24 de abril de 2011

Palavras cuspidas

Jogo as palavras como quem não sabe o que diz. E a veloacidade dos meus dedos definitivamente não acompanha a velocidade do meu racioncínio, e quero me matar por isso. Porque quando vou pegar uma ideia, corro atrás dela, e quando dou por mim, Paela já tem ido.
Amo as palavras, amo como quem ama um filho, e vários filhos, e com eles quer fazer moldes, e modelos, e fazê-las médicos, arquitetos, músicos. Mas meus filhos, que pari ingratos, eles insintem em fugir de mim, como infantes rebeldes que se rejeitam a aprender o alfabeto. Minhas palavras são adolescentes. Houve um tempo em que me dava tão bem com elas, mas hoje sinto que me escapam. Que de maneira nenhuma dizem o que quero dizer. Não consigo encontrar minhas palavras. De quem são essas que uso? Não são minhas. Roubei-as de alguém? Não me lembro, e isso me tortura. Não me lembrar, como posso não me lembrar? Como uma peça que minha razão começa a me pregar. Nunca gostei muito dela mesmo, e hoje em dia, a desprezo quase que totalmente. Não a minha, unicamente. Mas todas as razões do mundo, que conseguem ser tão simples, como se a vida fosse ou pudesse ser simples. Nada mais racional eu aprecio. Quero o sentir de novo, as emoções borbulhando em mim como as palavras nesses texto. Pela primeira vez em não sei quanto tempo me permiti cuspir as palavras de dentro de mim através dessa agonia que me consome. Agonia de não dizer. Eu quero gritar, mas ninguém aqui vai me ouvir gritar e isso vai parecer meio louco, louco para mim que serei a única a ouvir verdadeiramente o grito, e tenho medo de parecer louca para mim mesma. Se eu for louca, não acreditarei mais em mim, e se não acreditar em mim não terei mais nada, mais ninguém. Pareço atormentada. Talvez eu esteja. A pressa de vomitar esse discurso me faz engolir letras, e a necessidade perfeccionista de voltar  e corrigi-las, e o tempo perdido, tudo isso me alucina. O que estou fazendo?
Eu não sei, você sabe?
Isso faz sentido para você?
Eu quero a minha vida de volta. E o amor, e a paz, e a certeza de que as palavras não vão me abandonar.

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