26 de agosto de 2010

Jogos de Azar

Na beira do lago
de águas profundas [e desconhecidas]
Atiro pedras na água e fico olhando a concêntrica expansão da vida.
Fico detido em jogos nos quais tento ganhar de mim mesmo [já que dos outros não sei ganhar].

Brinco de jogos assim infantis
por saber tão pouco das grandes trapassas, dos grandes truques
das artimanhas dos grandes campeões.

Porque a vida às vezes se parece como um grande jogo de azar:
quem não sabe jogar
aposta alto na esperança de pelo menos contar com a sorte.

25 de agosto de 2010

Dores

Não, não há dores que possam ser divididas.
Nem pelo mais próximo irmão, perante o relato mais fidedigno do que nos aflinge.
O sentimento ao ser transferido é ressentido, reformulado, redesenhado.
Pode até se manifestar como dor, mas nunca a mesma dor.

A nossa dor nada mais é que nosso calvário intransferível, flagelo e açoite pessoalmente identificado.

Procura-se

Procura-se um poema.

Perdeu-se na rua talvez, ou numa praça
ou em um parque qualquer.

Visto pela última vez pela mãe,
enquanto caminhavam com papel e tinta.

A mãe sofria de "descriatividade"
mal crônico de nossos dias.
Mas queria a toda força parir um poema
e emprenhou-se a todo custo,
engoliu as palavras todas,
gestacionou-as todas aglutinadas,
num útero atolado de preposições.

E agora tinha isto:
um muito de nada, obsoleto
agrupado
amontoado
bagunçado.
Palavras juntas sem sentido
empurrando pra sair.


E na hora de despejá-lo fora
de dar luz ao filho-poema
o menino filho de uma insônia
deu com as pernas na rua
e ganhou o mundo.



O poema soltou a mão da mãe
e fugiu desvairado
procurando quem melhor sortilégio lhe desse
quem tivesse rimas mais ricas
ou melhores preces.

O filho-poema tinha fugido
ou se perdido
estava desencontrado de suas mãos.

Então procura-se um poema
um poema pequeno
de olhos vivos e narizinho arrebitado
de cabelos luzentes ao brilho do sol.

Pode ainda conter vestígios de sangue
pelo sofrimento do parto.

O dito cujo é meio tímido
um tanto franzino
um poema de poucas palavras.

Não o procurem em audições
nem em aplausos
nem em saraus.
Este poema não é destes.
É um poema simples,
que nem bebe nem fuma
nem se mete em confusão.


É um poema precoce
que em seus poucos dias de vida
sabe bem mais que eu em meus vinte e poucos anos.


Se alguém se comover
e meu filho encontrar
faça o favor de lhe dizer
que volte nem que seja pra me dar
o consolo de ver que posia eu ainda sei gerar.

10 de agosto de 2010

Da dor de nunca ser

"De fato, não existe nada mais deplorável do que, por exemplo, ser rico, de boa família, de boa aparência, de instrução regular, não tolo, até bom, e ao mesmo tempo não ter nenhum talento, nenhuma peculiaridade, inclusive nenhuma esquisitice, nenhuma ideia própia, ser terminantemente "como todo mundo". Dostoyevsky
Olho angustiosamente para os meus pés, contorcidos na tentativa infame de - até eles - se esconderem.
Lamento copiosamente a falta de habilidade de cerrar-me em mim mesma, como num casulo de exílio voluntário.
Quando o que se vê não é o que se deseja.
Quando o que se sonha não passa de utopia.
Quando se descobre a linha grotesca da vergonha e da dignidade.
Quando se esquece o que de nós pode haver, ser ou estar.
Quando não se sabe nem de onde vem a dor.
Quando a dor existe por si só, sem maiores explicações.

2 de agosto de 2010

Não há sossego

---e ai de mim, nem se quer há o desejo de o ter... (Fernando Pessoa)

Não, o tempo não é relativo. É na verdade bem absoluto, contado em exatas 24 horas diárias.
E me andam faltando algumas em cada dia.
Minha intenção inicial era vir aqui com essa desculpa para tentar explicar meu sumiço literário. Mas acabei ficando com vergonha de fazer isso e esperar se entendida por algum leitor que - todo mérito do esforço seja dele - ainda venha visitar essas páginas.
Afinal, depois de tanto tempo de sumiço ainda venho encontrar você por aqui, caro leitor. Simplesmente me atravacou o coração passar esta desculpa em você. Então acabei aproveitando o tema e estendendo a ideia para um sofrível post.

Não tenho esperanças de um tempinho mais folgado nos próximos dias. Desestimulador? Não, não é. Opção minha, meu estilo de vida que vai (?) ser recompensado cedo ou tarde, quando eu chegar lá aonde estou indo.
Bem, nada poético isso aqui. Meio corrido, porque sei que tem coisas me esperando pra serem realizadas e colocadas neste mundo material logo que eu largar esse teclado. Mas enfim, fica a promessa que dia desses, antes de dormir, deixarei a mão livre para que ela travessure o quanto quiser com as teclas do meu pc.

O segundo blog (que na verdade recebe mais posts que esse, já que lá posto uma vez na semana ao menos), esse sim continua recebendo minha devida atenção.

Até mais então. Volto logo, assim espero.