30 de julho de 2009

Tudo por mim

Fiquei a pensar no que eu faria pra te ter aqui, sempre perto de mim...

A você, a quem dei meu bem-querer, imprudentemente entregaria meu coração, para usares como entenderes. E assim, impossibilitado de dominar a mim mesmo, meu sistema nervoso inábil para comandar suas próprias sístoles e diástoles, acabaria por te nomear senhora de minhas vontades.

A você, a quem amo desde que posso me lembrar, eu entregaria a primeira estrela da noite e o primeiro clarão do dia... Louca e humildemente, entregaria incondicionais 24 horas de uma existência que inexiste sem você.

Eu te daria de bom grado meus inexatos pensamentos, meus sorrisos sem causa, meus sonhos mais loucos, te daria todas as minhas não razões... Todo meu mundo incompreendido [ou indecifrável?]. Mais que tudo, te daria esse inesperado sentimento que não consigo mais guardar comigo. Domina, fascina. Destrói, constrói. Dói.

A você, por quem eu esperava desde sempre, eu daria cada uma das noites de luar, em que fico pensando em ti, a te admirar... e cada uma das noites de escuridão também te entregaria... onde é você quem brilha para me iluminar.

Dar-te-ia a eternidade dos segundos em que não te vejo, das tardes que se esvaem sem tua luz...

Eu te daria tudo... Eu que não tenho nada.

Se possível a mim fosse, amada minha, te daria algum tempo a mais de vida do que a mim foi concedido, para que eu não tivesse que sofrer a dor de te perder.

Por mais egoísta que pareça, na verdade tudo que faço por ti não passa daquilo tudo que faço por mim mesmo. Pois o que restará de mim se um dia você for embora?

25 de julho de 2009

Infinito

Eu, pequenina...
Mundo, imensidão...


Ando com medo de topar com o infinito

para evitar que ele me olhe bem fundo,

e me diga

que cá dentro de mim

mora um infinito bem maior que ele.

Tua

Chamaste-me de TUA.
Eu ia tão desapercebida da vida, e essa palavra tão curta veio me trazer de volta à realidade.

Deste-me como propriedade, eu que sempre defendi minha liberdade.
Eu que sempre vivi bem sozinha. Que sempre fiz questão de não precisar de mais ninguém.
Eu, tão independente, tão voluntariosa, tão circunscrita, controlada...
Tão confiante de mim mesma...
Agora reduzida a um pronome possessivo. Posse de outrem.
Revoltou-me a idéia de não pertencer a mim mesma. Ser de alguém acarreta diversas consequências que fogem ao nosso controle, e você sabe como gosto de ter o controle.
Ser de alguém é deixar de ser em mim... Render-me. Abandonar-me.
O desconhecido, o inavegado, o novo... me amedronta.
Nasci para pisar a terra firme, e manter meus pés em coordenadas marcadas. Nunca fui de me deixar levar...
Nunca fui de me render...
Nunca fui de me entregar.
Nunca caminhei em direção ao não sei o quê.
Prefiro a doce e satisfatória ilusão de pensar que sei onde caminho do que o desengano da incerteza completa. Sweet little lies.

No entanto, qual não foi minha surpresa quando,

ao me deparar com você a me olhar sorrindo,
ao ver o quanto eu já tinha caminhado com teus pés,
ao ouvir esse pronome pronunciado por teus lábios,

percebi onde eu quis estar desde sempre:
Em qualquer lugar onde eu seja TUA.

21 de julho de 2009

Demasiado

Hoje me descobri demasiado. Uma boa palavra para uma definição - já que insistem tanto em buscá-la.
Sinto-me demasiado o tempo todo. E tamanha é essa sinestesia, que parece, às vezes, que vou explodir. Esse infinito que mora dentro de mim e que insiste em ficar cada vez maior. Expansões constantes, ilimitadas.
Demasiado feliz, demasiado triste, demasiado sorridente, demasiado tímido, demasiado atento, demasiado inseguro... Sou pura e simplesmente demasiadamente humano, demasiadamente sonhador, demasiadamente questionador, numa incansável busca demasiada de algo mais.
Demasiado sublime, demasiado mundano... Uma mescla contante de pólos opostos. Demasiado improvável. Demasiado constante.
Demasiado sozinho, demasiado mutável, demasiado de um tudo em demasia. Ora demasiado multidão, demasiado barulhento, ora demasiado sozinho, demasiado de quietudes. Minhas demasias me consomem, me formam, me são.

Encontro-me então demasiado envolvido em uma busca concreta de algo inconcreto, de algo irreal, imaterial. Demasiadas loucuras, ao meu ver demasiadamente compreensíveis.

E, apesar de tudo, ainda me acompanha essa demasiada incompreensão a me cercar, me abarrotar, me tolher... Demasiada injustiça, que insiste em querer me limitar...

Os demasiados foram feitos para expadirem mais e mais. Dilatação térmica e calorimétrica. Expansão dos corpos consequente da demasiada agitação de moléculas que me compõe. Podem não compreender minha ciência inexata, mas da Física eles não podem duvidar...

19 de julho de 2009

Amar é...

É quando a gente quer chorar e mesmo assim sorri
É quando se treme de medo e ainda ousa arriscar
É quando se tem saudade antes mesmo de ir
É quando se parte querendo ficar.

É quando se quer ir embora e não se consegue fugir
É quando tudo que se tem não é o bastante
É quando, olhando nos olhos, não se pode mentir
É quando se troca toda a vida por apenas um instante.

É quando tudo mais perde o sentido
É quando a existência perde o rumo, a direção.
A vida vira um barco sem destino
levado pelos loucos temporais do coração.

Filme Antigo

Amor é filme antigo.

Daqueles em preto e branco. Cinema mudo.
Não se precisa de palavras quando olhares e gestos falam tudo que se precisa ouvir. Não se precisa de cores quando são os sorrisos que iluminam.
Amor não precisa de complexidades. Amor deixa aquele gostinho bom de pipoca com manteiga e pastilha de menta, e o barulhinho do projetor passando a película, quadro a quadro, tecendo histórias.
Quando as luzes da sala se apagam é que a magia começa. E ninguém está preocupado com a hora. A gente quer é que demore mesmo, que o mundo se esqueça da gente...
E a gente vive a história. A gente ri, sofre, chora, ama. Com todas as letras. Em todos os idiomas. Porque o amor é um só.
E todo mundo faz silêncio. Cada um quer descobrir o mistério da história, saber antes de todos como vai ser o final.

Será saudade?
Será sorriso?
Será desejo?
Será dor?

E cada um encontra sua trilha sonora, a música que embala seus passos. Trágica, cômica, romântica. A música que move o mundo. O mundo que move a gente.
A gente constrói nosso personagem.
E cada filme vai ter sempre uma mocinha, procurando seu amor. Mulheres filhas do tempo, dos ventos, das dores, das alegrias. Mulheres que constroem sua história.
E vai ter um mocinho, que vai lutar contra o mundo todo pra ficar com ela. Porque sem ela não há mundo.
E o amor vai ser lindo mesmo, infinito. Amor de cinema. De filme antigo.
E vai ter o beijo, bem no finzinho, pra todo mundo ir pra casa feliz.

18 de julho de 2009

Bermudas

Bermudas
claras, escuras
de grife ou de feira
Não importa a bermuda
Importa é que mudas.

Mudas de cor, mudas de fase
mudas de sol e de planeta
mudas de opinião e mudas de contraste
Mudas.

Mudas de planta,
muda que vira árvore.
Muda que vira sombra.
Muda que vira flor.
Muda.

Muda de silêncio.
calada, parada. Estática.
Muda de segredo.
Muda de sigilo
Muda de sossego.
Muda.

Não importa o BERro, o BERço
não importa a BERlinda,
não importa a BERmuda.
O importante é o que MUDA.

17 de julho de 2009

E de que são feitos os sonhos?

De que são feitos os sonhos?

De utopia, fantasia, aspiração,
da matéria mais irreal,
de ilusão,
São feitos daquilo que não temos,
da união de tudo que queremos...

São desenhados com tinta de esperança,
arrematados pela espera que não cansa.

Perserverança.

São feitos de desejos
humanos, reais, concretos
loucos, hipotéticos.
Incertezas do destino.

Desatino.

São feitos de futuro,
de passado,
de presente.
De tudo aquilo que se sente.

Sonho é aquilo que nos leva em frente.
Que me faz a cada dia sorridente.

Que dá o brilho iluminado das estrelas
que me faz querer ser mais e mais.

Mais feliz
Mais completa
Mais sonhadora
Mais poeta.

11 de julho de 2009

Meu português

Eu estou cansada de conjugar meus verbos em futuro do pretérito. Sinceramente, acredito que não exista tempo verbal mais improlífico. Não quero mais pensar que eu amaria, viveria, faria, conseguiria. Quero descarregar minha vida dessas incertezas, hipóteses, irrealidades.
Aproveitando o ensejo, me livro logo também de todo o modo subjuntivo. Nada mais de se eu fizer, quando eu puder, ou que eu consiga. Vou preferir de agora em diante os verbos bem no presente. Bem no agora do indicativo.
De passado apenas os perfeitos. Bem completados. Vividos e acabados. Deixados para trás, mortos e enterrados. E o futuro deixo pra conjugar quando virar presente.
Ah, e nada mais de verbos defectivos, incompletos. Quero da vida todas as flexões, experimentar todas as possibilidades. Se for pra ser um verbo, que seja um anômalo, de radicais irregulares, nunca igual, nunca previsível. Que eu possa SER, sou, és, é, somos, sois, são.
Acabo também com a voz passiva dos meus dias. Meus sujeitos nunca mais serão pacientes. As f(r)ases de vida serão construídas sob a atividade da minha voz. Sem mais deixar meus sujeitos ocultos, ou com índices indeterminados, vou preferir colocá-los bem expostos, simples ou compostos; sujeito agente, experienciador.
Abdico ainda do particípio chato, sempre com os mesmos auxiliares, medíocre, que não consegue ser sozinho. Nada mais de tinha partido, tinha ficado, nada mais enxuto ou enxugado. Ou isso ou aquilo. Nada de verbos abundantes que querem dizer a mesma coisa.
Vou viver de gerundismos, existindo sempre numa progressão indefinida. Estar sempre caminhando, buscando, indo e voltando. Nunca parada, sempre conjugada.
Pra ser sincera, se eu pudesse escolher, seria infinitivo e só. Nada mais simples. Nada mais óbvio. Sem tempos, sem modos. Apenas um radical e seu tema. A vida como ela é. Sem alardes e enfeites. Sem renunciar às flexões necessárias a uma vida em sociedade. Mas fazer concessões pequenas, para que eu não me perca em mim mesma. Eu cantar, tu cantares. A essência fica preservada.
E pra viver bem meus dias, coloco muitos apostos entre minhas entrelinhas, pra que fique bem claro tudo que quero. Apostos dos mais variados. Aposto especificador, explicativo, numerador. E salpico de vocativos meus períodos mistos, repletos de coordenações e subordinações, porque afinal de contas, viver sozinha é muito chato.

Um amor, um luar


Ele saiu no meio da noite, antes da lua chegar... Ele queria chegar cedo, antes dela, no local marcado. Ele ia sonhando com ela, com sua luz enigmática, que enchia a alma dele de uma paz sem fim.
Mas a lua encontrou com ele antes disso, enquanto ele ia perdido em devaneios pela estrada. Ele parou, olhou pra ela, e sorriu. Um sorriso bonito que dizia o quanto ela estava linda. E ela sorriu de volta. Um sorriso de quem se sabe amada.
E o mundo se encheu da luz daqueles sorrisos. A cidade se iluminou, e as flores fizeram questão de perfumar o caminho deles. E o vento parou de soprar, o tempo queria parar, e tudo fez silêncio; o mundo parou para olhar.
As estrelas preferiram não brilhar naquela noite, pois era impossível competir com a luz daquele amor. Amor infinito. Era um amor daqueles grandes de verdade, amor que dói pro dentro. Porque amor que não dói não é amor.
E naquele dia, nem o sol quis nascer, nem a noite acabar. Aquela noite queria ser eterna, para a lua nunca ter que ir, para ele não ter que ficar, e para a magia ser eterna, a magia do luar.

8 de julho de 2009

Escrever

Existem muitos motivos pra escrever.

Tem gente que escreve pra diminuir saudade, pra encurtar a distância. Tem gente que escreve pela arte, pela literatura, pra eternizar...
Tem os que escrevem pelos leitores, aquilo que as pessoas querem ler. Gente que escreve pra ensinar, gente que escreve pra aprender.


Eu escrevo pra aliviar a mim mesmo. A minha alma que transborda todos os dias e necessita de uma descompressão. Eu escrevo pra colocar para fora o que me expande, me dilata, me dilacera.

Se eu não escrever morro. Sufoco. Explodo. Vou sendo pouco a pouco comprimida pelo peso de tudo que sinto, ouço, vejo, sou. Uma morte lenta, dolorosa, solitária.

Sou egoísta. Penso apenas no meu alívio, e almejando isso, cuspo as letras rápida e impensadamente. Não meço as linhas. Não meço os termos. Vomito o que me abarrota.

E tenho assim alguns instantes de paz, que logo são levados embora pela próxima onda de sentimentos. Um eterno preencher e esvaziar.

3 de julho de 2009

Arco-íris

Entre cinzentos arranha-céus,
Entre lágrimas mudas,
Entre nuvens negras,
entre livros tristes;

Em meio à falta de sentimento,
ao inexplicável desengano,
em meio à falta de utopia,
e aos tristes desencantos.

Cercada de vozes que não falam,
sorrisos que se calam,
em meio a canções mudas
e idéias tristes.

No limiar da loucura do mundo, da desesperança,
da angústia, do desespero.


Ela via um arco-íris. Sete cores, sete sabores. Sete segredos. Uma mistura de sonhos, ilusão, encantamento.
O tal arco-íris a seguia por toda parte.
E era lindo, de cores vibrantes, intensas, berrantes.
E ela percebeu que ele vinha dela. Nascia dela.
Que se formava nas facetas caleidoscópicas do seu coração. Exatamente quando as gotas de lágrimas se misturavam com a luz da esperança.