20 de janeiro de 2010

Should I?

Não me peça pra ficar. Não me mande ir. Me deixa vagear, borboletar, aqui, ali, acolá... Desconsertadamente voar sem destino, sem pouso. A farsa da sensação de liberdade é o que nos faz levantar todos os dias. Deixe o vento, a brisa, a tempestade soprar sobre minhas asas leves, me desviar... Penso assim que controlo o incontrolável. Sinto-me domadora de mim mesma, num circo de vida montado de improviso no meu quintal.
O que digo hoje, penso amanhã? O que digo sobre mim mesmo é o que sou? A gente acha que é o que é. Mas a gente é mais o de dentro ou o de fora? Porque não conheço ninguém igualzinho dentro e fora. A gente sempre camufla alguma coisa. O eu de dentro é aquilo que vejo no espelho, talvez... Aquela coisinha parecida comigo, que me sorri de volta quando lhe mando um sorriso distraído. O reflexo de mim sou eu?  Por vezes meu reflexo me engana. Eu pisco, ele pisca de volta. Quase sincronia perfeita. Mas aí levanto a mão direita, e ele levanta a esquerda. E é quando vejo que até os semelhantes têm suas diferenças. Então onde ficam as respostas?
Pontilho de interrogações uma vida na qual as dúvidas se sucedem initerruptamente. E gosto de colocar essas palavras grandes no meio das minhas frases. Não sei por que. Mas gosto, e boto, e pronto.
Não vou fugir das palavras bonitas, da vida bonita, do céu azul infinito, do cheiro de mato e de prosa na janela no fim da tarde. Depois de crescer ao lado dos livros pronvincianos, machadianos, não me contento com pouco, [talvez] infelizmente. Quero amores impossíveis bem possíveis, quero as loucuras nossas de cada dia, quero a delicada aspereza de um sonho querendo escapar para fora da mente limitadora. Deixem ele saltar para o mundo aqui fora, correr, pular, se estribuchar no chão como criança aprendendo a andar, e aí voltar chorando para mim, pedir colo, e instantes depois voltar a correr, como se não houvesse limites.
Onde estão os limites? Para mim eles só existem nesse mundo real, material, chato.
Aqui, na calada de mim mesma, vem minha sanidade e bagunça a irracionalidade. Quem atrapalha quem? O mosaico de mim mesma sendo montado e desmontado dia após dia.
Mentira dita mil vezes vira verdade? Então eu sou uma mentira mil vezes dita? Verdade, então? Ou sou personagem idiocrático de algum cronista sem um pingo de criatividade?
Então, qual será minha próxima verdade? Posso me remodelar sob uma nova mentira mil vezes dita. Mas tenho medo. Nunca fui muito boa nesse negócio de mudar. Mas também tenho o pequeno problema de me negar a estática inércia de sempre ficar. Então perco de um jeito ou de outro. Um dia tenho que escolher. Oscilo entre ir e vir. Então começo uma nova mentira pra mim, e a conto novecentas e noventa e nove vezes. Tenho medo, paro, recomeço do número um, uma outra mentira que melhor me sirva no momento de agora. E a sigo repetindo, novecentas e noventa e nove vezes. E novamente paro, e novamente recomeço.
Sei o que quero ser. Só não sei como chegar lá.


"Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Seu bicho-papão"

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