30 de novembro de 2009

A bailarina

Ela tropeça os pés calçados com sapato de fita nos versos que espalha pelo chão. A bailarina já não ouve mais canção.
A sapatilha usada, gasta, estragada. A sapatilha que de tanto no mundo tão pouco viu, tão pouco sabe.
Os passos ensaiados em frente ao espelho, como quem quer alcançar a perfeição de si mirando no que há fora. A singeleza do gesto, a magia de cada rodopio.
Os passos no ritmo da bossa nova... A bossa embalando as voltas.
As quedas disfarçadas num passo de dança.
A bossa entoando a vida. A bossa nem mais tão nova...
As notas das canções, pintadas de azul. Azul cor de poesia.
Dó Ré Mi Fá[zendo] eco em mim,
Não estamos Sós,
Lá vamos nós outra vez...
Tentando refazer o que sobrou de si.

A bailarina procura certezas em meio às incoerências. Os passos desconcertados de uma valsa já batida, já marcada.
Ela senta no chão, esperando não se sabe o quê.
Ou ela espera história acontecer. Esperando a música soar, as notas vibrarem, ela espera os versos azuis.
A bailarina espera o dia de dançar.
Enquanto isso ela cuida de si.
Ela cuida das sapatilhas, minuciosamente, com gestos mínimos, sussurrados...
Enquanto entoa a valsa triste de quem espera um amanhã incerto.

"Astronauta, diz pra mim cade você, bailarina não consegue mais viver."

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