14 de novembro de 2009

Embriguez

Há que se embriagar para bem viver.

Há que se tornar ébrio dia após dia, logo bem cedo de cada manhã, para suportar os passos que ficam cada vez mais ásperos, mais duros.

Há que se entorpecer o cérebro para evitar as dores da vida. Para suportar as injustiças. E as justiças por algumas vezes.

E nesse ponto fico feliz em ser mulher, uma vez que a lenda reza nossa menor resistência à embriaguez. E lamento copiosamente a pena dos tolerantes, dos resistentes, dos imunes... Como lhes deve ser dura a vida nua a crua... A vida que nos arrasta para baixo, nos derruba no chão, caindo sobre nossos ombros como o peso da gravidade sobre a matéria.

Há que se embriagar com o vinho que mais te aprouver: poesia, sonhos, amor. Não importa o combustível. Detêm-te no resultado final de teu intento. Dessa forma, sorve tua taça por inteiro, sofregamente, insaciavelmente.

Desenvolvamos a capacidade de viver os dias entorpecidos nas verdades que criamos para evitar danos a nós mesmos. Sejamos bravos o suficiente para assumirmos nossa covardia. Nossa fuga. Nosso esconderijo. Sejamos bêbados, trôpegos, aspirantes de uma vida que nos quer ser tirada pela aspereza dos dias. Sejamos humanos. Sejamos o que somos. Libertemo-nos. Embriaguemo-nos para que o mundo veja nossa verdade, se quando sóbrios nos acovardamos e nos reprimimos, viramos escravos do tempo, da matéria, de nós.

Aprendam essa pequena lição. E me dêem minha taça de poesia cheia até transbordar, que hoje o dia amanheceu cinzento demais...

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