É fundo, profundo assim de não se acabar mais.
Tenho medo.
Não sei nadar. E por não saber, fico na beira a olhar as ondas que vão e vêm numa mesmice totalmente renovada a cada repetição.
Molho as pontas do pés na água gelada que só faz meu medo aumentar.
Mas fico ali na beira, hipnotizada, enfeitiçada, não consigo me afastar. Nem mergulhar.
Por vezes acho que vou me atirar dentro dele; ele que me atrai, me consome de angústia, volúpia e desejo.
Mas tenho medo.
Volto, sento na beira do cais e vejo outros que se aproximam, roubando das ondas os beijos que eu queria provar. E fico ressentida a mirá-lo dando-se assim, sem ressensimento por trair minha devoção imaculada.
Tenho medo.
Provo o salgado das suas águas e confundo com o acre das minhas lágrimas. Já não sei mais se choro gotas de mar ou se são respingos de mar a me molhar.
Fico com medo de perguntar.
Eu queria me entregar. E provar o gosto das marés. Queria tudo do mar. E entristeço por não poder, por temer. Queria tudo do mar, o profundo e o indecifrável do mar, cada onda a me cocegar, queria uma ressaca de mar.
Quero te navegar. Me toma, me envolve, me engole, me arremessa, me encobre e me leva pro fundo. Me afoga, me leva pra te desvendar. Num naufrágio premeditado e deliberado. Consentido, inevitável. Sei que não sei nadar.
Mas quero te provar.
Eu sei que tenho medo. Medo d'Amar.
"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."
(Carlos Drummond de Andrade)
Um comentário:
O [a]mar é assim afaga e afoga para matar e dar vida.
Até mais doutora.
"Mas é doce morrer nesse mar de lembrar
E nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isso pra mim é viver"
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