Minhas complexidades,
Excentricidades.
Não digo se não acredito.
Não choro se não for triste.
Não defendo se não valer a pena.
Eu nunca seria uma boa atriz de cinema.
Nem de novela.
Talvez de teatro.
Porque às vezes faço teatro.
Às vezes fica na metade a vontade de dizer um todo.
De ser um todo.
Então nem sempre sou eu mesma,
uma vez que me permito ser metade de mim.
A gente usa máscara e acha que se esconde.
Pinta o rosto e pensa que ninguém vê.
[Será que alguém vê?]
Não sei não me preocupar,
Não sei não antecipadamente sofrer,
não sei largar a insegurança sobre minhas próprias capacidades.
Não sei sorrir para o que não me toca.
Não sei dizer que amo sem sentir.
Não sei sentir e não dizer.
Não sei não ficar boba olhando o mar.
Não sei subir uma montanha sem querer tocar o céu.
Desconheço a falta de vontade de ir além.
Eu quero sempre mais.
Quero o infinito.
E depois, e além.
Não gosto de formulações
Comparações
Premeditações.
Não gosto de frases feitas,
Mas ensaio minhas frases.
Falo sozinha. Falo comigo.
Gosto do escuro. Gosto do sozinha.
Gosto do silêncio.
O de fora e o de dentro.
Tenho medo de multidão.
Onde ninguém se vê, onde ninguém se toca.
Onde todos se tocam sem se tocar.
Onde parecem que querem melevar de mim.
Ninguém vê quem sou.
Não gosto do socialmente aceitável.
Do comportamento desejável.
Mas me descubro seguindo os padrões várias vezes.
Não gosto de livros de filosofia,
não gosto de televisão no domingo.
Gosto de passeio no campo, de bicicleta, a pé.
Gosto de pôr-do-sol, de mistura de cores.
Gosto de fotografia. Especialmente daquelas em que não sou eu na foto.
Não gosto de café.
Mas gosto de sentar pra tomar um café com os amigos
em dia de chuva.
Gosto de dias de chuva.
Gosto de bolo quente. E de casa de avó.
Gosto de inverno, de cobertor, de dentes tremendo.
E de abraço para esquentar.
Gosto de filme, gosto de companhia.
Gosto de pessoas felizes. Gosto de sorriso.
De gargalhada. De rir sem motivo.
De riso descontrolado.
Gosto de parecer pequena.
Menina pequena.
Querendo carinho, querendo colo, querendo proteção.
Gosto de vestido,
gosto de banho de chuva.
Gosto de dançar, sem parar.
Na frente do espelho, na frente de um monte de gente.
Não ligo de parecer meio louca às vezes.
Morro de medo de parecer uma louca inteira.
Gosto de pessoas profundas. De quem me faz pensar.
De quem me faz reanalisar.
Gosto de misturar as coisas.
Gosto de doce com salgado,
e de vento batendo no rosto.
Levando o que não for pra ficar.
Não gosto de esperar por qualquer coisa. Gosto de sentar e esperar coisa nenhuma.
Só sentar. E olhar. Gosto de olhar a vida.
Gosto de gente. Gosto de ver as milhares de partes diferentes aprendendo a conviver.
Gosto de contato. E do risco que ele traz.
Porque hoje já não me protejo tanto.
A minha casca é mais fina.
E assim eu mesma consigo me ver melhor.
E me mostrar melhor.
E gosto mais de mim do que gostava antes.
Gosto de ser como eu sou.
Sendo o verso e o inverso de algum poema
ainda por escrever.
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