30 de setembro de 2009

Outono

As folhas pelo chão...

O vento levando tudo, soprando para longe, perdendo no espaço... O outono que derruba as folhas que foram verdes, as folhas que deram sombra, as folhas que eram firmes e inabaláveis há tão pouco tempo.
O tempo vai soprando as folhas assim como o tempo vai soprando a vida, levando tudo, sufocando as dores, apagando os males.

O que fica? Quem resiste a força dos tempos, dos ventos, da vida?

Ficam só as lembranças... As coisas escritas, os livros, as palavras gravadas com giz no muro com reboco quebrado do quintal.

Todo o mais é levado pela inconstância do universo. Pela mutabilidade das nossas constâncias.

Muda o rio, muda o mar, muda a estrada, muda o caminho, muda a companhia, muda a vida. Muda a gente.

A gente é quem mais muda. Consequência da absorção das tranformações com as quais vamos nos encontrando.

Mas de todas as mudanças, de todas as evoluções, as mais facilmente apagadas, esquecidas, imemoradas, são as palavras despejadas no quase silêncio de um murmúrio... E ainda aquelas gritadas dos telhados. Palavras ditas, apenas ditas, são levadas pelo tempo como folhas secas de outono.

Apenas pela troca de estações.

29 de setembro de 2009

Viver

Eu escolhi viver.

Não quero apenas existir.
Ou ser mais um.
Mais um número, mais uma cabeça, mais uma boca, mais um alguém qualquer.

Quero ser verbo em ação, não um estado
ou fenômeno da natureza.

Viver de uma maneira não permanentemente acertiva.
Como hei de evoluir se não houver erros com os quais aprender?

Viver. Vir. Ver.

Vir para onde meu coração me chama, onde o mundo acontece.
Vir ver o coração da humanidade.

Ver os dias e as noites. Os espinhos e as flores.
O amanhecer e o entardecer.

Vir e ver o começo e o fim. E virver tudo mais que eu encontrar no meio tempo entre vir e ver.

28 de setembro de 2009

Me nego

Me nego a viver na eterna espera do talvez há de vir.
Me nego a viver como quem não sabe aonde ir.
Me nego um não saber, um não ter, e mais que tudo, um não querer.

Quero que esse querer venha com todas as forças da minha alma, e só pelas coisas que quero ardentemente anseio mover meus pés.
E movê-los com todo ímpeto em direção à meta. Correr por querer.
Mesmo que o caminho não seja doce. Mesmo que não haja flores.

Mesmo que nem sempre sejam sorrisos.
Mesmo que eu caminhe sozinha.

Me nego a viver uma existência ordinária, com um sentido ordinário como uma pessoa ordinária.
Me nego a pertencer às convenções, aos padrões e as estatísticas.

Me nego a ser convencional, previsível e estática.
Minha existência obrigatoriamente envolve movimento, busca, inconstância.

Me nego à perfeição.
Estou em constante construção. Processo inacabado de evolução.

Me nego aos limites.
Sou expansão, dilatação, êxtase.

Sou mulher na mais completa expressão da palavra.
Em eterno processo de vir a ser.
Contínua e interminável METAMORFOSE.


26 de setembro de 2009

Coisas inesperadas

Inesperado.

Aquilo que não se espera; imprevisto. Aquilo com que a gente não contava, não supunha, não imaginava.

Surpresa.

Reencontrar um amigo que há muito você não via no lugar mais improvável... Achar dinheiro perdido no bolso de alguma calça que estava esquecida... Receber uma carta de alguém esquecido pelo tempo... Ouvir um "eu te amo" no meio de uma briga sem razão... Encontrar de repente no corre-corre da vida alguma coisa que faz bem ao coração...

Coisas que chegam sem avisar, sem data, sem hora, e mudam nossa tarde, nosso dia, nossa vida.
Inesperados ruins, inesperados indiferentes, inesperados indescritivelmente fantásticos.

Nossa vida é divida em momentos. Os momentos em que esperamos pelo inesperado - por mais ilógico que possa parecer, mesmo que de forma inconsciente, quando desejamos que aquele dia seja bom, que o sol brilhe, que encontremos sorrisos; e os momentos em que eles acontecem.

E quando o inesperado acontece...

E esse inesperado é tão bom, mas tão bom
que você começa a rir sozinho na rua,
e a cantar porque faz chuva... e cantar porque faz sol...
e tudo no mundo fica mais lindo lindo...

Quando esse tipo de inesperado acontece
A gente fica até sem saber o que dizer no post do blog...

24 de setembro de 2009

Desses tantos modos

Desses tantos modos
permitidos pela análise
combinatória das possibilidades.
De todos esses jeitos
com todos os defeitos
sem tirar nenhum sorriso.

Usando todos os clichês.
E variações de número e grau.

Com todos os talvez
Poréns, por quês.
Com as reticências e
As interjeições.
Com todos os quanto e os senão.

Com todas as conversões,
locuções,
alucinações.
Amo você.

Desses tantos modos quantos
cabem no todo das partes que formamos.

21 de setembro de 2009

Invasão

E teus olhos me invadiram.
Entraram pela alma adentro.
Viajaram por entre mim.
Descobriram todo meu mundo.
(sol e chuva, luz e escuridão)
E resolveram morar comigo.

20 de setembro de 2009

Controle

Problemas de comunicação.

Tu falas, eu não entendo; eu entendo o que tu não falas, e não nos traduzimos mutuamente. Como se nossos diálogos nascessem em línguas diversas. Como se pertencéssemos a culturas totalmente díspares, nós que tivemos o mesmo berço. Como se nossa similaridade agora nos constituísse em completos estranhos, que apenas hoje se tivessem conhecido.

A linguagem da minha cabeça sempre a desafiar a linguagem do meu coração. As vontades do meu coração todos os dias sendo policiadas pelas minhas neurotransmissões sinápticas.
O serviço de fiscalização da racionalidade a podar as ternas loucuras das minhas vontades. Os meus desejos insanos a contrariar a coerência das minhas ações.


Quem irá vencer a guerra sangrenta travada neste campo de batalha no qual me tornei?


Quem ensinou-te, coração, a afogar-te em sentimentos, a criar laços, a sentir dor? Não me lembro de te ter proferido essas lições...
Para que precisavas mais que impulsos nervosos a te direcionar para o momento exato da pulsação? Sístoles e diástoles, diástoles e sístoles. A lei da vida a direcionar o fluxo...

De onde vem essa dor a comprimir meu peito? Essa ansiedade a acelerar teus batimentos? Quem te deu esse descompasso, essa necessidade, esse desalinho?

Minha racionalidade a querer me convencer que toda fonte de sentimentos vem de alguma parte do cérebro, consequência inequívoca de algum desequilíbrio de transmissões nervosas.
Mas se são as conexões neurais que controlam minhas ações, guardam minhas memórias, decidem minhas imprecisões, como explicar que tudo isso se traduz em uma descompressão toráxica, um aperto no peito, uma arritmia a me fazer sentir explodir?
Se é tudo tão racional, tudo tão lógico e tão científico, por que não me dói a cabeça desesperadamente? Por que não sinto o cérebro se contorcer em suas circunvoluções?

Por que é meu peito que dispara como se quisesse fugir para algum lugar além de mim?

Quem conseguiu guardar toda a vida dentro de um coração? Guardar todo o amor, todo o medo, toda a incerteza e todo o desejo? Quem te deu o direito de parar de bater e com isso encerrar toda forma de vida? Porque a vida não termina quando terminam minhas voluntárias construções psíquicas. A vida termina quando o coração se cala.

Quem deu a este órgão a capacidade para se libertar da tutela da transmissão nervosa e, por si só, responder a toda forma de sentir?


Quem te ensinou, coração, a não caber mais dentro de mim?


19 de setembro de 2009

Presente

A vida que vem devagarinho
como quem não tem pressa de ser feliz.
E depressa vai construindo castelos
soprando estrelas com pó de giz.

E nossos dias a gente rabisca
com aquarela de sonho e pincel de fantasia.
Conta histórias para esquecer a dor
Relógio da gente tem hora de poesia.

Você que chegou no meu mundo
e fez de mim moradia.

Teu sorriso que vejo quando fecho os olhos
enquanto você segura minha mão.
Minha mão que fecha teus olhos
pra te embalar numa canção.

E eu fico acordado olhando você dormir...
Contando a saudade de quando você não está
Desconheço esse aperto no meu peito
essa vontade de te ver chegar.
Essa parte minha que eu não tinha
Essa vida que ganhei do teu olhar.

17 de setembro de 2009

Vontade

E hoje me deu vontade...
Aquelas vontades de não tem pra quê.
Que não vem de lugar nenhum e ficam matutando, matutando, e volta e meia aparecem pra não deixar você esquecer nem por cinco minutos que ela está ali, esperando.
Vontade insistente.
Vontade chata.
Tentei conciliar. Eu não tinha tempo, não tinha lugar, não tinha como ser hoje, e no fim de tudo, eu não queria mesmo e pronto!
Desculpas eu tinha todas - reais e inventadas. Mas vontade é um negócio que não sabe fazer concessão.

Fiquei contornando o dia todo, tentando enganar a vontade com qualquer outro passa-tempo, esperando só ela fazer as malas e partir. Eu ia dizer aquele: mas é cedo, volte sempre! com a vontade de quem diz: até que enfim, volte nunca!

Mas nada da vontade ir embora... A dita cuja foi criando raiz, foi chegando como quem não quer nada... e pronto: a vontade ficou. E não veio sozinha, foi organizando uma rebelião mental.
Juntou a coragem, juntou o desejo, juntou tudo que tinha por perto. E esses malcomunados botaram a preguiça, a moleza, a lassidão pra fora de casa. Estava feita a confusão. Fui rendida.

Acabei indo pegar a caneta para assassinar com tinta e papel essa vontade indigesta de escrever.

12 de setembro de 2009

Lógicas

Querer (Pablo Neruda)

Não te quero senão porque te quero

E de querer-te a não querer-te chego

E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.


Difícil dizer o que procuramos. Ser feliz talvez mais que fazer feliz. Ou ainda fazer feliz mais que qualquer outra coisa no mundo.
Às vezes esperamos demais. Apenas sentamos e deixamos que a vida siga seu rumo, o rio siga seu fluxo, as corredeira desça sua montanha. E apenas olhamos a lógica do universo seguindo seu curso.
E nos conformamos com as curvas que encontramos, com os desfiladeiros aos quais nos lançamos, com o destino que levamos.
Tudo como se não pudéssemos escolher em que esquina virar... Como se a ordem do universo não pudesse ser alterada.
Queremos coisas perfeitas, exatamente como tínhamos imaginado, sonhado, ufanizado... E ficamos apenas sentados, esperando... Quem sabe, atrás daquela curva lá na frente...

A questão é: ninguém nos deu o direito de imaginar exatamente como alguém deveria ser ou agir, nam como as sequências de quadros deveriam se suceder. Quem disse que não poderíamos discordar, desviar, traçar nosso rumo, independente da lógica da leis de Einstein? (e das nossas próprias lógicas envelhecidas também).
Quem está tentando controlar uma vida que é minha? E que vai morrer comigo?

Nem todo mundo entende fácil... Alguns vão passar uma vida sem perceber. Que um simples sorriso, um abraço, o olhar nos olhos podia ter feito toda a diferença.

"Porque ou você toca, ou não toca..."

O tempo não volta. Nunca.
A vida passa,
o vento passa,
a idade passa,
até as palavras passam.

E se eu não fizer com que valha a pena agora, quanto tempo mais vai passar até que eu encontre o que procuro após a curva do rio, esperando a lógica de Einstein, a organização metódica da gravidade que leva tudo, controla tudo, irremediavelmente inquebrável, intocável, imutável (insuportável)?

Se nós continuarmos esperando, quanto tempo vai sobrar da vida pra gente ser feliz?

8 de setembro de 2009

Onda

Veio a onda brincar com meus pés
distraídos na beira do mar...
Afago gelado que chegou e partiu
carinho doce do mundo em mim.

A onda me trouxe uma concha,
e se foi antes mesmo de chegar.
Essa vida de ser onda: vem-e-vai, vai-e-vem
costume jocoso que nunca tem fim.

Fico aqui, na beira do mar
olhando pro mundo infinito.
Espero a onda voltar.
Um dia, essa arteira onda
dia desses ela volta a me beijar.

90 minutos

Com um chute
um pé direito que dispara um tiro
um foguete em direção à meta
certeiro em direção ao alvo
como num jogo de arco e flecha.

O tempo se arrasta, o tempo pára, o tempo nega...
milésimos de segundo intermináveis e sem pressa
a boca entreaberta
a angústia, a esperança,
a bandeira segurada junto ao peito.

O grito vai se formando na garganta
a vibração fremente de cordas vocais verde-amarelas...

E o couro recauchutado alcança seu destino máximo
a razão de sua existência.
A bola toca o fundo da rede,
abraça a malha distendida, firme, resignada,
rendida pela mágica do movimento,
a obra-prima esculpida com os pés
do artista artilheiro, ao mesmo tempo
herói e carrasco, algoz e redentor.

E o artista grita,
grita com a voz de milhões de torcedores,
com a garganta de 189 milhões de extasiados, deslumbrados, incontidos,
que há pouco, paralisados,
quase colocavam a bola dentro da meta com as próprias mãos.
São 189 milhões que agora vibram, e berram, e alucinam,
enlouquecidos,
apaixonados, movidos por um só grito,
um só canto,
um só Brasil.

(Homenagem de uma brasileira agradecida e deslumbrada de como, em noventa minutos, a mágica do futebol e o amor de uma nação podem ser capazes de fazer tantos olhos se voltarem para a televisão, assistindo piedosamente cada toque de bola, cada passe, cada defesa. Um encantamento capaz de fazer uma nação tão díspare, tão atingida por desiguldades, tão sofrida, vibrar junto no mesmo grito de gol, e esquecer nesses instantes suas misérias... pelo menos por noventa minutos.)

África do Sul, 2010!!!!!!!! As alegrias que podemos ter!

Sobra tanta falta...

Sabe saudade?
Estou com um monte guardada aqui, pra quem quiser saber como é...

Sobra tanta falta...
Falta de sorriso,
falta de carinho,
falta de verdades,
falta de bobagens.

São faltas de horas,
de intantes que não voltam
Uma vida que leva anos
um instante que leva uma vida.

Um monte de imensidões de espaços deixados vazios.
Quero mais, quero paz...

Quero completar lacunas que o tempo deixou.
E pintar de colorido as borboletas do jardim.

Lápis de cor,
giz de cera,
aquarela,
pintar a tela.

Pintar o nariz de carmim
e fazer do mundo picadeiro,
desenhar minha boca de vermelho
pra que você acabe rindo de mim.

Abraçar o mundo.
Brincar com urso polar
Comer pedaço de nuvem.
Buscar estrela do mar.

Acabar com a falta.
Essa falta de tudo.
Esse vazio que sinto
imensidão cheia de nada.

Transformar a falta que sobra
naquilo tudo que quero.
Um abraço do tamanho do infinito
Infinito que cabe dentro de mim.
Sinto saudade.

7 de setembro de 2009

Em boa companhia

Uma coisa que eu tenho na vida é sorte. Não sei se a palavra certa é sorte. Acho que é mais que isso. Algo como dádiva. Ou graça mesmo. Daquelas que a gente ganha sem esperar, ou merecer.
Das coisas que tenho na vida, uma das mais importantes são as pessoas que tenho. As minhas pessoas.
Pessoas que fui ganhando das maneiras mais inusitadas. Que foram chegando inadvertidamente, inesperadamente, e foram ficando, ficando...
Pessoas tão diversas. Tão diferentes entre si, tão diferentes de mim. Pessoas que se completam, e me constroem também.
Diferenças...
Amigos contra todas as probabilidades, todas as possibilidades. Meus dessemelhantes, que de tão diferentes, se tornam tão iguais. E tão essenciais.
Todas as nossas pequenas - ou quilométricas - divergências nos convergem para o mesmo ponto final. Em algum lugar nossas retas convergem. E de repente, em alguns pontos, nos tornamos paralelos. Caminhando juntos e separados. Às vezes próximos, por vezes distantes. Paralelos, convergentes ou divergentes. Retas curvas, curvas retas. Construções geometricamente impraticáveis, excêntricas, extravagantes.
Diversidade. Opostos. Complementos.
Tenho pessoas felizes, pessoas tristes, pessoas complexas, pessoas simplistas, pessoas gigantes, pessoas inocentes, pessoas bobas, pessoas loucas.
Pessoas que nada temem, pessoas metódicas, pessoas inconsequentes, pessoas racionais.
Pessoas inconstantes, pessoas previsíveis, pessoas prosa, pessoas poesia, pessoas primavera, pessoas tempestade.
Pessoas. Minhas pessoas.
Que eu não sei ao certo de onde vieram, nem como chegaram. Como entraram pela porta da cozinha, como velhos conhecidos, sentaram na mesa, pediram um café e conversaram inutilidades de tarde com chuva, enquanto reinvindicavam pão com manteiga.
Não sei quanto tempo faz. Não sei o quanto de nós já mudou. Não sei para onde vamos.
Sei que as minhas pessoas habitam em mim. E estão aqui todos os dias, a me lembrar quem sou, e como faço meu caminho. Minhas pessoas divergentes, as dessemelhantes peças do mosaico que ganhei da vida. Os iluminados reflexos caleidoscópicos dos meus dias.
Quem pensa que tem muitos amigos se ilude. Um presente tão imenso não se encontra aos montes na vida. Colegas, conhecidos, por um tempo ou estação, desses temos aos montes. Mas amigos mesmo, amigos de uma vida, amigos de um pra sempre, daqueles que deixam na gente gosto de nuvem, ou de tarde de sol na beira de mar, esses a gente conta nos dedos.
Mas quando acontece, quando a gente se encontra, não importa se é riso ou choro, se é pranto ou mágoa, a gente vai, mas a gente sempre volta.
E o caminho é muito mais doce. Nunca vamos sozinhos. Estamos com a melhor companhia.

Ps.: Para minhas pesssoas, que vivem me pedindo um escritinho... Aí vão alguns reflexos de um dia marcado das maiores saudades de vossas pessoinhas...
Com os maiores amores do mundo!

Adestrando borboletas

Os sentimentos dançando dentro de mim. A sensação inconfundível. As borboletas voando no meu estômago, saltando, foliando, indo e voltando...
Borboletas de todas as cores e tamanhos. Um borboletário inteiro.
E as bonitinhas a bater asas em desespero, tentando sair da prisão, querendo voar livres, aproveitar sua curta existência.
As pequeninas, antes casulo, antes lagarta... Que iam rastejando em busca de sua metamorfose.
Hoje transformadas, vibrantes, fervilhantes. Querendo liberdade. Esperando o momento de alçar voo.

Quem vai soltar as borboletas? Quem vai soltar a vida que existe em nós?

Tão indisciplinadas as minhas borboletas. Indomáveis.
Paixão, ansiedade, nervosismo, medo. Qualquer sinal de sentimento, e lá estão elas a me deixar com essa sensação de frio no estômago, pernas bambas, vontade de voar com elas.
Vontade de viver.
E as rebeldes borboletas a se debater, a esbarrarem umas nas outras... querendo me mostrar que estão vivas, que eu estou viva, o que é a vida.
Borboletas que me denunciam emoções prosaicas. Penaltes na final de copa do mundo, um começo, um talvez, uma paixão nova, um amor antigo, a cena de um filme, o medo do fim, o medo da volta, uma plavra, um silêncio, a leitura de uma carta, o instante antes do beijo, o segundo antes da vitória, ou uma despedida.
Quando a gente perde o fôlego. Quando a gente vive de verdade.

6 de setembro de 2009

Para não dizer que não falei das flores...

Em resposta aos que dizem que desistimos.
Como resposta aos que acham que o mundo anda perdendo a fé.
Aos que não podem ver que continuar caminhando é acreditar.
Ninguém tem idéia do quão longe nós - os inconformados - podemos ir.

Venho aqui dizer que os dias andam mais lindos do que nunca. Lindos porque o sol anda nascendo acompanhado de novos sonhos. Sonhos inimagináveis. Mas possíveis. E é atrás deles que ando trilhando meu caminho.

Venho dizer que ainda acredito nas pessoas. Sei que mais e mais inconformados vão despertar todos os dias. E vão surgir nas esquinas, nas praças, nas escolas, e vão caminhar nas ruas livremente, distribuindo idéias e atitude.

Esperança é uma flor que nasce em solo rochoso. Onde não havia possibilidades. Onde ninguém acreditava.

Mundo globalizado vai ser sinônimo de equidade, de justiça distribuída, ao invés da discrepância de nações detentoras de riqueza e geradoras de pobreza, embargos políticos loucos, políticos corrompidos e restrições comerciais ultrapassadas. A pobreza vai deixar de ser paisagem que olhamos como se fizesse parte do contexto.

Enquanto os seis bilhões de seres humanos não partilharem das mesmas condições sociais, os inconformados não se darão por satisfeitos. Enquanto houverem mãos estendidas, haverão incorformados para segurá-las.

Chamem isso de utopia; chamem-nos de loucos, ingênuos...

Nós somos loucos que sabem pelo que vivem, em que acreditam. Não desistimos, não nos rendemos. Podemos não mudar o mundo, mas não iremos embora sem ter plantado nossa semente.
Um dia alguém apreciará o jardim que plantamos.
E essa devassidão vai deixar de ser vista como normal.



"It's a beautiful day.
The sky falls and you feel like it's a beautiful day
Don’t let it get away..."





2 de setembro de 2009

Cogito ergo sum

Penso, logo existo.

E de pensamentos vou povoando a cinza das horas dessa existência. Os pensamentos que viram ações saem, os que morrem desejo, ficam.
Dessa forma, vou lentamente, vergonhosamente, me afundando nas areias da ampulheta de meus anseios, de meus pensamentos desvairados que não consigo externar, e vou me desmanchando a implorar clêmencia aos já sôfregos, que em nada podem me socorrer.
Vejo reflexos desbotados do que anda vagando pelo pântano dos meus adágios.
Analiso, reflito, nomeio, esquadreio. Avalio, rememoro, desnorteio, discordo. Reformulo, alucino, descompasso, desafino.

E são voltas e voltas sem sair do lugar. Mas continuo a pensar.


Penso, existo. Penso, enlouqueço.

Escrevo linhas desconhavadas, inutilmente presas a uma malha frouxa de conceitos que não duram mais que uma semana.

Escrevo linhas que ninguém lê. Ideários que valeriam uma revolução, ou ao menos um sentimento de misericórdia, e que não chegam a cumprir sua missão. Não cruzam a fronteira entre remetente e destinário.
Mas não existem destinatários. Não inicialmente. Não premeditamente.
Não que os escritos não devam ser lidos. Só não sei bem a quem direcioná-los.

Acho que, no fim de tudo, remeto os textos para mim mesmo. Envio pelo correio cartas que voltarão para minhas mãos.

Talvez para me lembrar das coisas em que acredito e nas quais preciso por hora acreditar.
Talvez para depois rir incontroladamente das tolices em que acreditei.

Escrevo para não esquecer de mim. Dos pedaços muitos que costuro na colcha de retalhos da vida. Escrevo para não esquecer dos muitos eus que me habitam. E que gritam para sair, desesperados querendo mostrar quem são.
Todos os eus donos do mundo meu. Todos os eus constantemente empenhados nessa tentativa de exposição.

Todos os meus eus - pensantes ou não (sim, tenho alguns eus não pensantes, e por esses tenho um carinho particular, seja por merecerem um cuidado especial, pobrezinhos, ou talvez por serem assim tão inconsequentes, capazes de realizar os desejos que meus outros eus se acovardam em tentar) - se unem inconformados perante essa dita.

Cogito, ergo sum.

Não é suficiente, meus caros, gritam os meus eus.
O que é o pensar? De onde vem o que se pensa e de que vale o adágio apenas pensado, não verbalizado?
Em que mudamos após um pensamento? O que fica e o que se vai?
Quais as metomorfoses que construímos? O que muda no mundo se o pensamento não sai, não contamina os outros eus, os outros tus, todos os eles?
Se não semeamos novas idéias, novas sementes, novas revoluções?
Se não discordamos todos os dias das nossas verdades, como evoluimos?
Que os teus eus também gritem: A única certeza é a dúvida.

Dubito, ergo cogito, ergo sum!

1 de setembro de 2009

Lágrima


Era uma gota de chuva,
uma gota de orvalho,
uma gota de lágrima...

Despretensiosa, desavergonhada,
descabida. Despedida.

Era tão triste a gota triste.

E a gota descia pelo rosto que antes sorria,
e ia deixando rastros no caminho que fazia.

Era uma gota incerta e fremente
Uma gota que não sabia bem para onde ia.
Que externava um coração cheio de outras gotas,
que transbordava, que chorava, que sofria.

Era uma gota que ganhava liberdade.
Cheia de uma tristeza morna que molhava a boca
e tinha gosto de sal. Tinha gosto de dor.

Que ia escorrendo devagar, molhando de vagar, evaporando devagar.

A gota não conheceu o chão. A gota virou vapor.
A gota virou ilusão.

Alguns segredinhos

E você chega...

Eu finjo que não sabia que você vinha.
Faço de conta que não estava esperando.
Disfarço a vontade de gritar de felicidade, de sair correndo, de sair voando...

E quando você fica...
Eu invento assuntos pra passar o tempo. Qualquer besteira pra deixar você por perto.
Porque suas idéias loucas me fazem bem. E quando você ri eu sou um tanto mais feliz.
Então, eu
invento que esqueço, ou invento que me lembro,
ou digo que por acaso eu tenho aquele livro que você queria tanto ler.

E quando você se vai,
Eu finjo que não sofro, eu finjo que não choro, eu finjo que não dói.

Eu finjo todos os dias que não te amo.

Klécia Melo


"Não sei se anoiteço ou se amanheço ou se enlouqueço.
Ou se adormeço. Ou se te esqueço."
(Pedro Antônio de Oliveira
)

Vamos

A frase do dia: Vamos fingir que viver é fácil.

Vamos sorrir o máximo possível, todos os dias, a cada hora inumeradas vezes...
Vamos engolir em seco o medo de rejeição, o medo da solidão, o medo do medo.
Vamos passar por cima da insegurança, da dúvida, do abandono.
Vamos ficar alegres quando as nuvens forem tristes.
Vamos gritar quando o silêncio estiver incomodando, sufocando.

Vamos ser companhia
Vamos ser ousadia
Vamos ser loucura em meio a monotonia.

Vamos construir novos dias.
Vamos revelar os segredos.
Vamos acabar com os nós que existem em nós.

Vamos viver, ao menos. Nem dói tanto assim (quase sempre).

Barulho

Esse imenso barulho que o silêncio anda fazendo...

Lá vem ele, tomando conta, dia após dia,
das idéias,
das matérias,
dos impropósitos,
das desvontades,

Apossando-se inautorizadamente de tudo que há...

Tenho medo que esse nível de décibeis ainda vá me deixar louco.

Obs.: não, isso não foi uma lágrima que você viu escorrer aí...