16 de julho de 2010

Meu próprio Manifesto Antropofágico


E o que importa se meus versos são tristes?
Se deixo escapar por eles as dores de um peito confrangido
de espinhos e mágoas?
Que importa se eu carrego esse sentimento do mundo
Que não me deixa dormir ou sonhar
enquantro travo diálogos monologados
com meu eu escondido?

Que importa se sou consumida por essa doença interior
de melancolia andante
devorada lentamente por esses insetos famintos?
Abaporus que crio na fazenda do meu quintal.

Que importa se me devoro pouco a pouco
com a graça e o pudor de quem manja uma sobremesa
um tanto acre, um tanto doce
à qual falta um pouco de sal?

E levo a vida com o peso da mala atada às costas
onde carrego tudo que já pude sentir
tudo aquilo que me trouxe até aqui.

E daí que eu chore?
E daí que eu seja triste?
E daí que meus versos chorem?

Devoro a mim mesma
numa autofagia assassina de mim.
E o que importa se meus versos são tristes?

3 comentários:

Anônimo disse...

Voraz escrita. Excelente.

Elga B. disse...

Gostei da nova cara do blog. :)
Lembrei um pouco de vc quando tava postando hoje no meu. Por causa de biomol, e desse conteúdo melancólico que vc possui. :P

Eduardo Martins disse...

Uma vez vi Drummond dizer de uma carta recebida de um leitor que se indentificou c/ um poema melancólico do poeta. O leitor relatou que não se sentia um estranho e nem sozinho, pois existia alguém, também, que sofria do mesmo mal. Viva as "utilidades" do poema! E que a cobra não coma seu próprio rabo.
abraço