Soprei as areias do tempo que eu segurava na minha mão. Havia por fim desistido de te segurar e entreguei os pontos vagarosamente, soprando as areais da ampulheta que quebrei há pouco.
Destino, sem tino, sem remorso, sem culpa... Para onde me levas? O que me sobra? Se és tu que tudo governas, se és tu que já sabes o que vem depois do próximo suspiro, se és tu que vês o que acontece enquanto pisco os olhos, te peço melhor sorte, ou me entrego a tua soturna vontade?
Adiantaria aqui implorar para que o que quero esteja ao meu lado amanhã ao acordar?
Se eu hoje suplicar para que me dês o mais impossível dos favores, haveria a mínima possibilidade de você me escutar?
Estamos todos por fim fadados a assistir as voltas que a vida dá, enquanto você se ri das nossas desilusões, dos nossos destemperos, das nossas febres e preocupações vãs?
Destino, não é solitária essa vida de apenas nos ordenar? Vou tornar mais divertido para você.
Soprei os últimos grãos que levava na mão. Vou deixar você jogar como sabe, caçador, entreguei suas armas. No entanto, um recado final: Não é nem um pouco verdade que vou deixar você jogar sozinho. A vida precisa de dois jogadores. Dê as suas cartas então. A sorte pode virar cedo ou tarde. E não sou eu quem vai desistir agora. Amanhã pode ser dia da caça.
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