31 de agosto de 2009

Amor e paixão

Paixão???

Aquele negócio agoniado, tempestuoso, incontrolável, quente...
Chama de fogo em palha seca.

Amor???
Aquele negócio calmo, doce, lento, crescente...
Chama de fogo em forno a lenha.

Aquele queima mais, assombra mais, destrói mais... Mas rápido se esvai.
Este queima devagar, cresce devagar, esquenta devagar, mas vem para ficar.

E é tão bom quando ele fica, quando ele cresce, quando ele queima...

29 de agosto de 2009

O que faz você feliz???

Porque tem gente que precisa de muito pouco...

E assim é sempre muito melhor.

Enquanto a vida tiver sabor de algodão doce, e o ar tiver perfume de jasmim, enquanto eu puder ver estrelinhas de dia, e puder pular amarelinha nas calçadas dos prédios.
Enquanto os sorrisos forem de graça, enquanto os abraços puderem ser imensos, enquanto dizer que se ama não for proibido, enquanto brincar com as borboletas não for muito ridículo.
Enquanto houver o vento, a luz, o céu... A brisa de fim de tarde e o frescor das manhãs bem cedo. A alegria de colocar os pés na água gelada do mar, de fazer bolha de sabão e de não precisar de relógio nem de agenda por um fim de semana inteiro.
Enquanto eu acreditar em sonhos... Enquanto eu cantar o dia todo, todo os dias, e enquanto me acharem meio louca por falar sozinha, andar engraçado e gargalhar a toa... Enquanto eu acreditar que vale a pena amar, e eu quiser amor, amor e mais amor...

No meu modo de ver a vida, a felicidade, pra ser grande, não precisa de grandes coisas. Eu preciso apenas de um monte de coisinhas pequenas perto de mim todos os dias.

Ausência


E a noite ia chegando mansinho, pegando ela desprevenida, ainda sentada na cadeira da varanda... Sozinha, distante do mundo.
Não era solidão o que ela sentia. Não era tristeza. Não era angústia, muito menos dor, nem fracasso. Não era pena, nem dúvida.

O que ela sentia era ausência.

E medo.

Ausência das tardes quentes. Ausência dos sorrisos. Ausência dos ausentes. Ausência de vida. Parecia tudo meio vazio, meio escuro, meio dormente.

Medo de não existirem outras tardes quentes. De não encontrar de volta os sorrisos. Medo de não saber por onde anda a vida. Medo de não preencher. Medo de não clarear. Medo de não pulsar.

Era medo dessa ausência querer ficar pra sempre.

Acorda, menina, acorda... antes mesmo desse sol se por. E aprende depressa que a vida é um mistério, uma mistura entre alegria e dor. Nem sempre sorrisos, mas nem sempre solidão. Depois do inverno vem a primavera, as flores se abrem em novo botão. Aprende a cantar esperança. Aprende a acreditar em você. Aprende a reconstruir teus sonhos sempre que teu mundo desaparecer.

E esse medo... Esse medo é uma coisa que nunca vai passar. Vai sempre estar lá, vai sempre gritar, vai sempre assustar. O que nos resta, minha cara, é aprender a caminhar ao lado dele, acostumar-se com essa incerteza, com esse não saber. Correr riscos é a única forma de não esperar. De tentar transformar.

Porque senão, moça, vai ser sempre a cadeira, a varanda, a ausência, e esse medo a te fazer companhia.

27 de agosto de 2009

Mundo paralelo


Ando fugindo das linhas, das canetas, dos apontadores...

Estou temendo que, em uma dessas minhas excursões ao meu mundo paralelo, onde as letras de lá se bandeiam para os lados de cá, e os sonhos de cá se semi-realizam por lá, das duas uma: ou eu fico lá pra sempre, ou acabado contando algum dos meus segredos nesta dimensão.

O que me prende aqui ainda é a esperança de realizações completas. Semi-realizações às vezes são piores que realização nenhuma. Ah, e tem também o perfume das flores, os arco-íris e as borboletas que eu ainda não consegui levar pra lá...

O problema, meu amigo, é que quando me meto a contar essas coisas pra você, quando abro as páginas nem sempre coloridas do meu bloco de notas e me meto a te escrever, a te remeter, a falar com você só por falar com você, só porque não consigo não falar com você... numa dessas, meu amigo, pode ser que escape tudo aquilo que você nunca deveria saber.

Sentimentologia

E se fosse fácil dizer
como foi fácil sentir,
como o que eu nunca esperei
hoje me consome aqui...

E faz meus dias lindos e tristes.
Completos e ausentes.
Numa espera transeute
por uma coragem inexistente.

E não faz sentindo explicar
o que não tem explicação.
Eu desisto de entender
esse meu vagabundo coração.

Essa espera de nunca chegar
essa angústia de sempre esperar
essa dor no peito a me angustiar
esse medo, esse medo que me dá...

23 de agosto de 2009

Dessemelhantes

Entre gregos e troianos,
Entre loucos e insanos
Maníacos e alienados.
Entre Iluministas e conservadores
Burgueses e doutores,
Farroupilhas e pés rapados,
Entre os desavisados.
Em meio a poetas e doutores.
Entre os sem razão,
E os inconsequentes.
Entre sonhadores e concretistas.
Quem sabe em meio aos artistas,
Ou a idealistas.
Entre os fulanos de carne e osso. Díspares.
Em meio a ditos-cujos desse planeta. Distintos. Famintos.
Em meio a todos esses seres humanos, distintos semelhantes
Todos aristocraticamente iguais em sua heterogeneidade.
Imiscíveis.
(Sobre) Viventes nesse mundo com suas diversidades.
Entre tanta gente diferente,
Que vive a sua e a nossa vida dia após dia.
Em dias monótonos, iguais, repetitivos,
Fechando a cada hora os mesmos ciclos.
Nesse mundo tresloucado, bipartido, dividido, separado
Eu ainda procuro a parte que é minha.
Um lugar pra me encaixar. Adentrar.
Quem sabe um dia, perdido por aí,
eu venha a encontrar algum dessemelhante como eu
tão perdido quanto eu,
engajado na mesma busca de dessemelhantes que eu
querendo me fazer companhia.

Querido coração,

Depois de tanto tempo vendo você bater sozinho, quase calado, decidi me abrir com você.
É, com voce mesmo, meu coração... Um pequeno coração, capaz de tantas coisas...
Você que aprendeu a amar com tanta força as pessoas mais queridas que conheço. Que aprendeu com o tempo a diferenciar as grandes amizades, os maiores amores... E a ter tamanha paciência... Porque ninguém nesse mundo acerta sempre... Nem os mais valorosos.
Você que aprendeu a superar as quedas, as dores, e a suportar com um sorriso aqueles que queriam te ferir.
Venho aqui pra dizer que sei sim que você me ama. Que sei sim que você faz o máximo possível para, em todos esses anos, diminuir as compressões em meu peito, e para permitir que o sangue flua, que o sentimento flua, que a vida flua...
Você que aprendeu que a caridade existe, que a união é essencial, que ninguém vive sozinho...
Você que aprendeu a ter sorrisos mesmo quando há tristeza, ter força mesmo quando falta esperança, ter pureza quando falta dignidade, ter perseverança quando tudo diz não.
Vim aqui hoje para agradecer seu esforço em manter a pulsação da vida correndo em minhas veias... como o sangue a nutrir meu desejo de esperança por novos dias...
Meu coração, vim aqui pra dizer que descobri hoje o quanto te amo, o quanto te sou grata... Descobri hoje, coração, que te amo mesmo, do fundo do coração...

21 de agosto de 2009

When I’m 64

Esse post nasceu de três leituras do dia: a música dos Beatles, um texto de Medina e um dos textos-base que ando lendo para a prova de mestrado.

When I’m 64.

Diante dos fatos que li, não pude deixar de pensar o será de mim aos tais 64...
A vida anda correndo mais ultimamente... Ontem era colo, chupeta e música de ninar... Hoje são apenas vinte e poucos anos, e parece que o tempo não tem tido piedade... E com mais quarenta sobre isso? Parece já uma infinidade de experiências, de vida... Onde as pessoas acumulam tudo isso com o passar dos anos?

Num dia eu aprendi a andar. No outro estava indo pra escola. Mais uns dias e já estou terminando a faculdade.
Ontem mesmo era eu aprendendo bê-a-bá, juntando vogais e consoantes, e mais um pouco já era eu escrevendo a primeira carta de amor, o primeiro trabalho científico, ou postagens de blog que quase ninguém vai mesmo ler...

Diferente de Medina, ainda não comecei a me perguntar se os shows que pretendo ir terão lugar pra sentar... Mas não vou negar que não aguento mais tantas horas assim...
Não me sinto envergonhada por isso, pois sei que não é só comigo... O tempo anda passando para todos. E as coisas andam mudando nesse espaço de tempo. Quartas, quintas, sextas e sétimas dimensões novas se abrem a cada dia.

Não posso deixar de fazer referência aos amigos para sempre que nunca mais vi ver depois do colégio (o que me lembra certa música de Oswaldo Montenegro)... E aos amores eternos de uma estação (o que me lembra certa música de Cássia Eller)... As coisas passam, as coisas mudam...

Isso se encaixa bem no método Paidéia... Para os desavisados ou desinformados - ou para aqueles que não estão estudando para o mestrado de saúde pública - essa teoria defende que as mudanças são inevitáveis, independentemente dos movimentos de resistência que possam surgir. É basicamente uma teoria de transitoriedade. Uma teoria da vida com seu tudo e todos transitórios.
A partir do momento que as pessoas acreditam nisso, o método direciona as pessoas à concepção de que elas são capazes de compreenderem e interferirem na dinâmica dessas mudanças. Não só serem influenciadas pelas mudanças, mas sim reagir aos fatos/sujeitos com quem interagem.
Um mecanismo de co-produção de realidade.
Uma idéia que passei a defender com todas as forças desde hoje a tarde.
A interferência dos sujeitos na co-produção do mundo e de mim mesmo é o que vai definir quem eu serei aos 64. O singular é o resultado da ação do contexto sobre o sujeito, me disse a teoria...
E se sou influenciado pelo contexto, consequentemente o contexto que construo todos os dias influencia os demais sujeitos. Uma co-responsabilidade.
O método Paidéia quer formar sujeitos epistêmicos - pessoas com capacidade de análise de fatos e interferência na realidade. Um filósofo prático.
Não pude negar que me deu vontade de imediatamente me tornar um destes. Assim, aos 64, acho q a vida vai ter a cara que eu imagino que ela deva ter quando eu chegar lá...
E aí não vai importar muito as dores ósseas, a degeneração do tecido muscular ou o quanto a máquina do meu corpo vai estar degradada.
O que vai importar serão as pessoas que estarão ao meu lado - na sua maioria epistáticos também, e a realidade que teremos construído. A paidéia em que viveremos.
Enquanto isso não chega, fico com as idéias dos Beatles...

When I’m sixty-four (Paul McCartney & John Lennon)

When I get older, losing my hair,

Many years from now,

Will you still be sending me a Valentine

Birthday greetings, bottle of wine?

If I’d been out till quarter to three

Would you lock the door?

Will you still need me, will you still feed me,

When I’m sixty-four?

oo oo oo oo oo oo oo oooo

You’ll be older too, (ah ah ah ah ah)

And if you say the word,

I could stay with you.

I could be handy, mending a fuse

When your lights have gone

You can knit a sweater by the fireside

Sunday mornings, go for a ride.

Doing the garden, digging the weeds,

Who could ask for more?

Will you still need me, will you still feed me,

When I’m sixty-four?

Every summer we can rent a cottage

In the Isle of Wight, if it’s not too dear

We shall scrimp and save

Grandchildren on your knee:

Vera, Chuck, and Dave

Send me a postcard, drop me a line,

Stating point of view

Indicate precisely what you mean to say

Yours sincerely, Wasting Away.

Give me your answer, fill in a form

Mine for evermore

Will you still need me, will you still feed me,

When I’m sixty-four?

Tudo


Quando aquilo que se quer é tudo,
tudo que se tem é nada...

E quem entendeu, entendeu...

16 de agosto de 2009

Instante posterior

Estou passando meu dia hoje a tentar consertar com remendos mal arrumados as impressões dos últimos dias. Engraçado como a vida muda rápido.
Uma existência plácida e calma de repente embarca num maremoto inexplicável. O instante posterior então torna-se imprevisível. E assustador.

De certa forma, analisando friamente, os instantes posteriores são imprevisíveis e assustadores em 90% das situações. A questão é que enquanto vivemos distraídos pelos quadros que se sucedem, envolvidos pela história que se repete e se transforma, alternadamente, não prestamos atenção ao fato que no instante seguinte, pode ser, quem sabe, que estejam alterados parâmetros essenciais.

Enquanto nos mantemos divertidos e conformados com nossos clichês diários, com nossos pretestos e contextos com os quais tentamos justificar nossas escolhas, de repente o mundo muda, e a gente se encontra perdido.

Somos levados a uma mudança forçada, às vezes não desejada, por motivo de adaptação. Não é evolução, é uma adequação. Enquadramento.

Essa simples idéia me deixa constrangida, por fazer imediata associação entre adequação a submissão. Ser menos ou mais, ser diferente do que se pretende por força das circunstâncias.

Meus remendos me incomodam. Fui pega desprevenida. Não tinha muito material aqui pra usar em estragos tão grandes. Os retalhos de pano nem são tão bonitos... São de um tecido antigo, usado e reutilizado por diversas vezes em calamidades passadas.

Enquanto costurava esses retalhos velhos com uma linha nova que arrumei emprestada, vermelha cor de sangue, o tecido surrado de meus retalhos foi se desfazendo em alguns lugares. E novos remendos eram necessários sobre os remendos recém-acabados. Foi uma longa investida em reatar minha vida.

E enquanto o tempo passava nessa tarefa, fui sentindo tomar conta de mim uma solidão triste...

Fui vendo os remendos velhos que fiz há tanto tempo... Partes de mim que se sucediam e se misturavam... E os sentimentos foram se misturando também. De solidão foi passando a nostalgia, que culminou numa saudade dormente, que me lembrava o leite quente com mel que minha mãe trazia nos dias de resfriado. Vícios antigos, livros velhos, as canções da adolescência... O portão da casa de vovó, o balanço de cordas amarrado no pé de caju, o primeiro beijo, o medo do escuro... Encontrei perdido no meio de tudo um pirocóptero que não voava mais, um albúm de figurinhas que eu nunca completei, os sorvetes de limão que eu tomava escondido por causa da asma.

Comecei então a me familiarizar com meu instante posterior. A adaptação finalmente acontecia. O passado se juntava ao presente, e tudo isso junto queria me mostrar o que estava por vir.

Mas isso eu não quis ver. Não quis cruzar esse muro. Apenas fiquei parada na sua frente, olhando para ele. Não conseguia tirar os olhos dele. Esse futuro assustador. Os meus posteriores instantes posteriores. Eu sabia que ainda ia me perder algumas vezes. Ainda ia rir algumas vezes. Chorar outras tantas. Iria viver como todo mundo. Mas à minha maneira.

Quando eu nem percebesse, estaria um passo mais próxima ao muro. Um dia, eu teria coragem, e faria cair a cortina de ferro dessa Guerra Fria.

Eu sei apenas que, por hora, esse muro de Ber(mim) não cai. E que essas tardes de domingo tão vazias, essa solidão inconstante, esse instante posterior de agora, tudo isso me deixa sentimental pacas.

5 de agosto de 2009

Boba

Porque ela era uma boba. A maior e mais completa.

Mas ela era uma boba diferente. Era uma boba com convicções.

Uma boba que morreria por suas bobagens. Ela realmente acreditava em tudo aquilo.

E acreditava tanto, a bobinha, que por vezes acabava se confundindo se aquilo que ela acreditava com tanta fé, ela vivera ou imaginara...

E a vida dela era assim, confundindo todos os dias ilusões e realidades...

E os desavisados, que a achavam tão boba, na verdade não sabiam. Nem nunca vão saber.