A ausência era como uma falta momentânea de sentidos. Estava lá, mas sabia-se não eterna, não durável. Sabia-se passageira.
A ausência cria uma escuridão temerária, um curto lampejo de indecisão, onde a voz treme, os passos vacilam, e o medo chega bem perto, e sopra em nossos ouvidos uma canção assustadoramente real.
A ausência de ti, mesmo não eterna, mesmo transitória, de tão obscura, me dava medo.
A ausência de ti foi se agravando com a tua demora em chegar. E foi crescendo, se alimentando do pequeno medo de todos os dias. E a ausência de ti me deixou com sede, com fome, com frio. A ausência de ti, cada vez maior, foi me tirando o conforto das certezas que me restavam. E quando a ausência de ti se tornou tão grande a ponto de não mais caber dentro de mim, essa ausência de ti, barulhenta, incontrolável, rebelde, acordou a solidão.
E a solidão desperta é deveras incômoda. Ela, que estava reclusa num sombrio canto do coração, agora vem ruidosa reclamar de mim a presença de você. E eu, que só tenho a ausência de você, lamentavelmente tenho que lhe negar a matéria de sua carência. E na falta de outro alimento, solidão se alimenta de falta. E solidão cresce sorvendo grandes goles de ausência de você.
A solidão cada vez maior, deita no meu colo e faz birra, se nega a dormir, me usurpa uma paz que vou aos poucos perdendo, no compasso do desespero da falta de convivência.
E um dia a solidão se cansou de esperar. Resolveu ir embora, foi assim às pressas, sem despedidas, sem conversas. E o espaço que ela ocupava, agora já tão grande que nem eu mesma dimensionava, fica vazio.
E o vazio é a pior das dores, pior que a ausência, pior que a solidão. O vazio, a falta de espaço, o vácuo do abandono. Um vazio que cresce e toma tudo, e deixa assim, tudo cheio de nada.
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