3 de abril de 2010

A menina


Sabe aquela menina, sentada no balanço da árvore, na beira do lago? Aquela, de vestido florido, olhando pro céu? Aquela que está segurando a bolsa vermelha... A com o sorriso branco no rosto. É sim, é um bonito sorriso que ela tem... Eu conheci aquela menina.
E ela não foi sempre feliz assim. Ela descobriu sua felicidade dia desses, em horinhas de descuido. Ela achou a tal felicidade quando ela desistiu de procurar por ela. Aí não sei bem se ela a achou ou se foi achada por ela. O fato é que as duas se encontraram e agora não se largam mais. Ela cuida da felicidade como se fosse a coisa mais importante da vida, e por isso não desgruda dela nunca, e traz ela na bolsa vermelha, levando ela pra todo lugar.
A gente se conheceu naquela hora do dia que venta muito, e que o ar tem cheiro da poesia que exala das flores. E a gente conversou sobre o céu, que naquele dia estava mais azul do que em qualquer outro dia. E eu reparei no seu sorriso, e foi quando ela me disse que era porque tinha a felicidade dentro da bolsa vermelha.
Foi quando eu perguntei como uma coisa tão grande como a felicidade da menina podia caber dentro da bolsa. Porque, obviamente, pelo sorriso que ela trazia, felicidade ali não era coisa pouca. Mas foi aí que ela me ensinou que felicidade não é espaçosa, felicidade é uma coisinha simples, que a gente pode guardar na bolsa e levar a todo lugar, e quando preferir, dar um sopro nela, e aí ela infla, infla, fica bem grande, gigantesca, bem amostrada, e é nessas horas que a gente conta a todo mundo que é bem feliz. Nas outras horas, a gente leva ela na bolsa mesmo, pra ela ficar quentinha e acomodada pertinho do coração da gente.
E passamos o resto do dia conversando de como ela um dia encontrou a felicidade e agora vivia em meio a flores, versos, brisas, paz... E como sentar na praça e tomar um sorvete pode esconder as maiores alegrias. E como pode ser reconfortante contar segredos do dia aos passarinhos que vem cantar pra nós no fim do dia, em troca de migalhas de pão... Felicidade que exige tão pouco da vida.
Ela me disse que cansou de esperar felicidade que seria trazida pelos outros. Ela aprendeu que os outros não trazem felicidade. Felicidade ou está dentro da gente ou não está. Então ela sorria feliz pra todos que passavam, e desejava um bom dia desinteressado a quem quer que fosse. E parou de chorar quando pedia uma coisa a alguém e esse alguém lhe trazia exatamente o oposto. Ela não chorava mais. Ela apenas sorria, um sorriso sincero, e ia ela mesma buscar o que quer que fosse.
Fiquei muito entusiasmado com tudo aquilo, e pedi pra menina me mostrar a felicidade dentro da bolsa. Roguei, implorei até, mas não teve acordo. Ela apenas chegou perto do meu ouvido, e me sussurou o segredo que até hoje me faz brilhar os olhos quando lembro.
Não contarei então o que a menina carrega na bolsa, por nem eu saber o que é, nem lhes contarei a frase que me foi dita, porque ela foi dita pra mim.
Mas espero, senhores, que um dia, ao passearem por aquele lago, perto daquela árvore, encontrem aquela menina e o seu sorriso. Espero que ela os acerte com aqueles olhos de não ter mais fim. Espero, senhores, que um dia, vocês e eu possamos carregar na bolsa uma felicidade como a daquela menina.

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