20 de setembro de 2009

Controle

Problemas de comunicação.

Tu falas, eu não entendo; eu entendo o que tu não falas, e não nos traduzimos mutuamente. Como se nossos diálogos nascessem em línguas diversas. Como se pertencéssemos a culturas totalmente díspares, nós que tivemos o mesmo berço. Como se nossa similaridade agora nos constituísse em completos estranhos, que apenas hoje se tivessem conhecido.

A linguagem da minha cabeça sempre a desafiar a linguagem do meu coração. As vontades do meu coração todos os dias sendo policiadas pelas minhas neurotransmissões sinápticas.
O serviço de fiscalização da racionalidade a podar as ternas loucuras das minhas vontades. Os meus desejos insanos a contrariar a coerência das minhas ações.


Quem irá vencer a guerra sangrenta travada neste campo de batalha no qual me tornei?


Quem ensinou-te, coração, a afogar-te em sentimentos, a criar laços, a sentir dor? Não me lembro de te ter proferido essas lições...
Para que precisavas mais que impulsos nervosos a te direcionar para o momento exato da pulsação? Sístoles e diástoles, diástoles e sístoles. A lei da vida a direcionar o fluxo...

De onde vem essa dor a comprimir meu peito? Essa ansiedade a acelerar teus batimentos? Quem te deu esse descompasso, essa necessidade, esse desalinho?

Minha racionalidade a querer me convencer que toda fonte de sentimentos vem de alguma parte do cérebro, consequência inequívoca de algum desequilíbrio de transmissões nervosas.
Mas se são as conexões neurais que controlam minhas ações, guardam minhas memórias, decidem minhas imprecisões, como explicar que tudo isso se traduz em uma descompressão toráxica, um aperto no peito, uma arritmia a me fazer sentir explodir?
Se é tudo tão racional, tudo tão lógico e tão científico, por que não me dói a cabeça desesperadamente? Por que não sinto o cérebro se contorcer em suas circunvoluções?

Por que é meu peito que dispara como se quisesse fugir para algum lugar além de mim?

Quem conseguiu guardar toda a vida dentro de um coração? Guardar todo o amor, todo o medo, toda a incerteza e todo o desejo? Quem te deu o direito de parar de bater e com isso encerrar toda forma de vida? Porque a vida não termina quando terminam minhas voluntárias construções psíquicas. A vida termina quando o coração se cala.

Quem deu a este órgão a capacidade para se libertar da tutela da transmissão nervosa e, por si só, responder a toda forma de sentir?


Quem te ensinou, coração, a não caber mais dentro de mim?


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