9 de julho de 2011

Desabafo

Porque eu estou naqueles dias com tanta coisa entalada dentro de mim que seu eu não escrever um texto juro que explodo ao primeiro contato com um objeto perfuro-cortante (i.e., palavras, gestos e até pressupostos pensamentos mal colocados).

O que digo é bem simples: tem vida e morte cohabitando no mesmo espaço contrariando as insuspeitáveis regras da física. Dois corpos no mesmo espaço, amotinados, aglutinados, fundidos já, mas ainda imiscíveis, distinguíveis, insolúveis.



Escrevo porque não tenho um trocado no bolso
e o taberneiro hoje não faz fiado.

Escrevo porque não sei de movimentos insurgentes
nem de fanáticos, frenéticos ou  mesmo barbitúricos
que possam aliviar a dor.

Não sei da democracia, nem da rebeldia
nem de como implantar um regime socio-comunista
na minha falida república monárquica
governada por um tirano desconhecido
que eu mesma estabeleci no poder.

Escrevo porque sou um pouco sombria
tenho medo de ficar sozinha comigo mesma
e se não escrever posso começar a gritar frases "nonsense"
num idioma morto há milhares de anos.
E isso me assustaria ainda mais.

Escrevo porque não tenho tempo pra nada
nem coragem pra fazer tudo que devo
e isso gera um vácuo imensurável.

Escrevo porque não consigo meditar
nem transcender para alfa, beta ou gama.
Nem sentir nada além do que a racionalidade freudiana me permite
e o mundo freudiano é bem triste, na verdade.

Escrevo porque tenho inveja das vidas bem vividas
onde se faz tudo que quer
melhor, onde se sabe o que se quer.
Onde se tem coragem de experimentar.
escrevo porque o que gosto descobri por acaso
e não tive ainda coragem de me jogar
para ver do que mais posso gostar.

Escrevo quase por uma necessidade de confissão
de pecados ditos, vividos ou fantasiados.
Escrevo por remissão.

Escrevo porque não confio na minha memória
escrevo pra pressupor o que há de vir.
escrevo para gastar menos dinheiro em terapia.

Escrevo para ter notícias de mim
e saber como vai a desordem interna
-embora eu sempre me arrependa de descobrir-

escrevo porque meus textos são uma máquina de hemodiálise
minha conexão com o mundo exterior são meus rins degenerados
as palavras necessitam ser purificadas dia após dia
para que eu não morra, para que não me mate.


Escrevo porque não sei cozinhar
nem me ensinaram a bordar nem a cozer
não sei tricotar
Mal sei lavar minhas roupas
e nada entendo sobre as premissas básicas
de como me portar como uma mocinha séria e recatada.
Aquilo tudo que esperam de todos nós.
Não sei ser Amélia, não a conheço, nunca a vi nem faço questão.


Quem diabos me ensinou a pensar???
Isso gerou muita, muita confusão.

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