É preciso arte para sentar-se numa cadeira, e despejar sentimentos num papel, seja em forma de bilhete, de folhetim, de carta ou de página de blog na internet.
É preciso arte para assumir uma identidade que não é sua, para escrever sentimentos de outros, não sentidos, não vividos, não experimentados.
Quando não isso, é preciso arte para fazer exposição própria em forma de rimas e versos, devidamente camuflados sobre um codinome.
A arte de juntar palavras. Dar-lhes sentido, ou retirá-lo, ou deturpá-lo. Não importa. O escritor é quem molda o barro, quem joga com as palavras... O processo de criação é como gerar um filho, cada estrofe como uma semana de gestação, a dor do parto para o verso final, o ponto final. E depois o deleite de ver a obra completa, o filho com todos os membros, a correr pelo jardim.
Escritor é um angustiado, que tem que verter em letras o que sente, por não conhecer outra linguagem. O escritor é um subordinado às letras, rendido, entregue, miserável. Tirem-lhe tudo, menos o papel e a caneta. O que lhe sobra?
Escritores têm o direito de serem imorais, imortais, ilegais. De falarem sobre o que ninguém quer ouvir, ou ler, ou saber.
Escritores têm a liberdade que resta aos detidos em celas de prisão. Escritores têm a ousadia de criminosos que nos assaltam à luz do dia em frente a delegacia de polícia.
Escritores se reservam o direito de serem inúteis, fúteis, de falarem sobre o que bem entenderem.
Escritores podem se dar ao direito de nunca morrer. Porque as letras não tem prazo de validade. Escritores são sonhadores, ou realistas, ou ufanistas, ou cientistas; a formação não importa. Escritor é aquele que dá graça ao nosso viver, uma vez que morre um pouco de cada vez em cada texto que escreve.
2 comentários:
É preciso arte para assumir uma identidade que não é sua, para escrever sentimentos de outros, não sentidos, não vividos, não experimentados - A melhor frase do blog e por pouco n foi o melhor texto. Agora sim, parabéns!
Só uma pequena obs.: cuidado com o conceito de escritor =P
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