20 de junho de 2010

Metamorfose

Espasmos cerebrais que me jogaram caída na rua, de joelhos, rendida à incompreensão da existência da linha divisível entre sonho e realidade. O gosto de vômito ainda fresco na boca me dava mais ânsia.
Não, ainda não foi agora que perdi a minha plenitude, a minha dignidade, mas a tontura confusa que me acomete me faz manter os olhos fixos no chão, meu corpo gélido parado no lugar onde fui atirada, aparentemente vencida. Medo?
Não, não é medo que tenho.
Estou agora em metamorfose.
Depois que minha larva muito se alimentou das ofensas e agressões desse mundo insólito, e está com o ventre cheio de adagas e espinhos, é hora de metamorfosear.
Começo então, silenciosamente, a tecer um grossa capa, uma nova pele dura o suficiente para me proteger da agressão da realidade.
Injetaram em meus olhos o chorume amargo de toda a sujeira do mundo, e por agora não consigo enxergar. Pareço apática, vencida, utrajada no mais profundo da sacralidade de ser quem eu sou.
Metamorfoseio, então.
E enquanto críticos céticos acreditam na minha destruição perante os tamanhos estragos, ao sangue perdido, aos sonhos estuprados, mortos, vendidos, sorrateiramente preparo minha ressurreição com mais um poema mercúrio-cromo.
Preste atenção se ao seu lado aparecer uma borboleta com asas feitas de poesia.

"...Isso é escrever.
Tirar sangue com as unhas.
E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te.
Você não está com medo dessa entrega?
Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora.
A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. 
Essa expressão é fundamental na minha vida." (CFA)

2 comentários:

GABRIEL, gustavo disse...

Borboletas ou baratas cascudas, ambas nascem para voar.

As metamorfoses têm que ser cuidadosas ao extremo...

Anônimo disse...

Ao projeto pré-maturo de algo pretensiosamente parecido com um crítico literário, gostaria de lhe alertar sobre os cuidados que você deveria ter.
Observações:
1. Baratas ao contrário das borboletas são hemimetábolos, logo fica aqui a completa incoerência de sua metáfora
2. "Borboletas ou baratas cascudas, ambas nascem para voar." não se separa sujeito de predicado por vírgula. ^^ E parabéns pela profundidade da sua compreensão sobre o objetivo da vida animal.
3. Sabe qual o problemas das metáforas? Ou você conhece as realmente as características das palavras de que se faz uso ou a infêrência fica inteligivelmente impossível.
4. Da próxima vez leia um pouco antes de usar alguma figura de linguagem. Na gramática de Faraco e Moura costuma-se ter um apêndice sobre figuras de estilo que lhe pode ser útil. Aliás, vende-se uma edição de 98 que é bem conhecida ( se não me engano,na página 580 os autores discutem metáfora.
Boa sorte e qualidade no próximo coment