7 de novembro de 2009

Pequeno ensaio sobre a solidão

Era uma tarde de novembro.

Só por ser novembro já ficava tudo triste. Ela não conseguia achar nenhum mês que parecesse mais triste. Ou talvez fosse apenas a tristeza dela que deixava o mundo lá fora meio macambúzio. Engraçado que quando ela ficava triste sempre chovia. Chovia por que ela estava triste, ou ela estava triste por que chovia? Ela realmente não sabia dizer.

Ela foi até a praça do Diário, um lugar bonito para pensar, pra escrever. Para ver a cidade, sentir as pessoas. Sentou, esperou, e nada aconteceu.
Foi até o cinema, e nada.
Saiu para uma volta de carro, e só o nada andando ao lado dela, tomando um café no fim de tarde e comentando sobre o livro escolhido às pressas na livraria.

Ela caminhando no calçadão no fim de tarde pela Avenida Boa Viagem; correndo até, virando meio mundo... e nada, absolutamente nada parecia se mover.
Nada saia do lugar. A perfeita imutalidade do universo que assombra aqueles que esperam apenas a hora em que algo acontece [ou deveria acontecer].

E por tanto esperar esse tempo que nunca passa, essa hora que nunca chega, esse sorriso que nunca lhe sorria, por estar sempre sozinha, sendo seguida de perto por esse nada insistente, ela, por essência uma criatura que não conseguia ficar calada, acabou ficando amiga do nada.
E foi esse mesmo nada quem os aprensentou. Ficaram amigos. Ela e a solidão.

A solidão sempre a assustou, então no começo foi difícil. Elas não confiavam muito uma na outra. Havia um quê de assustador naquilo tudo. Mas elas foram se conhecendo melhor, e agora já não tinham mais medo uma da outra. A solidão pode ser doce, às vezes. E sincera quase sempre. Uma boa companhia para horinhas de descuido. E ficaram boas amigas. E trocaram figurinhas, e assistiram novela, e comeram brigadeiro de panela enquanto viam filme locado no fim de semana. E assim foram alguns dias se passando.

Mas, apesar de tudo, uma certeza ela tinha: não ia querer andar com a solidão para sempre. Um negócio meio previsível, mais cedo ou mais tarde elas iam enjoar da cara uma da outra. Hora ou outra ela ia fazer as malas e partir. Pra longe da solidão, do nada e de todo o resto.

Mas por enquanto, ali era tudo que ela precisava ter. Um pouco de si mesma para variar.

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