11 de novembro de 2009

Nossa peça

E o que nós estamos fazendo aqui, afinal?
Quem apagou a luz do cenário teatral?




Liguem os refletores, rufem os tambores,
Comece a comédia da vida real!

Vida de superfície.
De que valem os interiores? Dá muito trabalho parar e olhar.
Ninguém demora mais que dois minutos.
Pra que o tempo, pra que a demora, pra que ficar?

O que de bom você tem aí pra me dar?
Fala logo, tô com pressa, não dá pra esperar...
Se demorar, a fila anda, não vou ficar.
Não vou ficar.


Ou melhor, só dá pra ficar.
Não dá pra sonhar, não dá pra amar.
Eu quero sentir. Agora, já!
Que me importam os que vêm por aí?
Nesse instante, pra cá!
Eu não quero demorar.


Vida banal. Vida banida.
Condenada à cadeia do Eu
Eu posso, eu faço, eu quero
eu sou!
E de que valem os nós?
Desfaçam os nós.


Dêem espaços aos Eus.
Eus viciados, drogados, condenados
fumando solidão aos maços e maços.
Vida tragada aos maços.
Amassos.


E o que se fizeram dos seus?
Quem ficou com os meus?
Quem ensinou esse jeito novo
de se não se apegar?
A gente nem viu a hora passar...
Impessoou a vida.
A gente desistiu de sonhar.
Que prazer você pode me dar?


Agora não dá.
Vou te ensinar.
Deixa pra lá.
Quem sabe outro dia, outra hora,
qual a diferença que isso faz?
Mais cedo, mais tarde,
Tanto faz, tanto faz.


E a gente vai vivendo a vida
cada dia mais perdido
no meio da multidão
de atores contratados,
mal remunerados
classe operária da dissimulação.


A gente esqueceu como é viver
a gente veio olhar o palco se acender
Assistir a vida de camarote
A gente fecha os olhos nas cenas mais fortes.
Finge que não vê, finge que não vê.


A gente veio ao mundo a passeio.
Se complicar, ano que vem
as férias são em outro lugar.
A gente aprende fácil.
O que o dinheiro não pode comprar?


E sou eu no centro do palco?
Rosto pintado de branco,
nariz redondo vermelho.
Fazendo rir quem assiste
a peça do mundo inteiro?

Só porque não sei brincar
desse jeito novo de se relacionar?

Qual a graça dessa peça?
Não há! Não há!

3 comentários:

Klécia Melo disse...

Mais um dos meus textos de revolta social!
E tenho dito!

Anônimo disse...

Enquanto espero desocuparem o fluxo do lab =D...
Ca, parabens, esse foi punk =)

Anônimo disse...

Entendi o texto, mas desculpe-me garanto que não era a intenção.