18 de fevereiro de 2010

Carnavais

O barulho ensurdecedor foi subindo a rua. Uma a uma, as pessoas iam se juntando, formando a multidao frenetica que a plenos pulmoes cantava as velhas marchinhas. O frevo ia assim tomando as velhas ladeiras, que agora cantavam para acordar a quem quer que fosse, em protesto aos outros 364 dias de silencio e abandono.
E essas ladeiras, e as esquinas, os becos, os muros antes silenciosos, se rendiam agora a magica irrecusavel de um maracatu de baque solto, de uma ciranda de roda, um coco, ou um frevo tao pernambucano quanto se pode ser em uma manha de sabado de carnaval olindense.
E a vida passava colorida num porta estandarte coberto de lantejoulas brilhantes, a frente de um bloco de desavisados, que nao se atentavam para o amanhecer da quarta-feira de cinzas. Nao se precisa dar conta do amanha enquanto se tem o hoje. E enquanto o hoje tiver o que queremos ter todos os dias.
Porem, em meio a algazarra, perdida em meio a folia alheia, enquanto o bloco ia passando, levando a multidao, ela, sentada na mesma janela de outros tantos carnavais, ouvia os cantos, via as cores, via o mundo, via o frenesi. Ela e sua vida de olhar os blocos passar. Ver passar.
E quando tudo parecia ser igual a todos os outros carnavais, eis que do meio da multidao se ergue uma mao, atirando para a janela da menina uma flor colhida as pressas num jardim no meio do caminho. A menina recebeu a flor, que prendeu no cabelo, e segurando a mao que ficara suspensa no ar, desceu da janela e foi pra ladeira. Com a flor no cabelo e o amor no coracao.

Um comentário:

João Gilberto Saraiva disse...

Cada vez que volto aqui esta menina está escrevendo mais afiada.

Parabéns pelo texto doutora.