Quando os sinos surdos acordarem o silêncio da cidade com sua voz rouca e embargada após anos de forçada exclusão, repressão, contida emoção
E com seu ensudercedor protesto ferirem os ouvidos de uma sociedade impúdica, mesquinha, profana, pura farsa de fingimento exposto do real e moral, que acordará revolta em seu sono maculado, querendo calar a voz daqueles que agora gritam na calada da noite, porque outra hora não lhes fora dada
Quando quiserem romper as cordas, acabar com as claves, agudos e bemóis, conclamando juntos que o desconcertado canto dos sinos rompe com o compasso da vida metódica e agride os tons e os sons que se quer escutar
Quando a nossa boca quiserem calar
Quando ninguém em nossa defesa se levantar
Quando não houver mais cantos a se cantar
Quando na verdade formos nada mais que meliantes, fugitivos
clandestinos,
simples aspirantes do que haveremos de ser.
Quando nos atirarem no peito, nos atirarem do alto,
nos jogarem no abismo
Ainda assim, mesmo assim
Sinto lhes informar, meus caros,
mas quando tudo isso chegar
mesmo que não haja nem uma nota em partitura
para ouvir dos sinos o badalar
Mesmo que se queimem em praça pública a forma que se deve cantar
Mesmo que nos roubem tudo que levamos nas mãos, nas bolsas, nos bolsos, na vida
Mesmo que nos prendam, nos agridam, nos usurpem dos nossos ideais
Estes sinos ainda vão estar repicando pelas madrugadas canções incompreensíveis,
incompreendidas
porque eles não precisam de seus preconceitusos ouvidos
para que se façam ouvir, para que possam gritar
Seu direito de entoar não lhe será vetado
Os sinos serão cantados
serão badalados
mesmo que nenhuma nota se encaixe na canção
Os sinos continuarão a entoar a incompreendida canção de nosso arfado peito quer gritar
Os sinos estarão a tocar por todo o tempo em que ainda estivermos dispostos a tocar
[sem pontos finais]
5 comentários:
Que os sinos continuem entoando seu canto forte, espalhando sua voz que não precisa de ouvidos.
Gostei desse texto, me lembra uns manifestos latino-americanos que estudei na faculdade.
Até mais moça.
PS: Quando fui ler esse post estava escutando "O que será (À Flor da Terra), caiu como uma luva.
Amor, meu grande amor, se necessario para a nossa sobrevivencia, que acabemos com muito dos timpanos que nos cercam
Que nossa luz e sinos ceguem e tornem surdos os virgens q pensam q enxergam e escutam
Que os sinos independam do resto da humanidade. Que bastem por si sós a si mesmos, que repiquem as mais belas canções que a humanidade já viu, sem nunca esperar aplauso de reconhecimento. Porque os sinos se bastam.
A propósito, te amo gatinho, meu sininho de chocolate com creme!!! =***
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