Pedro estava triste demais pra continuar ali. Paris era linda demais e apaixonanete demais e depressiva demais para um homem abandonado. Todos os dias ele gastava horas a fio no processo de sofrimento e auto-piedade. E por isso ele resolveu mudar de cidade, mudar de vida mesmo, para conseguir esquecer Suzana. Ele não mais dormia, não mais comia, muito menos trabalhava direito por ter que ficar lembrando dela todo o tempo.
-Esse lugar está cheio de recordações... Vou dar o fora daqui e recomeçar a viver.
E assim foi.
Pedro vendeu a casa que ela ajudara a escolher, vendeu o carro que ele comprou por causa do gosto dela, vendeu os móveis que ela decorou na casa dele, deu pra caridade as roupas que ela escolhera e que ele sempre odiara, jogou fora os dvd's, cd's, quadros, postais e fotografias, e pegou a estrada.
A nova cidade era bem diferente de Paris, e ele achou que era longe o suficiente e feia o suficiente,e nada romântica, e serviria bem como retiro de isolamento e desintoxicação psicológica.
Então desceu na rodoviária e deu uma boa olhada ao redor: -É tudo tão calmo aqui, tão diferente das luzes que nunca se apagam de Paris. Sou capaz de apostar que Suzana jamais viveria aqui comigo.
E foi a primeira vez que pensou nela.
Então ele foi procurar um hotel na cidadezinha, algo pra os dois meses necessários para esquecer Suzana. E ele alugou um quarto num pequeno hotel no centro da cidade, não depois de se certificar que o lugar era adequadamente detetizado, conforme o toc que adquiriu com Suzana. Afinal esse tipo de coisa se leva de um relacionamento para a vida.
Tomou o cuidado de escolher um quarto com janela para o poente, para não correr o risco de querer acordar para ver o sol nascer, como foi acostumado a fazer durante todos os anos de casamento. E todas as tardes ele fazia uma caminhada na praia, só para irritar a imagem de Suzana, porque ela odiava caminhar. Então era uma vingançazinha particular. -Estou fazendo isso só para você odiar um pouquinho, querida. E sustentava um risinho de satisfação enquanto andava a beira mar.
Comprou novas roupas, tomando o delicado cuidado de jamais escolher nada que ela pudesse gostar. E comprou novos livros que sabia que ela jamais leria, e viu filmes que com ela jamais conseguiria assistir. Estava realmente empenhado na sua missão de mudar sua vida completamente; o único problema é que, para isso ele estava se referenciando em tudo que ele fora, e para saber o que ele não podia ser tinha que rememorar Suzana para saber exatamente o que não ser, não ter e não fazer. Isso era um problema, pois de toda a forma ele ficava lembrando dela a toda hora. Não estava funcionando. Ele largara toda a vida para esquecer essa mulher e até agora só conseguira vê-la por toda parte.
Era preciso ser mais enérgico. Então Pedro gastou grande parte do dinheiro da venda da casa e do carro e dos móveis - na verdade, talvez ele tenha que ter vendido umas calças também - para comprar uma adega de vinhos na perfireria de Paris. Ele pensou, satisfeito: pelo menos a respeito de vinhos Suzana não tinha gostos favoráveis ou reprovatórios, então deve funcionar. Não vou ter que pensar nela, afinal. E se mudou para a fazendinha.
Foi tudo bem legal, no começo. Havia terraços de uvas para arar a terra, ervas daninhas para arrancar, e uma casa velha para reparar. Mas com o tempo e a solidão chegou o tédio, e o tedio trouxe Suzana com ele. Então daí a acabar com todo o estoque de vinhos da adega em bebedeiras memoráveis foi um pulo. E bêbado ele ainda via Suzana, e com outras mulheres da pequena cidade ele via Suzana, e a noite ele pensava em Suzana e quando dormia sonhava com ela.
"And love
Is not the easy thing
The only baggage
That you can bring
Not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"
A essa altura, Suzana já estava casada, com dois filhos de 5 e 3 anos, e esperando o terceiro. Mas quem vai contar isso a ele?
Superar as coisas realmente não é fácil, mas esquecer propositadamente também não ajuda muito.
Deixe a vida acontecer, oras.
*a pedidos e como conselho. =*, Nina!
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