Só percebeu quando chegou em casa. Percebeu que havia sido roubado. Discretamente, meticulosamente, ele nem se deu conta. Vasculhou em todos os cantos, reviroua bolsa várias vezes, ele tinha que estar enganado, tinha que estar em algum lugar. Mas não, não estava.
O que de mais importante ele tinha na vida, a maior herança de família, que de tão importante ele trazia sempre consigo para não correr o risco de perder ou de alguém pegar sem sua atuorização. E agora estava sumido.
Roubado? Ufanado? Levado? Esquecido?
Após o momento de descrédito, logo em seguida à revolta, ele sentou-se placidamente no chão e ficou apenas em estato de apatia. O que se havia de fazer?
Ficou ali, sentado, com a mente vazia. Olhou por minutos incontáveis para o espelho que casualmente estava posto em sua frente e começou a olhar para si mesmo. E viu que agora lhe faltava o pedaço. O pedaço sumido, o pedaço levado. Não se reconhecia na ausência de sua parte.
Olhava para si e via alguma coisa que não queria ver. Alguma coisa da qual definitivamente se envergonhava, por ter sido incapaz de guardar o que de mais precioso na vida podia carregar.
Era vergonha de si o que sentia. Naquele momento o convívio consigo mesmo ficou demasiado insuportável.
Foi quando ele parou, e olhando para o espelho, manifestou sua revolta na simples frase: Mas afinal, quem me roubou de mim?
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