10 de fevereiro de 2010

Fantasma da noite escura

Ela passava ao lado do cemitério. Mas nunca entrava lá. E assim era, todos os dias, dia após dia, na sina eterna de evitar o inevitável.
A noite escura chegava, e a incrível atração que a chamava. Mas a alma perdida não queria se render. Custaria a se entregar. Custaria a declarar-se vencida. Tem fantasmas que simplesmente não aceitam a morte.
Às vezes, a noite, me sinto um fantasma perdido, vagando ébrio, sozinho, roubando flores de jardins de desconhecidos. As flores que não me dei em vida, e agora roubo morto para tentar sanar as dores de morrer e continuar vivendo.
E assim sigo, alma desolada, vencida, calada, usada, deturpada, estuprada;desabando por dentro e por fora; um fantasma sem reflexo, sem imagem, não visto, não sentido. Um fantasma sem sustos, um incapaz, um meliante, um transeunte, um qualquer entre tantos mais.
Uma delicada forma de se esquecer enquanto nos lembram todos os dias.

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