13 de janeiro de 2012

Outra coisa - II

Foi um caminho longo até aqui. Eu quis acreditar que seria mais fácil assim. A vida ia seguir menos turbulenta, menos chorosa, menos dolorida. Foi escolha minha. Como num livro mal escrito de que nao gostei um pouco, e como menina mimada, voltei e apaguei cada frase que eu nao concordava, que eu nao queria.
Hoje olho meu passado como todos os pedacos faltando e não consigo me lembrar exatamente o que perdi. Sempre tive essa amargura, esse jeito triste, esse ar sereno. Mas tinha algo mais. Tinha alguma coisa que eu quis perder, que eu quis apagar. Por alguma estranha razão que não consigo me lembrar. E é essa coisa que te faz falta. Que eu te neguei, que eu te roubei. A lembrança daquilo que eu nao quis te dar, pra te proteger, pra te salvar.
Nao sei se me culpo, ou se me agradeço. Não sei o que era. Me subverto. Me calo, silencio perante teu grito.
-Eu quero outra coisa.
-Mas você tem tudo. Está tudo aqui, a vida calma, o sossego, a praia, os amigos, o trabalho, o livro na varanda.
-Eu ainda quero outra coisa.
-Mas eu não lembro o que eu posso te dar. Não sei o que voce ainda pode querer.
-Isso não me faz querer menos.
-Você então me odeia por não saber...
-Não te culpo. Não sei seus motivos, mas sei de voce o suficiente para não te culpar. Apenas continuo querendo a outra coisa que você tirou de mim.
-Eu tenho que lembrar.
-Eu sei.
-Eu vou sentar aqui, na beira do fogo. Mas não sei se vou conseguir. Eu não sei se eu quero lembrar.
- Eu apenas sei que você não pode escolher o que tirar da minha vida. Eu quero outra coisa.

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