Eu jurei que ia te achar, Melani. Jurei que chegaria tarde, quando você já estivesse dormindo, mas chegaria. Ia entrar de mansinho, pra não te assustar, e ia deitar do teu lado, quetinho, e beijar teu corpo, e te acordar com carinho.
A cor da tua pele eu ia adivinhar ali mesmo, no escuro. Não preciso de luz pra te ler, pra te ter. Ler a poesia escrita em você. Que eu escrevi em você. A cor do teu olho parecendo farol na escuridão. Farol azul, farol de oito, nove, dez mares que antes eu nunca vi. O que vi pelo mundo, o mundo que já vi, nada se compara à delícia de estar aqui.
Você acordando devagarinho, com o cabelo desgrenhado, desavisada, linda, surpreendida, surpreendente...
Meu coração,
pé no chão,
que nunca voou,
jamais se apaixonou
hoje está aqui,
rastejando após ti.
Acho que te amo, Melani.
31 de julho de 2011
aspirações e frustrações
Queria ser poeta, e sabia disso desde pequeno. Mas desde pequeno também que o pai lhe esbravejava que poesia não era coisa de homem. Homem que é homem tem que ter cabelo no peito, falar palavrão, bater pelada no domingo de manhã e xingar juiz de futebol de tarde, depois de umas louras geladas - entenda como quiser.
E cada vez que ele falava na poesia, lá vinha o pai com um murro na mesa lhe colocando para correr. E começou a morar no quarto, onde cultivava a poesia escondido. O pai nunca ia no quarto, e ali ele começou com versos discretos na parte de trás do caderno de desenho. E daí passou a um caderno inteirinho de versos, e depois passou a escrivaninha, cama, cadeira, e por fim chegou às paredes, todas poetizadas de alto a baixo. Por fim fez a poesia no corpo, como tatuagem.
Mas nunca conseguiu tirar a poesia de dentro do quarto. Nunca a levou para passear para tomar um ar fresquinho lá fora ou umas gotas de chuva. E isso teria feito tão bem a ela... A poesia dele, toda inocente, toda criança, nada sabia do mundo, nada sabia de cor, era preta e branca coitada... Era bem triste, a pobrezinha, miúda, minguada.
E virou homem, e saiu de casa, e levou a poesia embora, a poesia que o pai não quis. E continuou a escondê-la embaixo da roupa, no quarto, com a porta trancada.
Um dia o coitado morreu de overdose. Qual foi a droga? A droga foi ele ter vivido a vida sem conseguir dizer nada que sentia (também entenda o que quiser).
E cada vez que ele falava na poesia, lá vinha o pai com um murro na mesa lhe colocando para correr. E começou a morar no quarto, onde cultivava a poesia escondido. O pai nunca ia no quarto, e ali ele começou com versos discretos na parte de trás do caderno de desenho. E daí passou a um caderno inteirinho de versos, e depois passou a escrivaninha, cama, cadeira, e por fim chegou às paredes, todas poetizadas de alto a baixo. Por fim fez a poesia no corpo, como tatuagem.
Mas nunca conseguiu tirar a poesia de dentro do quarto. Nunca a levou para passear para tomar um ar fresquinho lá fora ou umas gotas de chuva. E isso teria feito tão bem a ela... A poesia dele, toda inocente, toda criança, nada sabia do mundo, nada sabia de cor, era preta e branca coitada... Era bem triste, a pobrezinha, miúda, minguada.
E virou homem, e saiu de casa, e levou a poesia embora, a poesia que o pai não quis. E continuou a escondê-la embaixo da roupa, no quarto, com a porta trancada.
Um dia o coitado morreu de overdose. Qual foi a droga? A droga foi ele ter vivido a vida sem conseguir dizer nada que sentia (também entenda o que quiser).
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Citando
"Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um graveto já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?"
( Marley & Eu – John Grogan )
( Marley & Eu – John Grogan )
30 de julho de 2011
perdão
Vim aqui me perdoar.
Não posso mais conviver com isso tudo, com essa culpa, essa dor, essa revolta por não ter vindo, vivido e ouvido melhor. Por ter me rendido, ter me entregado numa batalha que desde o começo já estava perdida. Mas a culpa doía, dói, vai doer ainda um pouco mais. A culpa por ter me deixado dominar, subjulgar, como uma velha colônia portuguesa de exploração.
Me perdoar por não te perdoar. Não hoje, não agora. Talvez mais tarde, talvez um dia. quando todas as mágoas forem lembranças, e todas as tristezas nada mais que fotos apagadas de um velho cartão postal. Talvez isso resolva a dor, resolva o medo e a insegurança. Talvez quando eu já for outra pessoa e ninguém mais me reconheça. Mas eu já sou outra pessoa que supostamente nem minha mãe reconhece, e muita coisa mudou, mas muita coisa permanece bem onde você deixou.
Olho para o chão, as estrelas todas mortas, apagadas pelo tempo, jogadas ao vento, sós. Eu também estou só. Ninguém que olha realmente vê, parecem todos cegos a atirar palavras vãs em tentativas coersivas de me acertar, e me derrubar como uma daquelas estrelas.
Mas, inusitada e inesperadamente, até mesmo para mim, de certa forma eu me mantenho de pé. O que me traz aqui mais uma vez, o que me mantém respirando, mesmo depois de todas as idas e vindas, mesmo depois que o nome dela volta a luminescer como um novo acréscimo àquilo que me foi negado, na verdade até raptado, roubado e destituido por você, eu não sei, e pouco importa agora.
Não há tempo que volte, amor. Eu me perdoo por tudo. E não espero compreensão por voltar dez anos no tempo para encontrar comigo mesma, com todas as letras e predicados.
É que, como tudo andava, e ainda hoje até, eu me sinto tão fraco...
Não posso mais conviver com isso tudo, com essa culpa, essa dor, essa revolta por não ter vindo, vivido e ouvido melhor. Por ter me rendido, ter me entregado numa batalha que desde o começo já estava perdida. Mas a culpa doía, dói, vai doer ainda um pouco mais. A culpa por ter me deixado dominar, subjulgar, como uma velha colônia portuguesa de exploração.
Me perdoar por não te perdoar. Não hoje, não agora. Talvez mais tarde, talvez um dia. quando todas as mágoas forem lembranças, e todas as tristezas nada mais que fotos apagadas de um velho cartão postal. Talvez isso resolva a dor, resolva o medo e a insegurança. Talvez quando eu já for outra pessoa e ninguém mais me reconheça. Mas eu já sou outra pessoa que supostamente nem minha mãe reconhece, e muita coisa mudou, mas muita coisa permanece bem onde você deixou.
Olho para o chão, as estrelas todas mortas, apagadas pelo tempo, jogadas ao vento, sós. Eu também estou só. Ninguém que olha realmente vê, parecem todos cegos a atirar palavras vãs em tentativas coersivas de me acertar, e me derrubar como uma daquelas estrelas.
Mas, inusitada e inesperadamente, até mesmo para mim, de certa forma eu me mantenho de pé. O que me traz aqui mais uma vez, o que me mantém respirando, mesmo depois de todas as idas e vindas, mesmo depois que o nome dela volta a luminescer como um novo acréscimo àquilo que me foi negado, na verdade até raptado, roubado e destituido por você, eu não sei, e pouco importa agora.
Não há tempo que volte, amor. Eu me perdoo por tudo. E não espero compreensão por voltar dez anos no tempo para encontrar comigo mesma, com todas as letras e predicados.
É que, como tudo andava, e ainda hoje até, eu me sinto tão fraco...
25 de julho de 2011
tocaia
Não é justo que, até aqui, venham me roubar o direito de ser e dizer. Aqui, que sempre foi meu refúgio, meu paraíso e meu inferno, onde todas as histórias e contos e sonhos e pesadelos se desenhavam, criavam vida, pululavam no meu colo e na minha mente e daí para o papel e de volta para a garganta para fins de ruminação mais intensa e exaustiva; aqui que era o meu pilar de sustentação e de equilíbrio... Agora aqui não passa de um campo de concentração nazista vigiado 24h, onde supostamente eu acreditava ter o livre direito de dizer e pensar, mas a que preço?
Ao preço de me ver descoberta, lida, esquadrinhada, dessecada como um sapo.
Me peguei apagando escritos com medo de quem os poderia ler.
O pior é descobrir que não me roubaram nada, eu que entreguei tudo que tinha.
Ao preço de me ver descoberta, lida, esquadrinhada, dessecada como um sapo.
Me peguei apagando escritos com medo de quem os poderia ler.
O pior é descobrir que não me roubaram nada, eu que entreguei tudo que tinha.
24 de julho de 2011
propriocepção
Por vezes sinto que quereria experimentar algo como a ausência de mim mesmo.
Um olhar superficial, sem dores e impressões, algo imaculado, intocado, e por isso mesmo impenetrável e imutável. Queria poder circular entre as paredes de concreto dessa vida etérea, como fumaça ou como sombra, sem que eu mesma notasse que estava ali, que era e fazia parte do cenário, da vida, da luta, da morte.
Se eu não sentisse a mim mesmo, pouco me importariam as marcas que carrego estampadas na cara, como cicatrizes. Pouco me importaria também o medo do abismo. Acho que seria mesmo capaz de me atirar, só dessa vez, por saber que eu não poderia nada sentir, já que nem lá eu poderia estar.
Quero o sabor indizível de, só por hoje, nada sentir, nem dor nem alegria, nada além do nada que nunca senti.
Um olhar superficial, sem dores e impressões, algo imaculado, intocado, e por isso mesmo impenetrável e imutável. Queria poder circular entre as paredes de concreto dessa vida etérea, como fumaça ou como sombra, sem que eu mesma notasse que estava ali, que era e fazia parte do cenário, da vida, da luta, da morte.
Se eu não sentisse a mim mesmo, pouco me importariam as marcas que carrego estampadas na cara, como cicatrizes. Pouco me importaria também o medo do abismo. Acho que seria mesmo capaz de me atirar, só dessa vez, por saber que eu não poderia nada sentir, já que nem lá eu poderia estar.
Quero o sabor indizível de, só por hoje, nada sentir, nem dor nem alegria, nada além do nada que nunca senti.
16 de julho de 2011
O fim
Pedro estava triste demais pra continuar ali. Paris era linda demais e apaixonanete demais e depressiva demais para um homem abandonado. Todos os dias ele gastava horas a fio no processo de sofrimento e auto-piedade. E por isso ele resolveu mudar de cidade, mudar de vida mesmo, para conseguir esquecer Suzana. Ele não mais dormia, não mais comia, muito menos trabalhava direito por ter que ficar lembrando dela todo o tempo.
-Esse lugar está cheio de recordações... Vou dar o fora daqui e recomeçar a viver.
E assim foi.
Pedro vendeu a casa que ela ajudara a escolher, vendeu o carro que ele comprou por causa do gosto dela, vendeu os móveis que ela decorou na casa dele, deu pra caridade as roupas que ela escolhera e que ele sempre odiara, jogou fora os dvd's, cd's, quadros, postais e fotografias, e pegou a estrada.
A nova cidade era bem diferente de Paris, e ele achou que era longe o suficiente e feia o suficiente,e nada romântica, e serviria bem como retiro de isolamento e desintoxicação psicológica.
Então desceu na rodoviária e deu uma boa olhada ao redor: -É tudo tão calmo aqui, tão diferente das luzes que nunca se apagam de Paris. Sou capaz de apostar que Suzana jamais viveria aqui comigo.
E foi a primeira vez que pensou nela.
Então ele foi procurar um hotel na cidadezinha, algo pra os dois meses necessários para esquecer Suzana. E ele alugou um quarto num pequeno hotel no centro da cidade, não depois de se certificar que o lugar era adequadamente detetizado, conforme o toc que adquiriu com Suzana. Afinal esse tipo de coisa se leva de um relacionamento para a vida.
Tomou o cuidado de escolher um quarto com janela para o poente, para não correr o risco de querer acordar para ver o sol nascer, como foi acostumado a fazer durante todos os anos de casamento. E todas as tardes ele fazia uma caminhada na praia, só para irritar a imagem de Suzana, porque ela odiava caminhar. Então era uma vingançazinha particular. -Estou fazendo isso só para você odiar um pouquinho, querida. E sustentava um risinho de satisfação enquanto andava a beira mar.
Comprou novas roupas, tomando o delicado cuidado de jamais escolher nada que ela pudesse gostar. E comprou novos livros que sabia que ela jamais leria, e viu filmes que com ela jamais conseguiria assistir. Estava realmente empenhado na sua missão de mudar sua vida completamente; o único problema é que, para isso ele estava se referenciando em tudo que ele fora, e para saber o que ele não podia ser tinha que rememorar Suzana para saber exatamente o que não ser, não ter e não fazer. Isso era um problema, pois de toda a forma ele ficava lembrando dela a toda hora. Não estava funcionando. Ele largara toda a vida para esquecer essa mulher e até agora só conseguira vê-la por toda parte.
Era preciso ser mais enérgico. Então Pedro gastou grande parte do dinheiro da venda da casa e do carro e dos móveis - na verdade, talvez ele tenha que ter vendido umas calças também - para comprar uma adega de vinhos na perfireria de Paris. Ele pensou, satisfeito: pelo menos a respeito de vinhos Suzana não tinha gostos favoráveis ou reprovatórios, então deve funcionar. Não vou ter que pensar nela, afinal. E se mudou para a fazendinha.
Foi tudo bem legal, no começo. Havia terraços de uvas para arar a terra, ervas daninhas para arrancar, e uma casa velha para reparar. Mas com o tempo e a solidão chegou o tédio, e o tedio trouxe Suzana com ele. Então daí a acabar com todo o estoque de vinhos da adega em bebedeiras memoráveis foi um pulo. E bêbado ele ainda via Suzana, e com outras mulheres da pequena cidade ele via Suzana, e a noite ele pensava em Suzana e quando dormia sonhava com ela.
"And love
Is not the easy thing
The only baggage
That you can bring
Not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"
A essa altura, Suzana já estava casada, com dois filhos de 5 e 3 anos, e esperando o terceiro. Mas quem vai contar isso a ele?
Superar as coisas realmente não é fácil, mas esquecer propositadamente também não ajuda muito.
Deixe a vida acontecer, oras.
*a pedidos e como conselho. =*, Nina!
-Esse lugar está cheio de recordações... Vou dar o fora daqui e recomeçar a viver.
E assim foi.
Pedro vendeu a casa que ela ajudara a escolher, vendeu o carro que ele comprou por causa do gosto dela, vendeu os móveis que ela decorou na casa dele, deu pra caridade as roupas que ela escolhera e que ele sempre odiara, jogou fora os dvd's, cd's, quadros, postais e fotografias, e pegou a estrada.
A nova cidade era bem diferente de Paris, e ele achou que era longe o suficiente e feia o suficiente,e nada romântica, e serviria bem como retiro de isolamento e desintoxicação psicológica.
Então desceu na rodoviária e deu uma boa olhada ao redor: -É tudo tão calmo aqui, tão diferente das luzes que nunca se apagam de Paris. Sou capaz de apostar que Suzana jamais viveria aqui comigo.
E foi a primeira vez que pensou nela.
Então ele foi procurar um hotel na cidadezinha, algo pra os dois meses necessários para esquecer Suzana. E ele alugou um quarto num pequeno hotel no centro da cidade, não depois de se certificar que o lugar era adequadamente detetizado, conforme o toc que adquiriu com Suzana. Afinal esse tipo de coisa se leva de um relacionamento para a vida.
Tomou o cuidado de escolher um quarto com janela para o poente, para não correr o risco de querer acordar para ver o sol nascer, como foi acostumado a fazer durante todos os anos de casamento. E todas as tardes ele fazia uma caminhada na praia, só para irritar a imagem de Suzana, porque ela odiava caminhar. Então era uma vingançazinha particular. -Estou fazendo isso só para você odiar um pouquinho, querida. E sustentava um risinho de satisfação enquanto andava a beira mar.
Comprou novas roupas, tomando o delicado cuidado de jamais escolher nada que ela pudesse gostar. E comprou novos livros que sabia que ela jamais leria, e viu filmes que com ela jamais conseguiria assistir. Estava realmente empenhado na sua missão de mudar sua vida completamente; o único problema é que, para isso ele estava se referenciando em tudo que ele fora, e para saber o que ele não podia ser tinha que rememorar Suzana para saber exatamente o que não ser, não ter e não fazer. Isso era um problema, pois de toda a forma ele ficava lembrando dela a toda hora. Não estava funcionando. Ele largara toda a vida para esquecer essa mulher e até agora só conseguira vê-la por toda parte.
Era preciso ser mais enérgico. Então Pedro gastou grande parte do dinheiro da venda da casa e do carro e dos móveis - na verdade, talvez ele tenha que ter vendido umas calças também - para comprar uma adega de vinhos na perfireria de Paris. Ele pensou, satisfeito: pelo menos a respeito de vinhos Suzana não tinha gostos favoráveis ou reprovatórios, então deve funcionar. Não vou ter que pensar nela, afinal. E se mudou para a fazendinha.
Foi tudo bem legal, no começo. Havia terraços de uvas para arar a terra, ervas daninhas para arrancar, e uma casa velha para reparar. Mas com o tempo e a solidão chegou o tédio, e o tedio trouxe Suzana com ele. Então daí a acabar com todo o estoque de vinhos da adega em bebedeiras memoráveis foi um pulo. E bêbado ele ainda via Suzana, e com outras mulheres da pequena cidade ele via Suzana, e a noite ele pensava em Suzana e quando dormia sonhava com ela.
"And love
Is not the easy thing
The only baggage
That you can bring
Not the easy thing
The only baggage you can bring
Is all that you can't leave behind"
A essa altura, Suzana já estava casada, com dois filhos de 5 e 3 anos, e esperando o terceiro. Mas quem vai contar isso a ele?
Superar as coisas realmente não é fácil, mas esquecer propositadamente também não ajuda muito.
Deixe a vida acontecer, oras.
*a pedidos e como conselho. =*, Nina!
9 de julho de 2011
Desabafo
Porque eu estou naqueles dias com tanta coisa entalada dentro de mim que seu eu não escrever um texto juro que explodo ao primeiro contato com um objeto perfuro-cortante (i.e., palavras, gestos e até pressupostos pensamentos mal colocados).
O que digo é bem simples: tem vida e morte cohabitando no mesmo espaço contrariando as insuspeitáveis regras da física. Dois corpos no mesmo espaço, amotinados, aglutinados, fundidos já, mas ainda imiscíveis, distinguíveis, insolúveis.
Escrevo porque não tenho um trocado no bolso
e o taberneiro hoje não faz fiado.
Escrevo porque não sei de movimentos insurgentes
nem de fanáticos, frenéticos ou mesmo barbitúricos
que possam aliviar a dor.
Não sei da democracia, nem da rebeldia
nem de como implantar um regime socio-comunista
na minha falida república monárquica
governada por um tirano desconhecido
que eu mesma estabeleci no poder.
Escrevo porque sou um pouco sombria
tenho medo de ficar sozinha comigo mesma
e se não escrever posso começar a gritar frases "nonsense"
num idioma morto há milhares de anos.
E isso me assustaria ainda mais.
Escrevo porque não tenho tempo pra nada
nem coragem pra fazer tudo que devo
e isso gera um vácuo imensurável.
Escrevo porque não consigo meditar
nem transcender para alfa, beta ou gama.
Nem sentir nada além do que a racionalidade freudiana me permite
e o mundo freudiano é bem triste, na verdade.
Escrevo porque tenho inveja das vidas bem vividas
onde se faz tudo que quer
melhor, onde se sabe o que se quer.
Onde se tem coragem de experimentar.
escrevo porque o que gosto descobri por acaso
e não tive ainda coragem de me jogar
para ver do que mais posso gostar.
Escrevo quase por uma necessidade de confissão
de pecados ditos, vividos ou fantasiados.
Escrevo por remissão.
Escrevo porque não confio na minha memória
escrevo pra pressupor o que há de vir.
escrevo para gastar menos dinheiro em terapia.
Escrevo para ter notícias de mim
e saber como vai a desordem interna
-embora eu sempre me arrependa de descobrir-
escrevo porque meus textos são uma máquina de hemodiálise
minha conexão com o mundo exterior são meus rins degenerados
as palavras necessitam ser purificadas dia após dia
para que eu não morra, para que não me mate.
Escrevo porque não sei cozinhar
nem me ensinaram a bordar nem a cozer
não sei tricotar
Mal sei lavar minhas roupas
e nada entendo sobre as premissas básicas
de como me portar como uma mocinha séria e recatada.
Aquilo tudo que esperam de todos nós.
Não sei ser Amélia, não a conheço, nunca a vi nem faço questão.
Quem diabos me ensinou a pensar???
Isso gerou muita, muita confusão.
O que digo é bem simples: tem vida e morte cohabitando no mesmo espaço contrariando as insuspeitáveis regras da física. Dois corpos no mesmo espaço, amotinados, aglutinados, fundidos já, mas ainda imiscíveis, distinguíveis, insolúveis.
Escrevo porque não tenho um trocado no bolso
e o taberneiro hoje não faz fiado.
Escrevo porque não sei de movimentos insurgentes
nem de fanáticos, frenéticos ou mesmo barbitúricos
que possam aliviar a dor.
Não sei da democracia, nem da rebeldia
nem de como implantar um regime socio-comunista
na minha falida república monárquica
governada por um tirano desconhecido
que eu mesma estabeleci no poder.
Escrevo porque sou um pouco sombria
tenho medo de ficar sozinha comigo mesma
e se não escrever posso começar a gritar frases "nonsense"
num idioma morto há milhares de anos.
E isso me assustaria ainda mais.
Escrevo porque não tenho tempo pra nada
nem coragem pra fazer tudo que devo
e isso gera um vácuo imensurável.
Escrevo porque não consigo meditar
nem transcender para alfa, beta ou gama.
Nem sentir nada além do que a racionalidade freudiana me permite
e o mundo freudiano é bem triste, na verdade.
Escrevo porque tenho inveja das vidas bem vividas
onde se faz tudo que quer
melhor, onde se sabe o que se quer.
Onde se tem coragem de experimentar.
escrevo porque o que gosto descobri por acaso
e não tive ainda coragem de me jogar
para ver do que mais posso gostar.
Escrevo quase por uma necessidade de confissão
de pecados ditos, vividos ou fantasiados.
Escrevo por remissão.
Escrevo porque não confio na minha memória
escrevo pra pressupor o que há de vir.
escrevo para gastar menos dinheiro em terapia.
Escrevo para ter notícias de mim
e saber como vai a desordem interna
-embora eu sempre me arrependa de descobrir-
escrevo porque meus textos são uma máquina de hemodiálise
minha conexão com o mundo exterior são meus rins degenerados
as palavras necessitam ser purificadas dia após dia
para que eu não morra, para que não me mate.
Escrevo porque não sei cozinhar
nem me ensinaram a bordar nem a cozer
não sei tricotar
Mal sei lavar minhas roupas
e nada entendo sobre as premissas básicas
de como me portar como uma mocinha séria e recatada.
Aquilo tudo que esperam de todos nós.
Não sei ser Amélia, não a conheço, nunca a vi nem faço questão.
Quem diabos me ensinou a pensar???
Isso gerou muita, muita confusão.
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