos, e esperando o terceiro. Mas quem vai contar isso a ele?
Superar as coisas realmente não é fácil, mas esquecer propositadamente também não ajuda muito.
Deixe a vida acontecer, oras.


*a pedidos e como conselho. =*, Nina!

9 de julho de 2011

Desabafo

Porque eu estou naqueles dias com tanta coisa entalada dentro de mim que seu eu não escrever um texto juro que explodo ao primeiro contato com um objeto perfuro-cortante (i.e., palavras, gestos e até pressupostos pensamentos mal colocados).

O que digo é bem simples: tem vida e morte cohabitando no mesmo espaço contrariando as insuspeitáveis regras da física. Dois corpos no mesmo espaço, amotinados, aglutinados, fundidos já, mas ainda imiscíveis, distinguíveis, insolúveis.



Escrevo porque não tenho um trocado no bolso
e o taberneiro hoje não faz fiado.

Escrevo porque não sei de movimentos insurgentes
nem de fanáticos, frenéticos ou  mesmo barbitúricos
que possam aliviar a dor.

Não sei da democracia, nem da rebeldia
nem de como implantar um regime socio-comunista
na minha falida república monárquica
governada por um tirano desconhecido
que eu mesma estabeleci no poder.

Escrevo porque sou um pouco sombria
tenho medo de ficar sozinha comigo mesma
e se não escrever posso começar a gritar frases "nonsense"
num idioma morto há milhares de anos.
E isso me assustaria ainda mais.

Escrevo porque não tenho tempo pra nada
nem coragem pra fazer tudo que devo
e isso gera um vácuo imensurável.

Escrevo porque não consigo meditar
nem transcender para alfa, beta ou gama.
Nem sentir nada além do que a racionalidade freudiana me permite
e o mundo freudiano é bem triste, na verdade.

Escrevo porque tenho inveja das vidas bem vividas
onde se faz tudo que quer
melhor, onde se sabe o que se quer.
Onde se tem coragem de experimentar.
escrevo porque o que gosto descobri por acaso
e não tive ainda coragem de me jogar
para ver do que mais posso gostar.

Escrevo quase por uma necessidade de confissão
de pecados ditos, vividos ou fantasiados.
Escrevo por remissão.

Escrevo porque não confio na minha memória
escrevo pra pressupor o que há de vir.
escrevo para gastar menos dinheiro em terapia.

Escrevo para ter notícias de mim
e saber como vai a desordem interna
-embora eu sempre me arrependa de descobrir-

escrevo porque meus textos são uma máquina de hemodiálise
minha conexão com o mundo exterior são meus rins degenerados
as palavras necessitam ser purificadas dia após dia
para que eu não morra, para que não me mate.


Escrevo porque não sei cozinhar
nem me ensinaram a bordar nem a cozer
não sei tricotar
Mal sei lavar minhas roupas
e nada entendo sobre as premissas básicas
de como me portar como uma mocinha séria e recatada.
Aquilo tudo que esperam de todos nós.
Não sei ser Amélia, não a conheço, nunca a vi nem faço questão.


Quem diabos me ensinou a pensar???
Isso gerou muita, muita confusão.

4 de junho de 2011

O que dói mais que benzetacil?

Um amigo meu ficou doente e foi parar no hospital da nossa pequena cidade, reclamando-se de muitas dores na garganta, um tanto de febre e a má disposição. E como em geral, seu tratamento consistiu em uma boa injeção de benzetacil em lugar que não convém citar. Pois bem, na volta pra casa, o dito cujo definhou meus minutos a entoar a frase "O que dói mais que uma injeção de benzetacil?" como se tivesse entrado numa missão inglória de me torturar até o grau irreversível da loucura.
Não obstante meus repetidos apelos de que ele enfim cala-se sua boca e fosse curtir suas mazelas sozinho, o que me restou junto com uma boa dose de resignação foi pensar acerca dessa acertiva: "O que dói mais que uma injeção de benzetacil?"
Pois bem, eis que o período que parecia fadado a se incorporado aos momentos de expiação pelos meus pecados na Terra rendeu-me algumas valiosas conclusões, que farei questão de repetir ao meu amigo tão logo ele acorde do seu repouso medicamente prescrito.

- Dói mais amor não correspondido. E não ter amor nenhum também dói muito. Insônia por quatro madrugadas seguidas pode ser com certeza comparável a qualquer dor. Madrugada acordado após três noites de insônia sem internet então, nem se fala. Aniversário sem os seus amigos é com certeza uma puta dor. Isso só é pior que aniversário sendo esquecido por seus amigos.
Dor, dor mesmo pode vir de ingratidão. Ou de conformismo. Dor paulatina e caladinha, mas que dói todo dia. Dói a incompreensão. Dói a indiferença. O esquecimento, o abandono e a resignação. Dói uma canção de Henri Salvador sem a companhia de um bom vinho. Dói ainda mais uma canção de Henri Salvador sem companhia nenhuma. Dói tomar um bom vinho na companhia de alguém que nunca nem ouviu falar quem é o cara mas se recusa a ouvir uma estrofe sequer. Da mesma forma que dói adivogado, enchergar e ezagerado. Dói não saber nadar dentro de um parque aquático. Dói não saber voar dentro de um avião que vai cair. Dói não saber voar nem nadar dentro de um avião que vai cair dentro do mar. Viver é negócio muito perigoso, como diria Guimarães Rosa. Dói a falta. Dói não saber falar sobre o que te falta. Dói perder os sonhos, ou descobri-los impossíveis irremediavelmente.
Dói a cabeça durante a ressaca. Em mim dói o estômago também, mas em muita gente não. Dói dedo mindinho no pé da mesa, ou no pé da cama. Dói perder a final do campeonato estadual. Dói mais ainda perder para o maior rival, que por coincidência é o time de coração do cara mais perturbador do seu trabalho. Ou seja, maior que dor é dor com humilhação.
Dói perder um peão do seu jogo de xadrez artesanal comprado em Quixadá do Sul há vinte anos como um exemplar único. Dói encontrar uma coisa pela qual você pagou muito caro por ser única desfilando seu glamour na pessoa atrás de você no ônibus. Dói não ter dinheiro pra pagar o show de Chico Buarque; dói não ter previsão de quando haverá show de Chico Buarque.
Saudade, saudade dói demais até da conta. E cólica, e mau humor de TPM (seja pra homem ou mulher). Dói o pão caído com a manteiga pra baixo, pior se for em cima da sua calça novinha, e na hora que você ia sair. Pra piorar, só se você for o responsável por lavar suas roupas.
Dói noite quente sem nem um ventilador. Em quarto infestado por mosquitos, e sem a posse de qualquer arma letal de extinção em massa.
Dói carrinho de vendedor de cd pirata estacionado ao lado da sua janela. Dói mesmo se for bem na hora que você conseguiu parar pra estudar.
Enfim, lá se vão dezenas de coisas que doem mais que uma benzetacil. E pense bem, sua benzetacil dói aogra, mas é a solução dos seus problemas. Minha lista ai, muito pelo contrário, é onde começa o problema de muita gente.
Se quiser acrescentar um, dois ou vinte itens, fique a vontade.

30 de maio de 2011

O menino e o violoncelo

Garoava fininho mas ele realmente não parecia se importar. Na verdade, tenho para mim que ele nem se apercebia. Todo mundo começou a sair meio apressado à medida que os pingos ficavam mais intensos, até que na praça só ficaram o menino e o seu violoncelo. Eu estava do outro lado da rua, meio protegida pelo abrigo da parada de ônibus, e fiquei olhando curiosa. Nunca tinha visto um violoncelo tão de perto, muito menos no meio de uma praça no centro de Recife, às três da tarde e em plena chuva.
Ele sacudia cada uma das cordas com o arco com exacerbada precisão, como se o mundo fosse acabar se ele perdesse o compasso. E assim ele crescia sobre o instrumento, como criador e criatura, um exímio dominador do espaço e tempo.
Eu sempre tive um tanto de inveja dos músicos, pois eles me pareciam estar sempre em conexão direta com algum mistério indizível que desconheço acerca da vida, apesar da ciência de sua existência. Eu, no máximo, coloco algumas palavras dentro de conexões métricas e combino algumas rimas nada raras. Estou bem longe da magia dos reais artistas.
E sobretudo hoje essa conexão me pareceu real, palpável. Quatro cordas mágicas, entoando melodias tristes próprias de um violoncelo (porque o violoncelo já é por pré-definição um contador de histórias tristes). Com sua ligação direta aochão, é como se houvesse uma ligação direta entre o mundo das fantasias sofistas com nossa dolorosa caminhada terrestre.
A necessidade de que o músico o coloque entre as pernas o envolva, o abraçe, para que possa executar as notas para mim comprova a conexão evidente entre homem e magia. O braço levemente repousado no ombro do músico, como a buscar consolo, como a buscar inspiração.
Talvez isso seja mais uma das minhas utopias. Mas gosto de acreditar no que não posso ver, fazer o quê?

"Dó com baixo em dó
Sol com baixo em si
Lá com baixo em lá
Lá com baixo em sol
Fá com baixo em fá
Fá com baixo em fá sustenido
Sol com baixo em sol
Sol com lá bemol
Dó maior com dó
Sol maior com si
Lá menor com lá
Lá menor com sol
Fá com baixo em fá
Fá com baixo em fá sustenido
Sol com baixo em sol
Sol com lá bemol"

28 de maio de 2011

Sobre as canções

-Você me esqueceu! Você me abandonou aqui! Não gosto mais de você!
-Não fale assim minha menina, você não sabe o quanto senti tua falta, e quanto estive triste por esse mundo sem saber como voltar para te ver.
-É mentira. Todo esse tempo e nenhum telefonema, nenhum recado, nenhuma lembrança nem cartão postal. Você nem sequer se deu ao trabalho de se fazer lembrar. E eu aqui, pensando em você, preocupada com o que poderia ter te acontecido.
-Pois havia mesmo razões para você se preocupar. Andei por lugares horríveis, lugares escuros e frios, lugares onde as pessoas não gostavam de poesia, não queriam ouvir meus versos nem minhas canções. Pessoas que quiseram me fazer esquecer de onde vim e de que fui feita. Levei muito tempo para descobrir onde eu estava e quem eu era, e mais tempo ainda para descobrir o caminho de volta até você.
-Não acredito em você.
-Eu desaprendi a voar, minha doce Amélie. E por mais que tentasse, não conseguia me lembrar como eu fazia para flutuar sobre as nuvens. Era tão fácil com você. E o sussuro do vento, eu também desaprendi a ouvir. Então não conseguia ouvir seus doces recados que sempre me guiaram sendo transportados pelo vento. E nem quando chovia, Amélie, nem quando chovia eu conseguia misturar gota de lágrima e gota de chuva como se fosse uma coisa só, pra fazer um aguaçeiro de poesia. Eu acho que longe de você eu não sei muito das coisas, Amélie. Esqueci como dançar, como cantar, sorrir e até como amar. Os amores que tive doíam, doíam, mais do que curavam. E eu estava só, Amélie, só por não ter você, e nem ter a mim mesma.
-Sei bem como é se perder. Eu mesma me perdi há muito tempo atrás... Em idades longínquas que nem o tempo sabe contar. Mas quando a gente além de se perder na estrada, se perde dentro de si mesmo, é preciso muita muita luta pra saber aonde você quer mesmo ir parar. Se vale mais a pena o eu de hoje, o eu de ontem ou um eu de talvez amanhã. Descobrir onde está o seu verdadeiro eu.
-Aprendi, Amélie, que a escala evolutiva não nos leva sempre para o lugar onde queremos estar. O problema foi convencer a mim mesma que era certo voltar, que não era retroceder, mas se encontrar. Assumir o que eu era, o que eu sou e quero ser. O que eu tenho orgulho de ser. Foi quando peguei a auto-estrada, escrevi para ti um bilhete na rodoviária, onde eu contava a minha sina, contava que eu cansei de ser maltratada, contava as contas que deixei sem serem pagas e todas as minhas desesperanças. Eu estava triste, e com muito medo de nunca encontrar o caminho de volta.
- E como você conseguiu voltar?Como chegou aqui?
- Eu ouvi a canção. Eu estive vivo sem viver mas no fundo nunca deixei de escutar. A canção que era por você, era por mim e por toda a minha fé. A canção que me trouxe até aqui. A canção que soube esperar pelo dia em que eu quis voltar. A canção na contramão da estrada que não tinha nenhum chão, não tinha carros, não tinha ida nem vinda, não tinha nada que eu pudesse ou quisesse ver ou tocar. O que me trouxe foi a canção que nunca abandonou meu coração.
-É tão bom o efeito sonoro de você sussurrando suas loucas histórias no meu coração. Seja bem vinda de volta, você agora está em casa, e mesmo que vá pra longe, você vai saber voltar, e eu sempre vou estar aqui, afinal, esperando você.
Não me importa a solidão nem a dor nem a incompreensão nem o deserto nem o tempo
nem os pássaros nem o canto de marinheiros presos em embarcações naufragadas.

Não me importam os juros nem as cantigas sem cantor
nem os silêncios prolongados nem as ausências eternas
nem os silêncios mortais de poucos segundos
nem os cabelos brancos e os prenconceitos de todas as cores.

Não me importam o que acham ou deixam de achar.
Ou o que escrevem gritam sussuram e dissimulam
 
 O que realmente me prende o que ainda me faz vir aqui
o que sequestra minha alma e minha vontade e minha ânsia e minha necessidade
é entender qual é essa força essa bússola esse guia, esse karma
que me faz estar em meio a tanta poesia tanta ferida tanta angústia tantas dúvidas
e tantos problemas sem solução.

Quero saber o que rouba as minhas vírgulas
ao mesmo tempo que me enche de pontos finais
assim subitamente
sem prévias pausas respiratórias.
Algo me diz que iso não faz bem à saúde.

Minerais

Tu me disseste que pareço uma rocha:
fria, crua, insólita.

Pois vem após mim,
e lentamente abre meu corpo,
e observa atentamente
como tudo dentro de mim pulsa,
vibrante, numa agonia sôfrega de vida.

Como cada órgão, cada víscera
cada célula e cada átomo
está intimamente envolvido com a tarefa
que lhe foi determinada
com a busca irresistível e irrecusável
daquilo que chamo de felicidade.

Hoje sei muito do mar,
sei muito da vida,
sei muito da dor
e da dor que se sofre pra poder sorrir.


Se você não conseguiu perceber o mínimo movimento
a mais leve agitação,
faça as malas e siga seu rumo,
que garanto ser muito mais que
um frio e morto mineral.

Bossa Nova

Beira de mar,
canoa quebrada,
a canga na mão,
a areia no pé,
a pegada que o vento leva
a maria farinha se escondendo
fugindo, sorrindo, voltando, sorrindo
me perco e me acho
olhando pro horizonte,
que mesmo longe, bem longe
não me parece ter fim.
Distraída caminho no raso
pra onda não me quebrar
pra ressacar não derrubar
pro mar não me levar
pra eu não me entregar
pra eu não esquecer de voltar.

Saudade do Rio
com braços de Cristo abertos
numa Guanabara sem fim
e samba pra sambar
e poesia pra cantar
bossa nova pra assobiar

a me levar pra Copacabana,
a princesinha do mar.

diguindondiguindon
diguindondiguindon
diguindondendendon

O Rio não dá vontade de voltar.

10 de maio de 2011

Derradeiro suspiro

Agora que a morte enfim chegou, e sentou-se distraidamente ao meu lado, sinto que já não tarda mais o meu último olhar sobre esta vida. Este mundo por onde passei tão longos e arrastados tempos não mais verá a luz dos olhos meus. Nesse momento final, nao vejo luz, túnel, nem curta metragens em produções caseiras dos melhores e piores momentos da minha vida a se reprisar diante dos meus olhos.
Tudo está em silêncio, e não ouço nada além da respiração dela, marcada como os ponteiros do relógio. Todo o quarto parece estar tingido de azul, um azul que um dia me disseram que seria a cor da morte. A mesma cor que eu sempre pintei a poesia. O azul me cheira acre agora. Antes ele tinha um cheiro doce, leve, por vezes sofrido, mas isso era quase nunca. Como pode uma cor mudar de cheiro? Pensei que cheiros fossem propriedades intrínsecas das criaturas, mas até essa verdade indelével a morte vem agora derrubar.
Talvez nada seja como pensamos em vida, afinal. Talvez tudo seja bem  mais que relativo, tudo seja momentâneo. Tudo não passe de experiência, de vivência, de cadência, e isso cada um tem a sua. A cor tem o cheiro que cada um lhe pinta. Talvez minha poesia sempre tenha fedido à morte.
Não me arrependo de nada agora, ou de quase nada. Cresci, errei, repetidas e inúmeras vezes, mas aprendi sobre as coisas grandes, e sobretudo sobre as coisas pequenas, invisíveis, imperceptíveis, que mais quase ninguém via. E mesmo após numerosas lições, voltei a errar, e então pedi perdão quando foi necessário, gritei e esbravegei quando foi ainda mais necessário. Sobretudo amei. Amei a vida e seus mistérios e encantos. Amei a chuva e o sol preguiçoso de cada manhã. Amei o novo descobrir de cada dia. Amei as pessoas, com suas falhas e limitações, mas com sua graça e beleza. Amei o destino que me levou por caminhos dolorosos mas fantásticos e irrecusáveis. Amei a proposta irrecusável de viver. Amei a vida com a dor e a beleza de ser. Amei, amei, amei.
Hoje, diante do fogo cruzado de não saber o que será após o fechar derradeiro dos meus olhos, quando não mais a luz e o sopro da vida vierem me cegar e me sufocar a cada manhã, não é medo que tenho.
Sou curioso, sempre fui. Agora o que me cerca é a ansiedade por descobrir o que vem lá. E se não houver nada? Isso não me angustia. Espero pela magnificência do que estar por vir, e se não for nada, e não me restar nada, e se nem eu mesmo me restar, então lá nao estarei e o sofrimento pelo ganho de nada ou perca de tudo será por demais supérfluo e desnecessário. Na verdade o sofrimento por si só ira sequer existir.
Mas não sei como será.

7 de maio de 2011

If You See

Um pouco mais de cor
coloquem um pouco mais de cor
parece tudo tão cinza aqui
Não quero nada disso assim!
Vamos reformar a casa,
vamos pintar os muros
venham, celebremos a vida
que nunca acaba, que nunca acaba.

Hoje comecei tudo de novo
não do começo, mas do meio para o fim.
Limpei as teias de aranha
que tinham me feito refém
na minha própria mansão,
na minha solidão,
hoje eu tenho algo mais que a mim mesmo.

E assim posso voar
atrás do que me faz bem
do que existe além
esse mundo sistemático não me satisfaz.

Quero viajar por todo o mundo
e parar em cada cidade
para espalhar todas as coisas que aprendi
da vida nova que aprendi
do sentido de tudo que aprendi. 
Te importa o que aprendi?


Eu exacerbo meu léxico literário
para parecer mais importante do que realmente sou
Mas talvez você não entenda
não acho que você entenda
mas o verdadeiro exagero está
no que você só vai poder supor
eu não vou lhe ensinar
você pode entender?
Não vou lhe dar mais pistas.

Olhe para fora, a direita daqui
Sinta o que se move, devagar, em direção a você
só um pouco mais distante que o alcance do seu braço
tão perto que você pode sentir sua respiração
ansiando por você.


Mostre a ele o que ele quer.
Você não vai se arrepender.
Agora é sua hora.

(isso com uma melodia dava uma boa música, eu acho)

Explicações inexplicáveis.

Você é...

confusão que nunca acaba.
Turbilhão de sentimentos.
Reunião de grandes oportunidades desperdiçadas
jogadas ao vento
desiludidas, despedaçadas.

No meu braço eu tenho um relógio enlouquecido,
o relógio que você me deu, o relógio que era seu,
que era você.
Relógio que enlouquece o tempo
fazendo tudo andar pra trás.

Você se parece...

Com aquilo tudo que não sei
que nunca sei.
Com tudo que não tenho
nem sei se terei
Com algum livro que nunca li
mas sempre foi colado a mim,
na minha estante, olhando para mim,
me desafiando a lhe folhear
a lhe tatear,  lhe degustar
A lhe ter e lhe tocar.

Você tem...

Algo de místico, alguma coisa mágica
que você costura com sua linha de imaginação
você não pode ser real,
você não pode estar aqui, mas você está, e isso me parece incrível.

Agora eu tenho a cura,
ou tenho a fonte da doença?

Com você o mundo tem um quê de adorável, alguma coisa inexplicável, e eu sou mesmo muito boba por acreditar em algo assim.

Mas eu gosto de acreditar no que você me faz sentir.

Volte e me assombre mais uma vez.

Sesheps

Tenho um enigma a ser decifrado.
Corpo de leão, cabeça de falcão,
e um segredo, um mistério
esperando solução.

Cuidado ao caminhar no deserto
 Sou monstro, sou mito,
nem sequer sei se de fato existo
Decifra-me ou te devoro!

Será minha questão tão difícil
Serei eu impenetrável?
O que de mim você não entende?
Eu quero meu enigma decifrado!

24 de abril de 2011

Lobas

São raras, verdadeiras espécimes em risco de extinção. Você não vê muitas pelas ruas, definitivamente não. É difícil cruzar com elas, mas se você tem a sorte (ou azar) de fazer isso, com certeza vai identificá-la através do contraste com todo o resto.
A grande maioria a teme, como um bicho arredio e selvagem que é.
Ela tem uma beleza incomum, fora dos padrões comumente admirados. Na verdade sua beleza é bem relativa. Ela é atípica. É ágil, rápida. Utiliza isso para capturar suas presas, que devora num instante de segundo.
É fiel,  protetora, vive e morre pela sua alcatéia. Com seu espírito arisco, tem seu pêlo em uma sedutora desordem, fascinante, com força e viço. Não se rende. Não se entrega. Não se ela não quiser. Conhece a vida na mata, os ciclos da vida, do nascer e do morrer. Sabe o prazer que se sconde em cada estação, se move com a leveza do vento, com a rapidez das gotas de chuva e a força das corredeiras. Conhece seus próprios momentos, e não luta contra o inevitável. Não subestima as forças, mas as estuda, aprende, e subjulga. Ela e sua sabedoria instintiva. Corre com os outros, brinca e uiva para a lua, e de repente cisma, e implica que quer ficar sozinha, correr pela mata sem ser atrapalhada ou ter que se preocupar com nada ou ninguém.
Ela encanta, talvez pelo seu mistério. Ela tem um não-sei-o-quê inexplicável, indecifrável. Eu mesmo já desisti de entender.
Só cruzei com uma dessas uma vez, mas é uma daquelas coisas que você não esquece. Nos olhamos, e foi como ver um turbilhão de sentimentos pelos seus olhos caninos. Ela passou rápido por mim, mas não sem causar estragos suficientes. Nunca soube onde ela morava; depois descobri que ela não tinha morada fixa, hoje aqui, amanhã ali e mais tarde em qualquer lugar. Seu lar era seu mundo, seu lugar era onde quer que ela pudesse descansar. Ela não criava laços, afeições. Tinha medo de se fixar e se tornar a caça ao invés do caçador. Temia ficar susceptível.
Como se eu não soubesse o quanto susceptível ela era. repente, estávamos lá, no meio do campo que ela adorava varar em corrida disparada, e quando eu dava por mim, eu não via mais o animal ameaçador, destruidor. Lá estava um filhotinho perdido, com medo, assustado, que eu punha no colo e esperava adormecer. Ora isso, ora aquilo. As várias faces que as lobas podem ter. Não é fácil lidar com animais selvagens. Eles são tudo, menos previsíveis.
Mas não fui enganado, ela nunca mentiu acerca disso, e vez ou outra, vendo que eu teimava em desacreditar do seu espírito que pertence ao mundo, da sua necessidade de liberdade, ela me lembrava da nossa instabilidade discretamente, da impossibilidade da união entre o homem e o animal selvagem. Como quando eu a queria ninar em meus braços, quando ela pareceia um filhote indefeso, e ela vinha me recordar seus instintos, com uma feroz baforrada no pescoço. Eu me assustava, olhava em volta, mas não conseguia ver além do filhote que eu botava para dormir. Nada ameaçador. Maseu sabia que ela estava ali dentro, a fera. 
Acabou que me acostumei com a presença dela, me acostumeti com o que ela não podia me dar. Não por muito tempo. E assim foi um dia em que ela me olhou e me deixou em seguida, com sua corrida que não pude alcançar. Sua correria de animal selvagem. O perfume que deixou era o suor da liberdade. Ela e suas presas, que me revelou quando sorriu antes de me dar as costas. Era mesmo um sorriso? Não sei, muita coisa não sei, ela me deixou com todas as peguntas e quase nenhuma resposta.
Hoje tenho arrepios às vezes, e penso que é ela, à espreita, me observando, me vigiando.
Ela não pode ser capturada, nem domesticada, nem subjulgada pelas suas regras. Ela tem seu próprio código. Ela é escorregadia, dissimulada, camufla-se em meio a mata e só se mostra a quem lhe aprouver.
Ela é o puro equilíbrio entre a natureza e a civilização, entre a bondade e maldade, a harmonia das canções do universo, o centro de todos as coisas, movendo-se com maestria de uma versão a outra dos sentimentos, das aversões da condição humana.
Humana sim, pois ela é a pura confusão de ser mulher. Selvagem.

Palavras cuspidas

Jogo as palavras como quem não sabe o que diz. E a veloacidade dos meus dedos definitivamente não acompanha a velocidade do meu racioncínio, e quero me matar por isso. Porque quando vou pegar uma ideia, corro atrás dela, e quando dou por mim, Paela já tem ido.
Amo as palavras, amo como quem ama um filho, e vários filhos, e com eles quer fazer moldes, e modelos, e fazê-las médicos, arquitetos, músicos. Mas meus filhos, que pari ingratos, eles insintem em fugir de mim, como infantes rebeldes que se rejeitam a aprender o alfabeto. Minhas palavras são adolescentes. Houve um tempo em que me dava tão bem com elas, mas hoje sinto que me escapam. Que de maneira nenhuma dizem o que quero dizer. Não consigo encontrar minhas palavras. De quem são essas que uso? Não são minhas. Roubei-as de alguém? Não me lembro, e isso me tortura. Não me lembrar, como posso não me lembrar? Como uma peça que minha razão começa a me pregar. Nunca gostei muito dela mesmo, e hoje em dia, a desprezo quase que totalmente. Não a minha, unicamente. Mas todas as razões do mundo, que conseguem ser tão simples, como se a vida fosse ou pudesse ser simples. Nada mais racional eu aprecio. Quero o sentir de novo, as emoções borbulhando em mim como as palavras nesses texto. Pela primeira vez em não sei quanto tempo me permiti cuspir as palavras de dentro de mim através dessa agonia que me consome. Agonia de não dizer. Eu quero gritar, mas ninguém aqui vai me ouvir gritar e isso vai parecer meio louco, louco para mim que serei a única a ouvir verdadeiramente o grito, e tenho medo de parecer louca para mim mesma. Se eu for louca, não acreditarei mais em mim, e se não acreditar em mim não terei mais nada, mais ninguém. Pareço atormentada. Talvez eu esteja. A pressa de vomitar esse discurso me faz engolir letras, e a necessidade perfeccionista de voltar  e corrigi-las, e o tempo perdido, tudo isso me alucina. O que estou fazendo?
Eu não sei, você sabe?
Isso faz sentido para você?
Eu quero a minha vida de volta. E o amor, e a paz, e a certeza de que as palavras não vão me abandonar.