12 de abril de 2010

Epitáfio de um passarinho

Já que eu vou morrer agora, tudo que eu disser se torna importante por consequência, e até aqueles que não admiram minhas palavras oua a forma de dizê-las vai parar para ouvi-las por respeito aos últimos cantos desse infeliz passarinho.
Quero dizer que partiram minhas asas, e isso é uma coisa que não se deve fazer a ninguém, pois me tiraram a chance de ver as coisas que me faziam viver, lá do alto. E o mundo ficou bem pequeno daqui de baixo. E as memórias antigas acabaram se apagando com o tempo, e tudo ficou reduzido às imagens ao redor desse poleiro na parede de uma casa ao redor de outras casas, numa floresta feia e cinza de cimento e concreto.
Então, por isso me rendo e morro, assim como um contrato que fiz em vida com a Dama Morte, para quando fosse chegada a hora.
Tudo que eu perdi de vista em vida, meus olhos encontrarão fechados. Porque os sonhos vão com a gente.
Se tenho medo? Medo tenho, embora não pareça. Mas que falta me faz a grande imensidão... E uma falta puxa outra. E fico querendo tudo, o todo, o mundo, fico assim querendo tudo, mudo, pois não sei mais cantar sem poder voar. Silêncio de divagações.
Sem asas, tive que aprender a romper a fronteira do espaço fragmentando pensamentos. Levo pouco. Mas trago muito.
Mas hoje cansei. Queria poder ir até o espaço orbital e poder repetir que a "Terra é Azul". Mas daqui de baixo tudo me parece bem cinza e quadriculado.
Infelizmente aprendi que por maior que seja o mundo, o que vivemos se limitou ao que conseguimos enxergar, especialmente quando víamos tudo e não enxergávamos nada.

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