21 de dezembro de 2009

2 minutos

Eles se odiaram por exatos dois minutos. O tempo exato de respirar fundo e engolir seco. Ela esperava a resposta dele, ele esperava ela assumir sua infantilidade. Eles se esperavam.
Foram longos 120 segundos, suficientes para que os seus olhares orgulhosos se evitassem voluntariamente, e se reencontrassem várias vezes, e de novo se afastassem, numa luta contra eles mesmos, que não teve vencedor.
Ela ficou ali, estática, pensando como ele podia achar tão normal o que para ela era uma catástrofe. Porque briga de namorados é sempre uma coisa incrivelmente ridícula para uma das partes.
2 minutos eternos de reflexão.
Era uma certeza cruel, a de saber-se querendo o que não mais se podia ter. O não saber como agir, o que fazer. Ele dissera que estava acabado, e não seria ela a voltar atrás. Ela não iria implorar, não iria suplicar, não dessa vez... Afinal sempre era ela que se humilhava, sempre era ela que cedia, sempre ela.
Ela queria chorar, mas não ia. Engoliu as lágrimas que já marejavam os olhos. Não ia ser fraca na frente dele. Ele não ia ter o prazer de dizer aos amigos que ela estava sofrendo. Afinal ela era forte, sempre foi a cabeça racional do relacionamento.
Ele ficou olhando para ela, como tantas vezes fazia. Admirando mudo sua beleza. Porque uma pessoa tão linda tinha que ser tão cabeça-dura?
Ela queria gritar, e nunca mais olhar nos olhos daquele homem insensível, cruel, machista e orgulhoso.
Ele queria apenas resolver logo aquilo, sair dali e ir tomar um chopp com o pessoal que ele deixara esperando.
Eles se odiaram por exatos dois minutos. Então ela levantou, arrumou o cabelo, preso alto na cabeça, como sabia que ele gostava, colocou o batom, olhou para ele e virou as costas.
Ele não disse nada. Apenas olhou ela saindo do restaurante. Ela ligaria no dia seguinte. Ela sempre ligava.
Mas no dia seguinte ela não ligou. E ele foi orgulhoso o suficiente para não ligar no dia seguinte também. Nem na semana seguinte. E a saudade começou a doer forte, como uma dose de vodka que se toma pura num começo de festa, antes de qualquer nível de álcool no sangue.
Ela não ligara. Ele não iria ligar.
E aqueles dois minutos duraram bem mais que cento e vinte segundos.

2 comentários:

Anônimo disse...

"E aqueles dois minutos duraram bem mais que sessenta segundos" - talvez pq dois min sejam 120 segundos ^^.
Não sei pq, mas o texto me lembrou um pouco a Lispector, isso é bom?
=*

Klécia Melo disse...

kkkkkkkk
ehh verdadeee... sorryy dearrrrr

eu vou corrigir, mas fica anotado aí que errei a soma! Lesaaaaa!
kkkkkkkkkkkkkkk

Sobre a Lispector, escrever qualquer coisa que lembre um suspiro de inteligência daquela mulher seria uma honra, mas acho que não foi bem a intenção, talvez impressão sua pelo texto ter ficado com um final em suspense...
Apesar de eu ainda estar à procura da minha vertente literária, não acho que vou acabar escrevendo como a Clarice. É pagar pra ver.

=*