18 de novembro de 2009

Pensamento clichê

Porque a beleza está nos olhos de quem vê. Clichês de linguagem falada, clichês de linguagem escrita, clichês de formas de viver. O clichê dos clichês.

Eu na verdade me acho bem clichê, e acho que por assumir isso mereço alguns pontos a menos com muitas pessoas.
Sou clichê porque não consigo ver forma mais bonita de terminar um dia que na beira da praia vendo o sol se pôr. Sou clichê por gostar de MPB, de rosas, abraços e de roda de amigos.
Sou clichê por gostar tanto dessas coisas já tantas vezes ditas, tantas vezes feitas... Sou clichê por gostar do trivial, do simplista.
Afinal as repetições viram clichês. E não imagino minha vida sem eles.

[Se eu um dia não mais ouvir um - eu te amo (afinal o que pode ser mais clichê? Qual o mais repetido, mais desgastado clichê?) eu realmente vou começar a achar que estou no mundo errado].

Acredito realmente que a questão não está no que se diz, mas na forma como é dito. Como as mesmas palavras podem tomar conotações totalmente díspares quando ditas por pessoas diferentes, em dias diferentes.
Porque o clichê da voz embargada de Chico Buarque acompanhada pelo mágica do piano de Jobim transformam a mais consagrada declaração de amor na mais nova forma de se amar.
Porque a voz clichê de Maria Rita, de Gilberto Gil e de Oswaldo Montenegro realmente podem fazer muito bem, mesmo quando repetidas initerruptamente, várias vezes por dia, vários dias por semana.


Salve os clichês!
São milênios de história. Milênios de formas de dizer, e re-dizer, e não dizer. Muitas coisas já foram ditas, não ditas, e deixadas por ditas. Como saber se o que você fala não já foi dito há alguns minutos atrás?

Se alguém quiser inventar uma forma nova de cantar a vida boêmia, de perder a noção da hora, de travessuras em noites eternas, tente uma não dita por Jobim+Chico Buarque.
Tente ser um amante a moda antiga e não se ver refletindo Roberto Carlos.
Tente ser um apaixonado não romântico, tente ser romântico e não ficar louco desvairado, tente ser um poeta que não fala de amor, tente ser um político que não faça promessas.
Tente não ser clichê.
Tente não ser padrão.
Seja o que for, seja original
.

[Que fique bem claro que não defendo as cópias, os plágios e as re-edições. O que defendo aqui é que as frases que todos defendem como desgastadas, assim o são porque realmente causam algum impacto em quem as ouve, por isso se tornaram clichês]


Por isso que sem você o mundo é só sofrimento, e continuamos abrindo com chave de ouro nossas frases de impacto. E antes de mais nada, é importante aparar as arestas que ficam nessa discussão. E vamos a todo vapor, a toque de caixa, fazendo uma atuação impecável. Porque a voz rouca das ruas sempre fala mais alto, e bater de frente quanto à onipresença de clichês nunca vai nos levar a um denominador comum.
Enquanto o mundo se desdobra em calorosos aplausos, carreiras meteóricas, em melhores bandas dos últimos tempos da última semana, vamos vivendo nossa vidinha de sempre, nossa vidinha mais ou menos, brincando com a caixinha de surpresas, trocando figurinhas. Porque figura repetida não completa albúm. Não mesmo.
Via de regra
, dia após dia é a comédia da vida real, a vida como ela é. Com direito a congestionamentos monstruosos e consequências imprevisíveis. Vamos correndo por fora, tentando conseguir nosso lugar ao sol. Dispensamos apresentações. Nos queremos desconhecidos mesmo. Assim evitamos as duras críticas. Mas não as escoriações generalizadas. Não as penas que sentimos de nós mesmos.
Vamos fazendo por merecer. Nossa fonte inesgotável de cópias e reformulações. Gerando polêmica. Acabando em pizza. Nos inserindo no contexto! Procurando a luz do fim do túnel. Que túnel? Onde está esse bendito túnel? A pergunta que não quer calar... Não consigo ver, está escuro demais para eu achar...
Quantas lacunas ainda a preencher? Vamos quebrar o protocolo, não temos tempo a perder. Antes que percamos tudo, cheguemos ao fundo do poço, mediante danos irreparáveis. A família estará inconsolável. Teremos nos destruído com requintes de crueldade. E enfim respiraremos aliviados, por termos cruzado a linha de chegada. Masoquistas que somos. Kamicases, voando em rota de colisão.
Seremos traídos pela emoção. Visivelmente emocionados, teremos conseguido os louros da vitória inglória. Os quatro cantos do mundo, do Oiapoque ao Chuí, terão assistido nosso caminho retrilhado. Tantas vezes trilhado. Tantas vezes refeito. E ainda inexplorado.
E que ruído ensudercedor é esse que escutaremos? Uma sonora vaia da platéia da humanidade? Por termos sido apenas o que todos foram? Termos dito o já tantas vezes dito?
Termos sido o que já foram?

Quem nunca usou um clichê atire a primeira pedra.
Enquanto isso, eu fico aqui dizendo eu te amo & cia LTDA.

Nenhum comentário: