28 de janeiro de 2010

Quero

Não me permito me acomodar com esse amor nada doído, nada difícil, nada lúdico, nada sincero.
Não quero apenas ver que o mundo passou realmente a acreditar que o amor carnal é a sobremaneira de amar.
Quero sentar aqui e esperar que se juntem a mim outros que acreditem em amor real, sem sonhos de uma noite de verão, sem devaneios e promessas prontas para morrer tão logo venham ao mundo; quero me juntar aos rebeldes seguidores dos benefícios dos amores imperfeitos.
Não quero me encontrar com os romancistas, com os escritores de conto de fadas. Esses não quero ver. Não quero o amor cor-de-rosa. Quero o amor pungente, o amor desejo, o amor paciência, o amor razão-emoção.
Quero o amor poesia. Não a poesia métrica, a poesia perfeita, a poesia sublime. Essa me enche de enjôos que não posso suportar. Quero o amor poesia pós-moderna, o amor com hiatos e imperfeições, com a mágica da imperfeição que encobre obras jamais compreendidas.
Quero um amor que não se entenda.
Quero um amor que não faça sentido.
Quero um amor ilógico.
Quero escolher ficar todos os dias porque amo,
mesmo que todo o resto seja brumas e tempestades.
Mesmo que não haja resto.

Quero que esse amor me baste.

Escrevo

Escritor de verdade escreve pela literatura, pela obra, pelo calor dos aplausos depois do recital de poemas rebuscados em rimas perfeitas e versos alexandrinos.
Eu não sou escritor de verdade. Eu aprendi a juntar letrinhas há muito tempo, mas não sei ainda ao certo o que fazer com elas.
Tem dias que levanto cedinho, acordo todas elas e as levo para passear. E elas vêem o céu, as nuvens gorduchas em forma de algodão doce, e de tão felizes, dão as mãos para me retribuir o passeio com um versinho bonito que acabaram de inventar.
Eu não sou escritor. Eu ganho das letrinhas, por vezes, alguma coisa que valha a pena colocar no papel. Mas isso é só porque elas são boazinhas comigo, vez em quando.
Tem vezes que elas ficam com raiva de mim, porque eu acordei triste e não quis sair para brincar. Então fogem todas juntas, numa rebelião contra minha falta de poesia. E é quando eu fico muda: fico triste. Quando meus dedos ficam mudos, fico muito triste. Quando meu lápis fica cego, mudo, surdo, fico triste de chorar sem parar. Então elas - as letrinhas, ficam com pena de mim, e voltam. Sempre voltam.
Temos quase um pacto de sangue de irmãos, as letras e eu, em que brigas e afagos se sucedem initerruptamente.
Eu não sou escritor.  Escrevo para diminuir distâncias, para criar abraços, e para ouvir os passarinhos cantarem. Escrevo porque sou tímida, e às vezes não sei dizer. Então escrevo.
Escrevo milhões de bilhetes secretos para namoradas imaginárias, que nunca serão remetidos. Escrevo poemas sem rima com giz em quadros-negros, que serão apagados na próxima aula de matemática. Escrevo com aquarela no cimento do chão, esperando a chuva cair e apagar tudo que eu não sei dizer sem ajuda das letrinhas. Escrevo na beirada de janelas, escrevo no lençol da cama e no chão da cozinha. Escrevo.

Eu não sou escritor. Mas eu escrevo para não ser triste.

Acho

A primeira coisa que temos que enfrentar quando resolvemos amar é superar a rejeição que criamos contra nós mesmos. É quando nos mostramos como somos, quando nos encontramos conosco de forma plena, que temos a possibilidade de encontrar alguém que veja o que importa mostrar, e fique ao nosso lado apesar de ser como somos.
Parece auto-ajuda... Mas não é, não. Amor o nome disso.

27 de janeiro de 2010

O melhor conselho que recebi

E me disse Amélie hoje de manhã cedinho: Nunca se explique.
Afinal, seus amigos não precisam de suas explicações, e seus inimigos nunca vão aceitá-la. Então, que diferença isso faz?
Como se diz por aí, nada é para sempre, "a melhor banda dos últimos tempos da última semana" já não toca mais no próximo segundo, sucesso e fracasso nunca duram initerruptamente, mas fazem na vida uma eterna ciranda, onde se alternam no papel principal.
Então semana que vem já não seremos o assunto do momento.

20 de janeiro de 2010

Should I?

Não me peça pra ficar. Não me mande ir. Me deixa vagear, borboletar, aqui, ali, acolá... Desconsertadamente voar sem destino, sem pouso. A farsa da sensação de liberdade é o que nos faz levantar todos os dias. Deixe o vento, a brisa, a tempestade soprar sobre minhas asas leves, me desviar... Penso assim que controlo o incontrolável. Sinto-me domadora de mim mesma, num circo de vida montado de improviso no meu quintal.
O que digo hoje, penso amanhã? O que digo sobre mim mesmo é o que sou? A gente acha que é o que é. Mas a gente é mais o de dentro ou o de fora? Porque não conheço ninguém igualzinho dentro e fora. A gente sempre camufla alguma coisa. O eu de dentro é aquilo que vejo no espelho, talvez... Aquela coisinha parecida comigo, que me sorri de volta quando lhe mando um sorriso distraído. O reflexo de mim sou eu?  Por vezes meu reflexo me engana. Eu pisco, ele pisca de volta. Quase sincronia perfeita. Mas aí levanto a mão direita, e ele levanta a esquerda. E é quando vejo que até os semelhantes têm suas diferenças. Então onde ficam as respostas?
Pontilho de interrogações uma vida na qual as dúvidas se sucedem initerruptamente. E gosto de colocar essas palavras grandes no meio das minhas frases. Não sei por que. Mas gosto, e boto, e pronto.
Não vou fugir das palavras bonitas, da vida bonita, do céu azul infinito, do cheiro de mato e de prosa na janela no fim da tarde. Depois de crescer ao lado dos livros pronvincianos, machadianos, não me contento com pouco, [talvez] infelizmente. Quero amores impossíveis bem possíveis, quero as loucuras nossas de cada dia, quero a delicada aspereza de um sonho querendo escapar para fora da mente limitadora. Deixem ele saltar para o mundo aqui fora, correr, pular, se estribuchar no chão como criança aprendendo a andar, e aí voltar chorando para mim, pedir colo, e instantes depois voltar a correr, como se não houvesse limites.
Onde estão os limites? Para mim eles só existem nesse mundo real, material, chato.
Aqui, na calada de mim mesma, vem minha sanidade e bagunça a irracionalidade. Quem atrapalha quem? O mosaico de mim mesma sendo montado e desmontado dia após dia.
Mentira dita mil vezes vira verdade? Então eu sou uma mentira mil vezes dita? Verdade, então? Ou sou personagem idiocrático de algum cronista sem um pingo de criatividade?
Então, qual será minha próxima verdade? Posso me remodelar sob uma nova mentira mil vezes dita. Mas tenho medo. Nunca fui muito boa nesse negócio de mudar. Mas também tenho o pequeno problema de me negar a estática inércia de sempre ficar. Então perco de um jeito ou de outro. Um dia tenho que escolher. Oscilo entre ir e vir. Então começo uma nova mentira pra mim, e a conto novecentas e noventa e nove vezes. Tenho medo, paro, recomeço do número um, uma outra mentira que melhor me sirva no momento de agora. E a sigo repetindo, novecentas e noventa e nove vezes. E novamente paro, e novamente recomeço.
Sei o que quero ser. Só não sei como chegar lá.


"Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Seu bicho-papão"

18 de janeiro de 2010

2009 em 40 tópicos

[001] Comecei o ano sabendo que ia terminar de forma diferente.
[002] A oração pra que fosse tudo up, sempre up, 365 dias up!
[003] Não fiz a lista tradicional  de promessas que não cumpriria depois.
[004] Carnaval sem folia, como sempre, mas com muito barulho, como nunca.
[005] Rompi paradigmas comigo mesma.
[006] Rompi um namoro de não enamorados.
[007] Rompi com a vida, velha vida.
[008] Aprendi a clássica arte dos vampiros diurnos.
[009] Aprendi a dar mais sorrisos.
Ouvi música como nunca. Dancei como nunca.
[010] Aprendi o que é chegar perto da dor.
[011] Fiz amigos de forma espontânea e inesperada.
[012] Perdi alguns desses de forma também inesperada.
[013] Senti o cheiro da morte os levando.
[014] Inaugurei o blog.
[015]
Cheguei mais perto.Virei mais gente.
[016] Monografei.
[017] Dei o último adeus a quem já tinha ido.
[018] Pisei mais forte no chão.
Olhei mais pro céu.
[019] Vi duas luas cheias no mesmo mês.
[020] Ganhei um anel de mim mesma.
Me dei uma profissão.
[021] Festa surpresa de aniversário. Festa programada de aniversário.
[022] Show do Teatro Mágico.
[023] Abraço de colação de grau.
Calça jeans e mochila de colação de grau.
[024] Brasil ganhar da Argentina. Cara de desespero de Maradona.
[025] Baile de formatura.
[026] Meu novo brinquedo de gente grande.
Uma paixão por Imunologia.
[027] Meu primeiro - e espero último - assalto.
[028] Uma aprovação.
Mestrado.
[029] Reposição de celular.
[030] Um anjo que resolveu dormir para sempre.
[031] Tive o melhor quase beijo do mundo.
[032] Tive o primeiro terceiro beijo melhor do mundo.
[033] Aprendi a me sentir bem e perder a conta das horas.
[034] Amor.
Namoro.
[035] Sala de eletroforese.
[036] Saudade.
[037]
Infinity de Natal.
[038] Fogos de artifício.
[039] Ano Novo tudo novo.
[040] Fui, salve, salve, amém, tchau!

Se fizer diferença na vida de alguém, está aí. Na minha fez. 2009 entrou pra história: um dos melhores anos da minha humilde vidinha.
Fiquem sabendo disso antes que o mundo acabe.
E vamos que vamos e valeu e aquelabraço!!!

Abstinência

Enquanto vou andando o mundo gira...
Ninguém me espera naquele lugar aonde quero chegar.
Aonde vou?
Ando só quando me acompanho. Caminhamos lado a lado, eu e eu, sozinhas cada uma de nós. Estamos lá sem nunca estar. Aonde está você, que aqui devia estar? Por que não estou sozinha quando me sinto só? É possível ser só em companhia? É possível a companhia de ser só? Até quando se pode suportar?
Se você demorar, se você não voltar? Serei capaz de te esquecer? Saberei superar? Saberei eu, tão dependente de você, não mais te ver ao acordar? Não mais te ver quando eu os olhos fechar? Não mais te tocar, não mais te saber presente? Saberei eu conversar com a ausência como se a vida nada mais que isso fosse? Por que te sinto tão dentro quando não posso te ver? Não estás aqui, não te vejo aqui, não te tenho aqui, mas estás aqui. Sinto teu cheiro aqui, te escuto aqui. Fecho os olhos e te vejo dormir. Vieste morar dentro de mim?
A presença da ausência. O silêncio de ti barulhando aqui. Atordoando o ar. Não me deixas pensar. Não me deixas respirar.
Abstinência. Desintoxicação. Não vou me drogar hoje de você. Não vou te ter. Quero não te querer. Por hoje, só por hoje não quero você.


Enquanto vou andando o mundo gira...
Ninguém me espera naquele lugar aonde quero chegar.

Aonde vou?



E se eu tentar voltar? Saberei o caminho de voltar? Saberei refazer os passos para te encontrar?

Alguma coisa corre assustada entre um piscar de olhos e outro. Alguma coisa que eu perdi. Alguma coisa que já vai longe, longe... Que eu não sei encontrar. Olho para o céu, olho para o chão, o tempo soprando os pensamentos que derramo distraída no caminho. Tento imaginar. Mas nem me lembro como é o que quero lembrar. Moinhos de vento, gigantes, heróis, vilões. Disparo num voo cego com rota de colisão marcada para acontecer. Viro piloto suicida, kamikase, que não sabe se o maior lucro da guerra está em destruir o alvo ou a si mesmo. Começo a chorar. As lágrimas azuis clandestinas de uma emoção fingida que nem sei sentir. Desaprendi a sentir. O que me tornei? O que sou afinal? O que queres de mim?

Quero aqui, quero agora, quero já. Qualquer coisa que se sinta, que me mostre que estou viva, que pulse dentro de mim. Nem que seja dor, nem que seja dor.

Você está frente a mim. Você olha para mim. Mas você não me vê, de alguma forma não me vê. Como se uma grande barreira invisível impedisse você de me dizer. A distância eterna da palavra nunca dita, que criou quilômetros que separam duas cadeiras justapostas numa mesa de jantar. Você quer dizer. Mas não diz. Ninguém diz. O silêncio setencia o que as bocas temem pronunciar. Nos sabemos sós.

E agora assim seguem os dias, clandestinamente sendo escritos por alguma pena destrambelhada que parece rir de mim.

15 de janeiro de 2010

Sobre a Arte de Morrer - Uma introdução

A morte nossa de todos os dias.
A gente não morre de uma vez, meus caros. Nessa terra de meu Deus, morre-se devagar, a cada dia mais um pouquinho, em doses homeopáticas de ausência de vida, inconsciente.
Então morrer é sim uma arte. A oitava arte (a sétima é o cinema, eu acho). Uma peça que se constrói todos os dias. A nossa grande obra prima.
Morre-se um tanto quando se perde um amor, outro tanto quando se perde um sonho, outro tico quando se decepciona com um amigo, e assim se morre paulatinamente, e o pior, sem tomar consciência da quase-vida.
A lágrima é a morte da felicidade. O trabalho a morte do ócio. O sorriso a morte da desesperança. Tudo morre e nasce todos os dias. A vida não cansa de morrer e renascer. Nasce e morre e morre e nasce e morre.
E nasce.
Isso então é rotina. É padrão. Não devia surpreender ninguém. Devíamos estar acostumados a ver partir, a ver voltar. O trânsito da vida. Um estado de ir e vir eterno.
Mas não é assim. Pelo menos não tão simples assim. Tem gente que apenas morre e esquece de pegar a outra via. Morre e pronto. Fica morto. Tem gente que já morreu há tanto tempo que exala aquele cheiro de putrefação por onde anda. Eu andei pisando em algumas faixas de mumificados nos caminhos por onde andei. Tem gente que morreu e esqueceu de deitar. Tem gente que não sabe pegar o caminho de volta.
Esclarecendo para os não adaptados a meus textos nada metafóricos, esta exceção pela qual vos falo não se trata de exaltação ao espiristimo (no qual eu nem acredito). O caminho de volta do qual falo aqui é bem em vida mesmo. Gente viva que vive como gente morta.
Não pense que estou mórbida hoje, leitor. Não, não estou. É questão de observação. Tem gente que não vive mais. Ponto. A ONU, ou a WHO, tão preocupadas com o bem estar mundial e direitos humanos, deviam estabelecer um análogo à linha da pobreza, uma linha de subvida. E assim classificar a população mundial.

Viver é uma obrigação? Uma necessidade? Então morrer é uma libertação, uma transcedência?


A gente acaba vendo que é mais ou menos todo mundo igual no final. De morte a gente entende quase nada. A diferença é que quem acredita em alguma coisa depois da vida - independente do nome que se dê a essa alguma coisa, está  um pouco mais interessado no causo que aqueles que acham que é só fechar os olhos e acabar. E isso nem é regra, apenas acontece algumas vezes.

Ah, a vida. Há ainda os que não a suportam, e querem adiantar o processo de morte. Apagar as luzes. Um dia entrei numa discussão em que defendiam que era coragem você apontar uma arma pra você e se matar. Eu falei que era apenas covardia, a mais simples covardia. Você acaba rápida e definitivamente com algo mais atordoante. Afinal somos seres humanos. Escolhemos sempre a forma de menos sofrer, mesmo inconscientemente.

Ah, morte, morte. Libertação? Nada? Vazio? Começo? Fim?
Alucinação cultural? Transmutação?
Desapego? Anóxia celular? 
Fim das neurotransmissões???

Estamos abertos a melhores definições.

O fato, meus caros, é que "a primeira morte a gente nunca esquece."

11 de janeiro de 2010

Os porques de estar com você

Porque não sei mais levantar dia após dia sem lembrar do teu riso, sem pensar na tua vozinha desafinando qualquer boba canção, me dizendo qualquer sandice que me faça sorrir...

Porque cada dia sem te ver se transforma em eternidade, por mais clichê que pareça.

Porque você implica com meus clichês, e eu preciso de alguém me dizendo o quanto estou errada por viver a repeti-los.

Porque me dá vontade de ficar... Quando você está perto me dá vontade de ficar sempre mais. E quinze minutos podem ser 15 horas, eu juro que não percebo a diferença quando somos só nós no mundo.

Porque eu sei que não sou como você esperava, e mesmo assim você está aqui.

Porque o seu ser imperfeito me serve perfeitamente.

Porque o meu ser imperfeito de alguma forma de agrada também.

Porque o teu beijo é como navegar num mar de sem fim...

Porque o que sinto é forte como onda do mar. Porque não sei não te querer, não te amar, não te querer perto, não querer te fazer feliz.

Porque não sei se vai durar, não sei qual de nós vai conseguir esperar, mas sei que hoje, meu bem, hoje minha vida é te amar.

E é por isso que eu estou aqui.

Quase

Nada incomoda mais que um quase. A completa privação de um não irrita, perturba, desconcerta... A dúvida de um talvez deixa a questão para ser posteriormente resolvida.
Mas o quase... Ah, o quase é uma das piores sensações que se pode carregar.

E como um errante que te escolheu por subterfúgio, como um verme que te elegeu hospedeiro, ele fica assim, morando em você, esnobando você... Mostrando todos os dias que ele está ali, presente, nunca ausente. Porque ele não vai embora por nada desse mundo. Fica por dentro, corroendo você.
Esse quase é capaz de matar pela angústia do que poderia ter sido e não será. Você sabe que não será, e se ilude de quase. Quase embriaga, quase engana, quase entorpece, por vezes até te satisfaz momentaneamente, mas você sabe que o quase não é o que você quer. É quase.

Quase a gente ganha como presente [de grego] por não tentar. Ou por tentar mal. Ou só porque, por algum motivo, o universo não te sorriu naquele dia, naquele mês, naquela vida.

Quase conseguir, quase vencer, quase sonhar, quase ser feliz, quase amar, quase viver.

Estou quase chorando engasgada de quase. E isso quase está me deixando louca.

5 de janeiro de 2010

Platonismo

Explode a rua.
Explode a casa, o sentimento, o coração.
Explode as rédeas, as regras, as faces, os modos.
Explode a luz,
e rasga as roupas, rasga a razão, joga tudo no chão.
Revela. O que te vela.
O que te vela? Você me vela.
Me olha dormir, me oferece o que de mim perdi.
Onde me achaste? Eu, que nem me sabia perdido.

Você, com sua fúria escondida num sorriso de papel,
com seu encanto místico disfarçado numa mecha de cabelo cor do sol.

Como faço para te vencer?
Como eu posso aqui te ter?
Quero parar de te esperar.
Mas não sei não te esperar.
Passo os dias a contar minhas horas em teus passos.
A hora de te ver passar.

Te esperar.
Minha vida é te esperar.
E te criar. Te inventar.
Vivo de te sonhar.
Que posso mais fazer
Já que você nada me dá?

Eu, trovador dos amores esquecidos,
Eu, poeta das causas perdidas,
Eu, amante dos afetos impossíveis.

Você, a quem desejo,
Você, que eu nunca esqueço,
Você que guarda minha vida dentro do teu beijo.

Um beijo que não tem sabor,
não tem cor, não tem suspiro,
nem língua, nem gosto, nem tato.
Um beijo que não me deste provar.

Vou matar, matar essa sede insaciável de você.
Amanhã vou te contar que quero você
que sou você
que amo você.
Ou te tenho ou vou me perder.
Mas já estou perdido.
Como se sai de dentro de você?

Você podia ao menos me olhar???

Amanhã, amanhã vou te contar.
Amanhã.

Parasitismo

Parasita. Intracelular obrigatório.
Tropismo inexplicável pela célula-coração. Destruidor das fibras musculares do hospedeiro. Destruidor de conexões sinápticas. Destruidor de toda lógica e prática e método.
Pobre hospedeiro involuntário da doença infecciosa. Tenho pena de ti. Tenho pena de mim. Doença degenerativa, não transmissível por contato direto, nem indireto. Doença sem tratamento, sem remédio, sem cura, sem jeito. Doença só. Parasitária.
Atacando as funções vitais, sem destruir a célula invadida. Um esperto parasita. Altamente evoluido na escola Darwiniana. Aprendeu a não destruir sua fonte de vida, apenas extrair dela a vida da qual necessita. E assim segue seu curso, sorvendo, e bebendo, e tragando... parasitando.
Parasita, inexpurgável parasita. Indestrutível parasita. Como faço para de ti me libertar?
De qual antídoto devo me valer? De qual fármaco devo me drogar?
Qualquer coisa que mate este verme que me massacra agora aos poucos, devagar, dia a dia, consumindo o que de mim havia. Engolindo o que de mim eu podia ser. Nem sei mais separar eu de você, parasita.
Ah, se eu soubesse te combater, ou te vencer. Te controlar, ou te matar. Me libertar. Mas não sei nada de ti, parasita.
Tudo que sei é o que ouvi dizer... Sei que te deram um codinome. Por ai te chamam de amor.

3 de janeiro de 2010

Agrados e arrufos

É quando a gente acorda assustado, sabe? Como se tivesse tido um sonho muito ruim...
Mas eu não lembrava de nada. Não sabia o que eu tinha sonhado.

Sabia tão pouco de mim mesma... E o pouco que eu sabia, às vezes não me agradava.
E por não me agradar, às vezes acho que não agrado o resto do mundo também.

Meio depressivo isso...

É que, na verdade, nem todos os dias a gente pode acertar sempre. Nem agradar sempre.
Pior é quando a gente não agrada a si mesmo. Aí é pior mesmo.

2 de janeiro de 2010

Barquinho de Papel

Era um amor desavisado. Nem ele sabia de onde vinha, só sabia que por acaso havia esbarrado naqueles dois, e agora já não havia mais o que fazer.
Amor esquisito aquele, que veio sem pressa, devagarinho, como clandestino num navio de papel.
Mas barquinhos de papel podem aguentar tempestades?

Sem sono

Amélie, um coraçãozinho pequeno pode guardar muito medo às vezes, e isso é ruim, porque assim a dona do coraçãozinho quase não consegue dormir.