23 de dezembro de 2010

Passado

Faz tempo, eu sei.
Sei que já nem se quer o número do telefone dela tenho mais, esqueci do endereço e da cor favorita.
Sei que acabei perdendo muita coisa importante pra ela, momentos importantes, histórias engraçadas, coisas que havíamos dito que faríamos juntos. Coisas importantes pra mim também, porque não dizer? Importante pra nós dois.
Sei que hoje tudo parece meio idiota e não faz muito sentido as coisas como estão. Sei que podíamos ter feito diferente, e preservado muita coisa do bom sentimento que havia entre a gente. Mas quem disse que não preservamos? Pelo menos eu preservei. Por mais que esforços tenham sido feitos na tentativa de anular o que se sentiu, nada foi apagado, não é verdade? Já não se sente como antes, mas se sente. Não se retira a importância de uma pessoa na sua vida. Só você sabe o que ela representa, e nem mesmo os amores de hoje anulam o devido lugar que os amores verdadeiros de ontem ocupam.
Sei que por mais que digam que sabem o que você não representa mais pra mim, sei o que você ainda representa. E vai representar sempre. Ficam as reticências muito bem colocadas aqui. E os agradecimentos.
Até o próximo telefonema então.

Verdades

Hoje me deu tristeza
tristeza porque o mundo é triste, e mau,
e impiedoso.
Riu da minha cara e da minha esperança
voitou como um bêbado ressacado
sobre mim a insólita verdade:
que amanhã ainda vou ser triste
porque já não sei mais ser feliz.

Isso pode não fazer muito sentido
mas enquanto ele de mim ri,
eu choro, e acredito
e choro de novo,
e tenho medo de ficar só aqui.

Sim, sou muito louco,
vago pelos caminhos como sôfrego
desesperado
ansiando pela paz
que eu não consigo encontrar
e o não encontrar apenas
acentua meu já terrível desespero.

Quero apenas me deitar,
ouvir canções que se cantavam em Lisboa
enquanto felicidade ainda havia,
e então me permitir dormir
enquanto suplico uma prece para não mais acordar.
Para não mais acordar.

15 de dezembro de 2010

Aguardo

Os professores falam sobre revoluções, mudanças e dissertam longas horas acerca da coragem que devemos de ter. Os políticos, por sua vez, insuflam o peito sobre as reformas sociais, jurídicas e de moral de extrema necessidade. Os comunistas defendem a ausência dos males da dominação, e os filósofos decorrem sobre as tecnociências que metrificam, dirigem, corrompem e constroem a sociedade, ou aquilo que assim chamamos.
Os comerciantes defendem a usura, ainda mais a  praticada de maneira a sonegá-la. Os pesquisadores buscam a cura de todos os males. Os historiadores tentam nos retratar a origem do mal, e os filósofos querem entender a razão de todas as coisas.
Os biólogos querem salvar as baleias, a camada de ozônio e o mico-leão-dourado.Os pacifistas querem o caminho para a paz mundial. Os astronautas querem ir a marte e os alquimistas querem a pedra filosofal.




Eu? Por hora largo todas as causas urgentes da humanidade, me sento na cadeira de balanço da varanda, olhando o sol se por como se fosse a primeira vez. O que espero?
Espero que corra no meu sangue aquela sensação, tão simples, tão boa, aquela sensação indispensável que me dá a certeza de estar viva.



Espero a poesia voltar pra mim.



Ah, poeta vagabundo... Quanto tempo achas que conseguirás ficar calado?