30 de novembro de 2009

Aniversário

-Sabe Amélie, é triste ficar velho.

-Sabe qual é a maior tristeza em ficar velho, pequena criança?
-Não, não sei.

-É passar da idade de poder chorar sem motivo, e levar a vida a ter que dar explicações lógicas a coisas que simplesmente não as têm, que apenas são o que são, indefiníveis.
É começar a juntar nossas emoções em ordem biográfica, cronológica, separando em dias, meses e anos o burburinho de sentimentos, como fotos num álbum de família.
É alcançar a idade de construir textos preocupado com métricas e rimas ricas para se dizer o que se sente, esquecendo os olhares e os colos onde podemos apenas nos recolher na hora que quisermos, sendo totalmente compreendidos em nossas angústias, anseios e amores.
É adquirir a capacidade de colecionar sentimentos inúteis, maquinações e premeditações, trocando nossa impulsividade infantil pelos medos, pelas táticas, pela racionalidade.
É aprender a viver histórias emprestadas, imitadas, vislubradas entre uma propaganda e um anúncio de TV.
É esquecer nossas verdades absolutas, nosso mundo tão pequeno e tão imenso por referências, análises e filosofias de outrem.
É parar de usar tão somente os pronomes pessoais do caso reto, se impondo os incômodos oblíquos.
É precisar de analgésicos e opióides para ser feliz na vida.

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