25 de junho de 2009

Passagens

Não sou boa com formulações. Idéias prontas e pensamentos pré-formados definitivamente não combinam comigo. Gosto de ruminar as idéias. Lentamente.
Não tenho fórmulas. Penso melhor que falo. Enlouqueço melhor que penso.
Não sigo padrões. Não sei muito de mim mesma. Porque eu nunca sou a mesma.
Sou uma metamorfose incompleta. Transitória. Volúvel e volátil.
O mundo faz de mim uma nova história a cada dia. A vida e suas surpresas. Eu e meus conceitos.
Minhas frases são curtas. Secas. Diretas. Meus pensamentos são longos, molhados, intermináveis.
Não gosto de falar com os outros para mostrar minhas idéias. Gosto mais de falar comigo mesma, de brigar com meus pensamentos e duvidar das minhas certezas. Provar a mim que estou errada, em mutação, em migração.
Passando de mim a mim mesma. Ao novo eu, que (re)surge a cada dia.

22 de junho de 2009

Ela e seu sorriso

Ela queria ter um sorriso no rosto todos os dias. Ela conhecia a força do sorriso.
Sabia seu poder de mover o mundo, melhorar dias, mudar histórias.
Então ela ria bem alto, mesmo quando não estava tão feliz assim. Assim ela podia passar adiante esse sentimento gostoso de que a vida vale a pena, de que as pessoas sempre têm um lado bom...
Ela acreditava em fadas, em anjos, em bondade desinteressada. Ela queria ser a princesa de um conto de fadas, queria pisar na lua e ter uma casinha branca com varanda, pra ver o por do sol.
Ela soprava na areia, e espalhava no ar poeira de estrelas. O céu ficava lindo quando ela sorria.
Ela fechava os olhos e imaginava que o sorriso podia realizar todos os seus desejos.
Então mesmo nos dias mais sombrios (e ela tinha muitos), ela vestia seu sorriso mais lindo, e saia pela rua.
E ninguém sabia porque ela sorria. Mas ela sorria mesmo assim.

21 de junho de 2009

Virando a página


Tem horas que tudo que precisamos, Vinícius, é virar a página do caderno e começar de novo. Afinal cadernos são para isso mesmo.
Eles já vêm cheios de páginas, pra sempre que a gente errar, virar a folha. Aí temos uma folha novinha, pronta pra ser inaugurada. A folha velha, rasurada, continua ali atrás. Podemos voltar a qualquer momento, pra ver o que erramos. Podemos até rasgá-la, com cuidado, pelo cantinho, tentando deixar o mínimo de marcas.
Mas eu prefiro deixá-las ali atrás, ao alcance da mão. Pra evitar os mesmos erros.
Quando viro as páginas, nem sempre quero esquecer o que deixei na folha do dia anterior. O mais triste, Vinícius, é que às vezes eu finjo que esqueço.

"Vire essa folha do livro e se esqueça de mim
Finja que o amor acabou e se esqueça de mim
Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz
E que ter medo de amar não faz ninguém feliz

Agora vá sua vida como você quer
Porém, não se surpreenda se uma outra mulher
Nascer de mim, como do deserto uma flor
E compreender que o ciúme é o perfume do amor."

Acho que sou nova a cada dia. Uma renovação incansável. Novas coisas em velhas páginas. Tenho muitos cadernos para escrever.

19 de junho de 2009

Tem certas coisas, Vinícius

Andei pensando em certas coisas, Vinícius.

Acho que "Certas palavras podem dizer muitas coisas;"
e mesmo assim haverá pessoas que não entenderão nem o primeiro raciocínio. Palavras foram feitas para serem ditas, Vinícius, não para morrerem presas na garganta. Tem dias que eu queria gritar para fazê-los entender. Tem dias que eu desisto de tentar. Minha mão se cala. Minha voz se perde. E minha alma chora imersa no pior tipo de solidão, aquele cercado de gente por todos os lados.

"Certos olhares podem valer mais do que mil palavras;"
. Por isso escondo meus olhos várias vezes. Tenho medo que descubram meu universo. Não confio muito em seres humanos. Eles não são bons em guardar segredos, e meus olhos também não.

"Certos momentos nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora;
". Gosto desse sentimento de que as coisas são infinitamente maravilhosas, que tudo que existe é o aqui e o agora, desses momentos que me tiram o fôlego, que me devolvem a alma, que me fazem sentir viva o suficiente pra continuar.

"Certos gestos, parecem sinais guiando-nos pelo caminho;"
. Parecem mandados de outro mundo, de outro lugar. Parecem a coisa certa, no lugar preciso. Um toque, um sorriso ou um abraço podem mudar um dia.

"Certos toques parecem estremecer todo nosso coração;"
. Toques que vão além do corpo, estremecem a alma, reviram a gente por dentro. Tem gente que tem essa capacidade incrível de ir mais além que a maioria. Sem nenhum esforço, e com toda a diferença.

"Certos detalhes nos dão certeza de que existem pessoas especiais,"
. Pessoas que mesmo sem dizer nada, deixam a certeza da presença. Uma terna confirmação de que não estamos sozinhos, que nosso caminho é melhor quando alguém caminha ao nosso lado, mesmo que não esteja lá todos os dias.

"Assim como você, que deixarão belas lembranças para todo o sempre."
.

Sinto saudades suas.
Sei que você entenderia minha "louca" razão.

18 de junho de 2009

Boa noite, Vinícius

















Hoje tenho muito sentimento, mas poucas palavras.
Não sei bem como traduzir o que sinto. A vida lembra um labirinto...
São curvas, voltas, cruzamentos, e todos os caminhos parecem tão iguais... Como num Déjà vu.
Como era mesmo que você dizia, Vinícius?

"Não me lembro de onde vim
E já nem sei mesmo para onde é que eu vou
Não conheço o meu caminho
Estou começando a nem saber se estou
Sou um manequim, eu sou eu sem mim
Sou um manequim que a vida já despiu
Que o vento já levou."

Espero não topar com nenhum minotauro. Mas se ele aparecer, acho que vamos sentar, e conversar. Ele deve ter muita história pra contar.

Entre uma xicará de café e outra, quem sabe ele me diga que Teseu não era tão forte como dizem.
Talvez ele saiba o segredo de Dédalo para construir o labirinto. Pode ser que ele tenha visto Ícaro cair do céu...

Quem sabe ele me ensine o caminho mais rápido de dar o fora daqui...

Definições



















Sou todas as estações do ano.
Sou verão, o sol, o mar e sua imensidão... O calor e a vontade de correr, de gritar e ser feliz.
Sou outono, sou renovação. Posso ser frágil como uma folha seca no chão, posso ser um vento forte, um arrastão...
Sou inverno, casaco de lã (pra aquecer), chocolate quente (pra adoçar), tempestade (pra agitar), inundação (pra esquecer e ir em frente - tipo deixa rolar!)
Inquieta e intrigante...
Também sou primavera... Jardim colorido, ondas do mar, nuvens do céu, brisa e chuva fina...
Alegria pululante e incontida!
Sou risos, sou gargalhada, sou choro, sou lágrima.


Sou menina, sou mulher, faço bico, faço birra (e quem não faz???)
Faço carinho, me apaixono.
Mais cedo ou mais tarde, vou trocar seu nome, ou confundir seu endereço (depois de três anos, ainda confundo as Ray's).
Não sei fingir o que não sou e o que não sinto. Cada um com suas limitações.
Sou pernambucana, sou praieira, sou Gonzaguinha, sou Gonzagão...
Sou brejeira, sou manga-rosa, sou Djavan, Gilberto Gil, Lenine e Legião.
Sou lilás, branco, verde, azul, marrom, e de vez em quando, preto...
Sou caminhar pela rua, sem parar, sem pensar, sem destino, sem lugar...
Sou Gravatá, sou Alto do Moura, sou Recife, sou Ladeira da Sé.
Sou barulho e sou silêncio. Gosto de brincar com as palavras. Queria mudar o mundo.
Sou uma mistura de todas as coisas que você conhece e de algumas que talvez venha a saber...

17 de junho de 2009

Bom dia Vinícius,


Hoje eu saí andando bem devagarinho, tentando controlar meus pensamentos. Eles estavam sobremaneira revoltos esta manhã. Fui pisando pé ante pé, para que eles não acordassem as crianças que ainda dormiam, não distraíssem as pessoas nas ruas, nem saíssem descontrolados causando confusão.
Quis fazer silêncio. Silêncio só por fora, porque por dentro eu era tempestade. Uma tempestade forte, revoltada. Chuva torrencial, gotas grandes, afogadoras. Eu ia pensando no mundo. Pensando na vida. Pensando no tempo.
Vi dois homens que corriam com tanta pressa como se não tivessem tempo nenhum. Vi um casal namorando como se tivesse toda a eternidade. Vi uma criança que nem sabia o que era o tempo.
E o tempo foi passando...
E eu continuei andando.
Vi bombas que destruiram muitas vidas... Vi vidas que nem pareciam vidas.
Vi prédios crescendo, Vinícius, cada vez mais alto. Vi o mundo esquecer que era mundo. Gente que não era gente. Pessoas indo, pessoas vindo. O que ficou? O que resta Vinícius?
Se você estivesse aqui, você me diria que

"Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança."

Eu acho que você sempre soube não é? Que é ela que move move o mundo... Essa tal esperança...