Os dedos distraídos roçando a mortalha esquecida num canto da sala. Porque estavam todos ali, mas ali não havia ninguém.
O balanço da velha cadeira da sala era o único rangindo em todos os ouvidos. Mas a cadeira nem existia mais. Não estávamos na mesma sala. Não éramos sequer os mesmos.
As brincadeiras mortas, as risadas mortas. A vida morta.
As lágrimas debulhadas como as contas de um terço. Singelas e gélidas como a matéria morta. A matéria morta onde estava toda a calma. A calma que nos foi roubada.
Não era dor. Não era desespero. Não era falta de crença, não era ausência de fé.
Nem ela mesma sabia o que era. Mas nada daquilo era. O que era, era o que faltava. E que vai continuar faltando depois. Num futuro do pretérito eternamente conjugado.
O batom vermelho desmanchou pelo calor que fez, derreteu, manchou a gola do vestido comprado ontem, ao qual o tempo negou a estréia. Morreu virgem de corpo, desconhecendo as festas para os quais fora escolhido.
Até os dentes te roubaram. Teus esmaltes tiraram. Tuz tez morena, teu sorriso fácil. Nada disso encontrei hoje ao te ver. Me levaram o te ver. Mas que direito tenho eu de exigir?
Mas era você. Será você. Enquanto formos nós, será você.
Porque não morre o que vive dentro da gente.
2 comentários:
Quando olhares para o lado sabes quem vai ver? ^^
Escrevendo cada vez melhor Klécia.
Meus parabéns, até mais moça.
Postar um comentário