Naquele dia ele chegou diferente do que costumava chegar.
Deu um boa tarde arrastado e um beijo muolhado, diferente do que costumava dar.
Não xingou a música alta e o livro entreaberto como costumava xingar.
Não reclamou a comida fria e a geladeira vazia como era comum reclamar.
Falou palavras doces e até poemas de amores, como nunca antes soubera declamar.
Entregou a mulher um embrulho machucado com um vestido decotado como ela nunca antes pôde usar.
Olhou a mulher por inteiro e a desejou diferente do que costumava desejar.
E entraram no quarto e trancaram a porta como nunca antes foi de precisar.
E dançaram uma valsa, e tocaram os corpos como nunca antes foi de se ousar.
Pegou-a pela cintura e a amou diferente do que era comum amar.
E fez juras de amor em meio a gemidos loucos que nunca antes soubera expressar.
E os vizinhos ouviram as declarações mais vexatórias, dignas de se envergonhar.
E a polícia veio acudir o chamado dos que não sabiam mais a quem chamar.
E levou preso o casal que contra o pudor e bom costume quis atentar.
E o silêncio fez pronto na rua, como era de se esperar.
{soou ruim no fim, essa monte de -ar, mas eu sempre gostei mais da primeira conjugação, então uma história contada assim era mais um desafio que uma tentativa de boa literatura.}
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