Quero a simples certeza de que vens.
Com esta dita, dimensões de tempo e espaço perdem lugar para minha ansiedade fria, quase estática, a congelar meus dedos nesse assombroso estado de ânsia de ti.
Quero que me venhas assim como estás, muda, calada, insone, dormente. Com dores, com lágrimas, com tudo que viveste e trouxeste e pudeste carregar nas tuas costas hoje marcadas. Venhas com as cicatrizes semi-curadas de todos os males que te fizeram neste mundo, aquilo te tornou mais viva, mais pungente, mais mulher.
Venhas com tudo que aprendeste mundo afora desde que te vi partir. Já não guardo mágoas. Já não há dores. Espero por ti.
Venhas assim como uma equilibrista a saltar de uma corda bamba, sem rede de proteção. Não louca, apenas viva. Venha sem nada nas mãos, não me tragas presentes, não me tragas lembranças dos lugares que conhecestes sem mim. Não me tragas nada do que tu tens que não foi meu. Não importa seu passado, seus sotaques, seus sorrisos, seus amores de uma noite ou de um verão.
Pulsante. Vem assim, rasgada, humilhada, em frênesi, vem para mim como um dia deixaste meu coração. Vem com teus farrapos de vida, que tenho aqui linha e agulha para remendar teus estragos.
Vem sem demora, que meu peito urge em ouvir tua voz simbilante que eu quase já esqueci. Do teu gosto eu quase já esqueci. Faz tanto tempo, tanto tempo. Mas dos teus olhos eu não esqueci. Esses teus olhos de maresia, teus olhos de ressaca, teus olhos de céu azul. Esses teus olhos que me botavam no chão, que me tinham na mão.Teus olhos de imensidão.
Vem, vem depressa, me convida, me dá um pouco de vida. Se renda, me renda. Vem que estou ficando louco, ficando rouco, me dói o estômago, me dói a cabeça, estou ficando tonto, estou perdido em prantos.
Te vejo tão longe, e tão longe é tão perto. Por que não me levas? Eu te me sequestro. Vem, que te espero. Mas não sei mais por quanto, sinto um desespero, estou perdendo o tino, sou equilibrista bambo, vou largar a sombrinha, vou cair da linha, vai ficar tudo escuro, vou me perder.
Vem, vamos subir o morro antes do sol nascer, cruzar novamente as ruas desertas de Nantes, nos fazermos de bobos, entre vinhos e noites e madrugadas, rirmos de nossas loucuras gritadas em língua jamais decifrada.
Vem, não importa quando, não importa como.
Não importa se chove, se faz frio, se estás vestida pra festa ou com a tua mais surrada roupa de dormir. Se tens o mais rico tesouro ou se não te resta nenhum vintém nos bolsos da velha calça azul desbotada.
Vem com as delícias de tuas imprecisões medíocres, teus medos infames, tuas beiras todas por aparar. Vem da forma que quiseres, que te quero de toda forma.
Para o amor não há formas. Se me quiseres, se pra mim voltares.
Vem, não importa como.
Apenas vem.
Um comentário:
Quando você disse que bateu saudade, que queria me encontrar
Arrumei a casa, perfumei a cama, preparei um bom jantar
Separei um vinho, coloquei no gelo, desliguei meu celular
Fui pensando em coisas, fui armando um clima, pus um disco pra tocar
Vem... Que eu deixei de propósito a porta entreaberta
Vem... Que eu fiz tudo a seu jeito, você vai gostar
Vem... Que a paixão me desperta!
É vontade de amar
Quando você chegar
Já deixei a sala só à luz de vela, que reflete o seu olhar
Pus rosa vermelha no centro da mesa, que sensualiza o ar
Botei nossa foto do primeiro encontro na estante sobre o bar
Me ajeitei no espelho, me sentei à espera no meu canto do sofá
Vem... Porque sem você essa casa é deserta
Vem... Que vai ser sempre assim que você vai me achar
Vem... Que a paixão me desperta!
É vontade de amar
Quando você chegar...
É vontade de amar
Quando você chegar...
Postar um comentário