16 de julho de 2010

Meu próprio Manifesto Antropofágico


E o que importa se meus versos são tristes?
Se deixo escapar por eles as dores de um peito confrangido
de espinhos e mágoas?
Que importa se eu carrego esse sentimento do mundo
Que não me deixa dormir ou sonhar
enquantro travo diálogos monologados
com meu eu escondido?

Que importa se sou consumida por essa doença interior
de melancolia andante
devorada lentamente por esses insetos famintos?
Abaporus que crio na fazenda do meu quintal.

Que importa se me devoro pouco a pouco
com a graça e o pudor de quem manja uma sobremesa
um tanto acre, um tanto doce
à qual falta um pouco de sal?

E levo a vida com o peso da mala atada às costas
onde carrego tudo que já pude sentir
tudo aquilo que me trouxe até aqui.

E daí que eu chore?
E daí que eu seja triste?
E daí que meus versos chorem?

Devoro a mim mesma
numa autofagia assassina de mim.
E o que importa se meus versos são tristes?

12 de julho de 2010

Rastro

Você, o ladrão que por anos planejou o crime perfeito. Não penses que estás sozinho, cá estou eu a mirar o teu meticuloso trabalho.
Jogou a frase como quem não quer nada, cuspida assim como que involuntariamente em meio à multidão, de uma forma que jamais se pudesse perceber quem a tivesse lançado ao ar.
O caos implatado - seu objetivo final - foi alcançado. Todos desesperados a procurar o vil causador da bálburdia incoltrolável. Não sei se mais aterrorizante era o dito ou o desespero de não se saber quem disse.
Mas enfim, o fato é que você saiu feliz com sua missão cumprida, acreditando nunca ser descoberto. Venho dizer-te que infelizmente seu plano perfeito não era tão perfeito assim, você saiu aparentemente incólume, impune, mas eu vi o rastro de piche que você deixou com seus sapatos melados. Posso te achar em qualquer lugar.

11 de julho de 2010

Um pouco mais de mim

E vieram me perguntar por que às vezes parece que escrevo tanto de mim, do que sinto ou do que penso.  Escrevo assim com minha forma de ver a vida, ao invés de adotar um pseudônimo qualquer, atribuir-lhe um pseudosentimento e uma pseudovida. Minha esposta foi simples: Por mais incrível que pareça, eu ainda é a matéria sobre a qual entendo mais.
O que faço é então menos arte.... Me acusaram. É mais fácil fazer auto-exposições. Isso não é literatura.
Que seja então, retruquei. Não estou buscando fama ao juntar as letras. Isso tudo é apenas um processo de exaustão. Meu cano de escape para evitar que meu eu exploda. E quem sou eu pra me livrar disso?
Se eu tiver a sorte de juntar dois versos e obter rima, tanto melhor, lucro com minha sobrevivência.

10 de julho de 2010

Medo. Do mar.

Medo. Medo do mar.
É fundo, profundo assim de não se acabar mais.
Tenho medo.
Não sei nadar. E por não saber, fico na beira a olhar as ondas que vão e vêm numa mesmice totalmente renovada a cada repetição.
Molho as pontas do pés na água gelada que só faz meu medo aumentar.
Mas fico ali na beira, hipnotizada, enfeitiçada, não consigo me afastar. Nem mergulhar.

Por vezes acho que vou me atirar dentro dele; ele que me atrai, me consome de angústia, volúpia e desejo.
Mas tenho medo.
Volto, sento na beira do cais e vejo outros que se aproximam, roubando das ondas os beijos que eu queria provar. E fico ressentida a mirá-lo dando-se assim, sem ressensimento por trair minha devoção imaculada.
Tenho medo.
Provo o salgado das suas águas e confundo com o acre das minhas lágrimas. Já não sei mais se choro gotas de mar ou se são respingos de mar a me molhar.
Fico com medo de perguntar.

Eu queria me entregar. E provar o gosto das marés. Queria tudo do mar. E entristeço por não poder, por temer. Queria tudo do mar, o profundo e o indecifrável do mar, cada onda a me cocegar, queria uma ressaca de mar.

Quero te navegar. Me toma, me envolve, me engole, me arremessa, me encobre e me leva pro fundo. Me afoga, me leva pra te desvendar. Num naufrágio premeditado e deliberado. Consentido, inevitável. Sei que não sei nadar.
Mas quero te provar.
Eu sei que tenho medo. Medo d'Amar.


"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."
(Carlos Drummond de Andrade)

8 de julho de 2010

Esconderijo

Silêncio.

Neste fim de mundo só escuto o ressoar
dos meus passos contra o chão
de mármore frio.

Fico aqui,
onde até a morte esqueceu como chegar
e permaneço vivo como castigo
por ter lhe fugido
até onde ela não me pode achar.

A morte me procura
quer me estragular
me matar lentamente
como a me punir por lhe enganar.

Mal suspeita ela
que morto já estou, embora vivo
que morri na justa hora
que se foi o que eu tinha sido.

4 de julho de 2010

O que devo a ele.

Porque eu nunca esqueci dele.
Porque ele é aquele tipo de pessoa que simplesmente não se consegue esquecer. Tem gente que tem a sorte de encontrar com uma dessas na vida, e eu tive. Sabendo então que essa impossibilidade existia, nem me esforcei em tentar. Tomei ciência, desde quando o senti, o toquei, vi aquele sorriso que ia me acompanhar pelo tempo da eternidade dos dias.
Era amor. Eu o amava talvez desde o primeiro dia, mesmo sem saber. E era um amor muito maior que apenas um amor de carne. Ia muito além de possuir, consumir e saber o que há por dentro. Tive a verdadeira noção do amor talvez pela primeira vez então, amor quando as diferenças imensas já não são mais capazes de separar. Era um amor diferente, desconhecido até então para ambos, amor como que nascido da segurança de se ter um ao outro, mesmo quando não se tinha ainda da forma desejada.
E hoje, que a forma desejada chegou, sou feliz por ele ter me pedido pra ficar.
Por ele ter acreditado, e me pedido pra ficar.
Porque a sua mão segurando a minha me deu força de continuar. E vê-lo continuar remando quando o barco afundava me fazia querer remar também.
Hoje consigo olhar pra frente e acreditar que a felicidade do mundo inteiro cabe numa tarde de conversa, numa ida ao cinema, num milkshake dividido.


Porque você não me deixou desistir, porque toda a felicidade que hoje me cabe devo a você, integralmente.
Obrigada pelo amor mais sincero e lindo que eu já fui capaz de sentir.
Obrigada por estarmos aqui.


A você, meu agradecimento, meu amor, meu sorriso e minha canção.
Cada um dos meus versos, até o fim.
Que não haja fim.