13 de outubro de 2009

Sobre a lembrança e o esquecimento

Como separar de uma caixa de guardados.

O que lembrar e o que esquecer. O que guardar e o que jogar ao vento.
Deixe-me esquecer. Lembrar dia após dia de esquecer das mágoas, dos quase, dos se não. Das frases inacabadas. Esquecer as despedidas quando só há vontade de ficar. Esquecer minhas incapacidades. Esquecer que não posso tudo. Esquecer que não sei cantar, que não sei nadar, que não sei voar, que não sei amar...
Esquecer o que não foi mas devia ter sido. O que seria perfeito. E não passa de um quase.
Esquecer que não sei esquecer. Esquecer que dói quando a gente lembra do que quer esquecer.

Um esforço quase desumano para esquecer da vontade de lembrar.

Não me permitir esquecer dos sorrisos. Das pequenas alegrias. Do gosto de chuva, de marrom-glacê e tarde sentada na grama ouvindo canções que ninguém mais ouve, que ninguém mais gosta.

Não me permitir esquecer das amizades, dos aprendizados, das lágrimas. Das histórias. Dos passados. Do quanto cresci. Lembrar todos os dias de quanto ainda falta de caminho, de carinho, de sentimento. De quanto ainda há para aprender. De tudo que há para ver. E mudar. E transformar.
De tudo que ainda me falta fazer. Lembrar todos os dias de viver. De viver tudo, sentir tudo, ser tudo. Lembrar de ser eu mesma. Lembrar-me dos meus sonhos. Do gosto do chocolate, do gosto da menta, do gosto da vida. Do gosto de ser feliz.

Lembranças para não esquecer.
Esquecimentos por não querer lembrar.

De forma alguma, não devo esquecer de sempre ver o mundo sempre como se fosse a primeira vez.
Amanhecer todos os dias como se fosse o primeiro. E o último.

E de assim separar a minha caixa de guardados, reciclando a minha vida. Cuidando de tudo que há dentro de mim.

E quando parecer tarde, e quando eu tiver medo, e quando eu quiser colo,
Quando que não souber o que fazer, quando eu não souber se valeu a pena...

Eu apenas escolho entre lembrar ou esquecer.

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