Com um chute
um pé direito que dispara um tiro
um foguete em direção à meta
certeiro em direção ao alvo
como num jogo de arco e flecha.
O tempo se arrasta, o tempo pára, o tempo nega...
milésimos de segundo intermináveis e sem pressa
a boca entreaberta
a angústia, a esperança,
a bandeira segurada junto ao peito.
O grito vai se formando na garganta
a vibração fremente de cordas vocais verde-amarelas...
E o couro recauchutado alcança seu destino máximo
a razão de sua existência.
A bola toca o fundo da rede,
abraça a malha distendida, firme, resignada,
rendida pela mágica do movimento,
a obra-prima esculpida com os pés
do artista artilheiro, ao mesmo tempo
herói e carrasco, algoz e redentor.
E o artista grita,
grita com a voz de milhões de torcedores,
com a garganta de 189 milhões de extasiados, deslumbrados, incontidos,
que há pouco, paralisados,
quase colocavam a bola dentro da meta com as próprias mãos.
São 189 milhões que agora vibram, e berram, e alucinam,
enlouquecidos,
apaixonados, movidos por um só grito,
um só canto,
um só Brasil.
(Homenagem de uma brasileira agradecida e deslumbrada de como, em noventa minutos, a mágica do futebol e o amor de uma nação podem ser capazes de fazer tantos olhos se voltarem para a televisão, assistindo piedosamente cada toque de bola, cada passe, cada defesa. Um encantamento capaz de fazer uma nação tão díspare, tão atingida por desiguldades, tão sofrida, vibrar junto no mesmo grito de gol, e esquecer nesses instantes suas misérias... pelo menos por noventa minutos.)
África do Sul, 2010!!!!!!!! As alegrias que podemos ter!
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