18 de dezembro de 2011

Outra coisa - I

Tem noites que o meu coracao faz uma pequena fogueira e me esquenta. Especialmente naquelas noites extremamente glaciais no mundo exterior. Tem dias, meu caro, que eu fecho os olhos e deixo ele queimar. Usar como combustivel tudo que eu nao quero precisar mais. Ficar perto do fogo doi, queimar coisas que me sao ainda ligadas tambem doi. Mas eu deixo acontecer. Como aquelas coisas irremediavelmente predestinadas a se concretizar.
Sou um misto entre real e imaginario, doce e salgado, mistico e cetico. Nunca soube escolher apenas um lado. Pego as melhores coisas de tudo que me e oferecido. Nao me venham culpar por isso. Entao nao, nao acredito em destino, ou predestinacao completamente, mas tambem nao desacredito. Apenas acho que algumas coisas acontecem quando seu tempo chega, mas a minha vida sera sempre a minha vida ate que eu mesma decida o contrario.
E a fogueira seguiu queimando noite a dentro, como tinha que acontecer, mas porque eu deixei que assim fosse.
E pegada com o sono que vinha chegando, estiquei meu corpo cansado perto do fogo, e esperei os olhos fecharem olhando as lembrancas queimarem.
E de dentro, mais uma vez, vem aquela vozinha mansinha, calma, persistente: Eu quero outra coisa. E eu pergunto: mas o que? E ela apenas continua: outra coisa, outra coisa...
E mantive os olhos delicadamente presos nas chamas da fogueira e me meti a pensar que outra coisa  ela queria.
O que ela ainda nao tinha? O que lhe faltava? Eu, como criador perante a criatura, era obrigada a lhe prover todo o sustento necessario. Entao a inquietude por nao ve-la satisfeita, por ve-la incompleta comecou a me aflingir.
Outra coisa... outra coisa...
O espirito solto, ausente de regras, tudo isso eu ja tinha lhe dado. Liberdade para tocar as pessoas, para senti-las, le-las, absorve-las...
E fiquei e gastei a noite toda a matutar, enquanto a vozinha repetia um milhao e quinhentas e tantas mil vezes:  Outra coisa... outra coisa... Eu quero...

4 comentários:

Lufe disse...

Tem que se ter coragem para deixar o coração arder em fogo e queimar o que não se quer mais. As vezes se queimam lembranças que ainda parecem ser de alguma valia. Só assim, apos a faxina do fogo, ele renasce pleno e aberto a novas experiencias....
Mas fiquei curioso com essa vozinha lá no fundo....
Bom, o outra coisa 2 vem por aí, né?

bjo procê

Klécia Melo disse...

Deixa queimar entao =)
E sim, absolutamente, o outra coisa 2 vem por ai
outro bj proce =*

João Gilberto Saraiva disse...

Se é o criador tem de prover tudo a criatura, talvez ele também termine por atender a fogueira e se colocar também como combustível dela.

Ótimo texto doutora.

PS: Também esperando o "Outra Coisa - II"

Klécia Melo disse...

Quem sabe se a fogueira ja nao era ele mesmo: esperto racicinio, moco! =)