Procura-se um poema.
Perdeu-se na rua talvez, ou numa praça
ou em um parque qualquer.
Visto pela última vez pela mãe,
enquanto caminhavam com papel e tinta.
A mãe sofria de "descriatividade"
mal crônico de nossos dias.
Mas queria a toda força parir um poema
e emprenhou-se a todo custo,
engoliu as palavras todas,
gestacionou-as todas aglutinadas,
num útero atolado de preposições.
E agora tinha isto:
um muito de nada, obsoleto
agrupado
amontoado
bagunçado.
Palavras juntas sem sentido
empurrando pra sair.
E na hora de despejá-lo fora
de dar luz ao filho-poema
o menino filho de uma insônia
deu com as pernas na rua
e ganhou o mundo.
O poema soltou a mão da mãe
e fugiu desvairado
procurando quem melhor sortilégio lhe desse
quem tivesse rimas mais ricas
ou melhores preces.
O filho-poema tinha fugido
ou se perdido
estava desencontrado de suas mãos.
Então procura-se um poema
um poema pequeno
de olhos vivos e narizinho arrebitado
de cabelos luzentes ao brilho do sol.
Pode ainda conter vestígios de sangue
pelo sofrimento do parto.
O dito cujo é meio tímido
um tanto franzino
um poema de poucas palavras.
Não o procurem em audições
nem em aplausos
nem em saraus.
Este poema não é destes.
É um poema simples,
que nem bebe nem fuma
nem se mete em confusão.
É um poema precoce
que em seus poucos dias de vida
sabe bem mais que eu em meus vinte e poucos anos.
Se alguém se comover
e meu filho encontrar
faça o favor de lhe dizer
que volte nem que seja pra me dar
o consolo de ver que posia eu ainda sei gerar.
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